Ruína de uma das muitas Igrejas na Síria, destruídas pelos ataques promovidos pelo Isis, como também pelas guerras que assolam a região |
A Igreja Síria Católica, em siríaco (ܥܕܬܐ ܣܘܪܝܝܬܐ ܩܬܘܠܝܩܝܬܐ), também chamada Igreja Católica Siríaca, ou Patriarcado Católico Siríaco de Antioquia, é uma das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma. Isto significa, portanto, que a Igreja Síria Católica reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice, pai e líder de todos os católicos do orbe.
Há, atualmente, pouco mais de duzentos mil Católicos Siríacos em todo o mundo, dos quais uma grande parte encontra-se na Síria, no Líbano, no Iraque, na Turquia, em Israel, na Palestina e demais territórios do Oriente Médio e Próximo. Há também siríacos católicos espalhados por diversos países do mundo, tanto na Europa quanto nas Américas, sobretudo por fugirem das constantes perseguições aos cristãos em seus países de origem. Ainda assim, outros tantos Católicos identificam-se com os Siríacos Católicos por laços históricos ou por ligação que mantêm pelo Rito Siríaco Antioqueno: Maronitas, Siro-Malankares (Índia) além dos Siríacos Ortodoxos, que embora não estejam em plena comunhão com a Igreja Católica, possuem origem comum na Igreja de Antioquia. Mas afinal, quem são os Siríacos Católicos?
Há, atualmente, pouco mais de duzentos mil Católicos Siríacos em todo o mundo, dos quais uma grande parte encontra-se na Síria, no Líbano, no Iraque, na Turquia, em Israel, na Palestina e demais territórios do Oriente Médio e Próximo. Há também siríacos católicos espalhados por diversos países do mundo, tanto na Europa quanto nas Américas, sobretudo por fugirem das constantes perseguições aos cristãos em seus países de origem. Ainda assim, outros tantos Católicos identificam-se com os Siríacos Católicos por laços históricos ou por ligação que mantêm pelo Rito Siríaco Antioqueno: Maronitas, Siro-Malankares (Índia) além dos Siríacos Ortodoxos, que embora não estejam em plena comunhão com a Igreja Católica, possuem origem comum na Igreja de Antioquia. Mas afinal, quem são os Siríacos Católicos?
ORIGEM DA IGREJA SÍRIA CATÓLICA
Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma assim como a seu bispo, o Papa. Nessa Comunhão Católica, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. As 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos nos artigos anteriores), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano: o Papa.
Embora algumas parcelas tenham se apartado da Igreja já após o Concílio de Éfeso (no ano 431), podemos dizer que a Igreja mantinha-se, de certa forma, unida em um único e mesmo corpo até o Concílio de Calcedônia (em 451): Seus 5 grandes Patriarcados ainda permaneciam unidos numa mesma Comunhão de Fé-Doutrina e Hierarquia. Apenas em 451, quando se deu o Concílio de Calcedônia, é que ocorreu a separação de uma grande parcela da Igreja de Cristo: houve um grande número daqueles que não aceitaram as definições do Concílio, os então chamados "monofisitas". Estes, aos poucos conseguiram apossar-se do Patriarcado de Jerusalém (Teodosio em 452), de Alexandria (Timóteo Eluro em 457) e de Antioquia (Pedro Fulão em 470). O imperador Leão I (457 - 474) teve de intervir, depondo-os. A parcela da Igreja que neste artigo nos interessa é a parcela da Igreja do Patriarcado de Antioquia.
Dentro do Patriarcado de Antioquia, no pós Concílio (de Calcedônia), havia portanto dois grupos: aqueles que seguiram a Fé professada neste Concílio, os católicos, também chamados "calcedonianos"; e aqueles que a rejeitaram, posteriormente chamados "jacobitas" (devido ao nome de um dos principais bispos propagadores da fé anti-calcedoniana, Jacob Baradeu).
Com a intervenção do Imperador contra os que haviam se apossado do Patriarcado de Antioquia, depondo o Patriarca e clero monofisita (ou, numa análise teológica mais profunda, "miafisita"), estes subsistiram, conservando uma hierarquia que preservou a sucessão apostólica e que se manteve como uma Igreja "paralela" de Antioquia.
Como vimos anteriormente, a intervenção do Imperador acabou por restabelecer Patriarca e clero calcedonianos (católicos). Estes últimos, que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia, vistos pelos outros como "seguidores do Imperador" ou "partidários do Rei", foram apelidados - a princípio pejorativamente - "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "reais"). Havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também havia mantido a Fé Católica Calcedoniana, os quais apresentamos no primeiro de nossa série de artigos sobre as igrejas "sui juris": os Maronitas.
Como vimos anteriormente, a intervenção do Imperador acabou por restabelecer Patriarca e clero calcedonianos (católicos). Estes últimos, que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia, vistos pelos outros como "seguidores do Imperador" ou "partidários do Rei", foram apelidados - a princípio pejorativamente - "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "reais"). Havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também havia mantido a Fé Católica Calcedoniana, os quais apresentamos no primeiro de nossa série de artigos sobre as igrejas "sui juris": os Maronitas.
Sendo assim, portanto, passou a existir em Antioquia, três grupos de cristãos: dois entre aqueles que aceitaram dogmaticamente a Fé católica e ortodoxa professada no Concílio de Calcedônia, que podem ser divididos em Melquitas ("reais", por acatarem as ordens do rei) e Maronitas (por integrarem o povo dos filhos espirituais de São Maron) - ambos católicos - e aqueles que não aceitaram o Concílio de Calcedônia, passando a ser conhecidos como monofisitas (ou mais precisamente, miafisitas) e posteriormente, jacobitas.
MOMENTOS RELEVANTES NA FORMAÇÃO DA IGREJA SIRÍACA
Concílio de Calcedônia |
O primeiro momento decisivo foi a precipitação sociopolítica logo após o Concílio de Calcedônia, ocorrido em 451 d.C. Como já foi dito, a sociedade cristã do Oriente Médio dividiu-se fortemente entre aqueles que não aceitaram e os que aceitaram o Concílio: os primeiros, anti-calcedonianos, também chamados "miafisitas" ou "monofisitas", predominaram em diversas províncias, como a Armênia (dando origem à Igreja Apostólica Armênia) e Egito (dando origem à Igreja Copta Ortodoxa), além de, como estamos vendo, uma parte do Patriarcado de Antioquia. Desde então, passou a haver uma certa alternância entre os Patriarcas de Antioquia: as vezes ascendia ao trono um Patriarca Calcedoniano (católico), as vezes um Patriarca Anti-calcedoniano (miafisita).
Em 518 era então Patriarca Severo,
que era anti-calcedoniano (miafisita). Neste ano, o Imperador Bizantino Justino I, decidiu impor a Fé de Calcedônia (católica) de maneira uniforme, estendendo-a a todo o império. Sendo assim, o Patriarca foi deposto pelo imperador, sendo forçado a sair de Antioquia. No lugar de Severo, como novo Patriarca, foi entronizado pelo Imperador um Bispo calcedoniano: Paulo, "o Judeu". Este, portanto, manteve o Patriarcado de Antioquia em comunhão Católica. No entanto, o Patriarca Severo, que fugiu para o Egito (onde a igreja também havia se separado da comunhão Católica dando origem à Igreja Copta Ortodoxa), não estava só: alguns cristãos, tanto do clero quanto do povo, ainda o reconheciam como Patriarca de Antioquia.
A partir de 518, portanto, passou a existir dois grupos provenientes da Igreja de Antioquia dando continuidade à sucessão apostólica que tinham: o primeiro grupo, composto por aqueles que ainda reconheciam Severo como o Patriarca - apesar de sua deposição - e que rejeitavam o que fora definido pelo Concílio de Calcedônia (passaram a denominar-se como Igreja Ortodoxa Siríaca ou Igreja Sirian-Ortodoxa); já o segundo grupo, composto por aqueles que aceitaram o Concílio de Calcedônia, mantendo a Comunhão Católica com Roma, Constantinopla e o Imperador, através do Patriarca Paulo, "o Judeu". O Patriarcado de Antioquia permaneceu Católico, a partir de então chamado Melquita e a doutrina ortodoxa (conforme explanada pelo Papa São Leão Magno em seu "Tomus ad Flavianum", aceita e definida no Concílio de Calcedônia), portanto, permaneceu como a doutrina oficial da Igreja Católica e do Império.
Acontece que a "Igreja Ortodoxa Siríaca", mesmo proscrita, não deixou de existir: em 527 Justiniano ascendeu ao trono de Constantinopla como imperador, sucedendo a seu tio Justino. Sua esposa Teodora, coroada co-imperatriz, detinha grande poder, passando a exercer grande influência em seu reinado. E nessa ocasião, passou a ser verdadeira protetora dos não-calcedonianos, oferecendo inclusive abrigo a bispos não-calcedonianos em seu mosteiro de Constantinopla. Ali organizaram uma espécie de "resistência", com a ajuda da imperatriz, onde passaram a sagrar bispos não-calcedonianos para que viajassem à Síria e ao Oriente a fim de revitalizar a fé miafisita e difundi-la fazendo frente à Fé Católica oficial. Um dos bispos sagrados foi Jacob Baradeus, natural de Edessa, para onde retornou como missionário.
A ação deste bispo miafisita foi tão importante para a Igreja Siríaca Ortodoxa, que a partir de então, os cristãos siríacos ortodoxos (miafisitas) também passaram a ser chamados "cristãos jacobitas". Durante aproximadamente 37 anos o Bispo Jacob Baradeus pregou em diversas partes do oriente, sem nunca ter sido preso mesmo com toda a perseguição imperial. Conta-se que tal façanha lhe foi possível por andar sempre vestido em trapos, confundido muitas vezes com mendigo (o apelido Baradeus deriva de "baradai" que significa vestido de trapos).
Em seu ministério, chegou a ordenar por volta de 27 bispos, além de milhares de sacerdotes, que construíram centenas de igrejas não-calcedonianas, fazendo com que a Igreja Siríaca Ortodoxa crescesse no Oriente, mesmo não tendo aderido à Fé católica e ortodoxa de Calcedônia. Essa Igreja não contestava a legitimidade ou a jurisdição das Igrejas calcedonianas (católicas) mas, ainda assim, construíam seus templos e desenvolviam sua própria hierarquia como uma "Igreja Paralela".
Ainda no século VII, durante este período controverso que foi intensificado pelas invasões árabes, com o Patriarcado Católico (Melquita) por vezes sendo exercido apenas nominalmente por um Patriarca residente em Constantinopla, como vimos em artigo anterior, fez com que o clero e povo católico de Antioquia elegesse um Patriarca sem a anuência do Imperador, sendo assim estabelecido o Patriarcado Maronita de Antioquia. Pode-se dizer, portanto, que por volta do ano 800 o Patriarcado de Antioquia estava dividido em 2: o Melquita e o Maronita, ambos Católicos e legítimos sucessores. Mas, se considerarmos aqueles que estavam fora da Comunhão da Igreja, mas que também haviam mantido um Patriarcado de Antioquia com sucessão apostólica (os "jacobitas" Siríacos Ortodoxos), então tínhamos TRÊS. É pois, justamente sobre eles que continuaremos a nos deter.
Ao longo da história, alguns eventos permitiram que cristãos siríacos calcedonianos e não-calcedonianos mantivessem relações, as vezes tensas, as vezes de colaboração. Durante as cruzadas, alguns bispos siríacos ortodoxos favoreceram uma união com Roma, embora tal esforço tenha se concretizado apenas no decreto de união entre Ortodoxos Siríacos e Roma, assinado em 30 de setembro de 1444, no Concílio de Florença. Infelizmente, nem todos os Bispos Siríacos estavam satisfeitos com essa união, fazendo com que sua oposição, por fim, anulasse todos os efeitos do documento, pouco tempo depois. Vários séculos se passaram com a Igreja Siríaca Ortodoxa a continuar separada de Roma.
No entanto, missionários católicos - tanto orientais (siríacos Maronitas e Melquitas) quanto latinos (capuchinhos e depois jesuítas) em sua missão de evangelização de algumas regiões sírias (havia missionários inclusive em Alepo) acabaram por fazer com que surgisse dentre alguns fiéis siríacos ortodoxos um movimento pró-católico dentro da Igreja Siríaca Ortodoxa. Naqueles anos, vários fiéis acabaram por entrar em plena comunhão com a Igreja de Roma, formando assim a primeira comunidade Católica Síria. Estes, por sua vez, receberam ao Bispo Andrew Akijan, que havia sido consagrado pelo Patriarca Maronita Youhanna Bawab de Safra em 29 de junho de 1656, e o entronizaram como Bispo de Alepo, o que foi confirmado pelo Papa em 28 de janeiro de 1659. Seu episcopado, no entanto, sofreu grande oposição dos siríacos ortodoxos que não queriam a união com Roma, justamente pelo Bispo Akijan ser um ferrenho defensor e propagador dessa união, tendo conseguido incutir tal desejo em grande parte do povo e clero.
Em 1667, com a morte do Patriarca Ortodoxo Sírio, percebeu-se efetivamente a divisão que havia na comunidade síria-ortodoxa: havia aqueles que entendiam ser necessária a união com Roma e os contrário a ela. Por fim, o santo sínodo da Igreja Siríaca escolheu o católico Andrew Akijan, que então adotou o tradicional nome "Ignatius", como o novo Patriarca da Igreja Ortodoxa Siríaca, o que significaria a plena comunhão desta Igreja com Roma.
A ala contrária à plena comunhão com Roma manteve-se hostil ao novo Patriarca, acabando por eleger - 4 meses depois - seu próprio patriarca, Abdul Masih, no entanto tal procedimento não teve continuidade, uma vez que a escolha de Akijan fora confirmada e reconhecida, até mesmo pelo Sultão Mehmed IV (havia essa necessidade nas igrejas que encontravam-se sob domínio árabe, com exceção dos Maronitas). Ignatius Akijan pôde finalmente ser entronizado como Patriarca Siríaco de Antioquia, tendo sido reconhecido por Roma em 23 de abril de 1663. Foi Patriarca até sua morte, em 18 de julho de 1677.
Com a morte do Patriarca Akijan, novamente sentiu-se o embate entre aqueles que eram "pró-Roma" e os contrários a qualquer união. No entanto, o Santo Sínodo da Igreja Siríaca-Ortodoxa elegeu em 24 de julho de 1677 a Abdul Masih, que anos antes havia se oposto à eleição do Patriarca Akijan, mas que gozava da confiança tanto da ala "ortodoxa-siríaca" (contrária à união com Roma) quanto agora também da ala "católica-siríaca" (favorável à união com Roma, que era a linha do falecido patriarca). Abdul Masih mostrou à ala católica estar disposto a manter essa comunhão com Roma. No entanto, bastou que sua eleição fosse concretizada e que obtivesse o reconhecimento por parte do Sultão Otomano, para que o Patriarca Masih mostrasse sua real intenção de não manter a comunhão com Roma. Na verdade mostrou-se completamente contrário a essa posição.
A ala católica, isto é, favorável à manutenção da união com Roma, sentiu-se traída pelo então Patriarca e por isso, reuniu-se novamente em sínodo e elegeu o Arcebispo Siríaco de Jerusalém , Gregório Pedro Shahbaddin, que curiosamente era sobrinho do próprio Abdul Masih, como o novo Patriarca Siríaco de Antioquia e todo o Leste dos Sírios.
O Patriarca Shahbaddin obteve, com o auxílio do cônsul francês, a confirmação por parte do Sultão Otomano, como o Patriarca Siríaco de Antioquia. Mais tarde, em 12 de junho de 1679, também o Papa Inocêncio XI o confirmou na Sé Patriarcal, concedendo-lhe o Pallium nesta data. Os anos de seu patriarcado foram turbulentos, com muitos conflitos entre o lado "siríaco-ortodoxo" e o lado "siríaco-católico", o que fez com que o Patriarca Shahbaddin fosse "deposto" e reinstalado na sede por 5 vezes! Ignatius Shahbaddin chegou a viajar a Roma em 1696, em busca de apoio e também para angariar fundos, tendo se encontrado com o Papa Inocêncio XII e lá permanecido até 1700. Regressou com o apoio do imperador da Áustria e o Rei da França, sendo reinstalado como Patriarca em 1 de março de 1701, pela 5ª vez. Infelizmente havia uma oposição cada vez mais forte por parte do lado jacobita, que acabou encontrando respaldo por parte do parte das autoridades Otomanas. Em 27 de agosto de 1701, o Patriarca Shahbaddin, o Arcebispo de Alepo Dionísio Amin Kahn Risqallah e a maior parte do clero foram presos, espancados e encarcerados. Em 10 de novembro foram conduzidos pelo exército em marcha forçada ao castelo de Adana. O arcebispo Risqallah faleceu no mesmo dia em que chegou ao castelo, em 18 de novembro. Sua beatitude, o Patriarca Ignatius Gregório Pedro Shahbaddin VI Shahbaddin, ficou preso até o ano seguinte, quando em 04 de março de 1702, após beber um café oferecido pelo oficial do castelo, veio a falecer - ao que tudo indica - envenenado.
Quando da morte do Patriarca Católico, o governo Otomano apoiou o lado "anti-Roma" contra o lado católico, o que acabou resultando em perseguição aos mesmos durante o decorrer do século XVIII, chegando ao ponto de - em alguns momentos - quase não haver bispos siríacos católicos (unidos à Roma) atuando, forçando a comunidade católica siríaca a ficar totalmente escondida.
Algumas décadas depois, em 1782, o Santo Sínodo Ortodoxo Siríaco elegeu o metropolita Michael Jarwed, de Alepo, como Patriarca. Assim que foi oficialmente entronizado, ele se declarou católico e unido ao Papa de Roma. Após tal declaração, Jarweh refugiou-se no Líbano, onde construiu o mosteiro de Nossa Senhora em Sharfeh (ainda existente). Após tal ato, Ignatius Michael Jarwed foi, definitivamente, reconhecido como o Patriarca de Antioquia, inclusive por Roma. Os que não aceitaram sua decisão, por sua vez, elegeram outro patriarca para si. Tal episódio fez com que, a partir de então, a Igreja Siríaca de Antioquia ficasse definitivamente dividida entre os que não aceitaram a união com Roma (Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia) e os que se uniram a Roma (Igreja Síria Católica de Antioquia). Também ali iniciava-se uma sucessão ininterrupta de Patriarcas Siríacos Católicos. Voltava, portanto, outra parte da Igreja (jacobita) de Antioquia à plena comunhão com a Igreja de Roma, naquela que passou a ser chamada Igreja Síria Católica (ou Igreja Católica Siríaca). Tal Igreja não era nova: havia uma sucessão ininterrupta de Patriarcas e clérigos, desde o Apóstolo Pedro, até o Patriarca Jarwed. O que aconteceu, no entanto, é que até aquele momento, alternavam-se Patriarcas e grupos favoráveis ou contrários à plena comunhão enquanto que, a partir dali, a parte unida à Roma tornou-se independente da parte jacobita, tornando-se Igreja "sui juris" dentro da Igreja católica.
Em 1845, o governo Otomano concedeu o reconhecimento legal à Igreja Católica Siríaca. A residência patriarcal, que em 1831 havia sido transferida para Alepo, após o Massacre de Alepo em 1850, teve de ser transferida novamente, desta vez para Mardin, em 1854. Com seu reconhecimento oficial pelo governo Otomano, a Igreja Síria Católica se expandiu rapidamente, porém, tal expansão foi encerrada pelas perseguições e massacres que ocorreram durante o genocídio assírio da Primeira Guerra Mundial. Depois disso, a Sé Patriarcal foi transferida para Beirute, longe de Mardin, para a qual muitos cristãos haviam fugido do genocídio. Além da Sé Patriarcal em Beirute, o seminário patriarcal e a gráfica estão localizados no Mosteiro de Sharfeh, em Sharfeh (Líbano).
Devido à importância e grandeza de Santo Inácio de Antioquia, santo este que foi discípulo do evangelista São João, além de sucessor de São Pedro na Sé de Antioquia, os patriarcas siríacos têm a tradição de acrescentar o nome do santo (Ignatius) antes de seu próprio nome quando entronizados como patriarcas. Essa tradição se manteve com os patriarcas siríacos católicos, como podemos ver na sequência de patriarcas após a separação do patriarcado católico do patriarcado jacobita: Ignatius Michael III Jarweh, Ignatius Miguel IV Daher, Ignatius II Zora, Ignatius Pedro VII Jarweh, Ignatius Antonius I Samhiri, Ignatius Filipe I Arqous, Ignatius Jorge V Chelhot, Ignatius Behnan II Benni, Ignatius Ephrem II Rahmani, Ignatius Gabriel I Tappouni, Ignatius Antonius II Hayek, Ignatius Moisés I Daoud, Ignatius Pedro VIII Abdalahad e Ignatius Youssef III Younan, o atual Patriarca.
Eminentes Santos, eruditos, eremitas, mártires e pastores também são provenientes da tradição Siríaca. Mais recentemente, podemos citar Dionísio Bar Salibi (1171), Gregório X Bar Hebraeus (1286) e, ainda mais recentemente, o Bispo Mor Flavianus Michael Malke.
Atualmente, no entanto, há uma grande proximidade e espírito de comunhão fraterna entre o Patriarca Siríaco-Católico e o Patriarca Siríaco-Ortodoxo.
O atual Patriarca dos Sírio-Católicos de Antioquia e todo o leste dos Sírios, Sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan, preside a Eparquia Patriarcal de Beirute e lidera espiritualmente toda a Comunidade Católica Siríaca ao redor do mundo. A comunidade inclui:
- Duas Arquieparquias no Iraque.
- Quatro Arquieparquias na Síria.
- Uma Arquieparquia no Egito e Sudão.
- Um vicariato patriarcal em Israel.
- Um vicariato patriarcal na Turquia.
- A Eparquia de Nossa Senhora da Libertação, nos Estados Unidos.
- Exarcado Apostólico no Canadá.
- Exarcado Apostólico na Venezuela.
- Vicariato patriarcal para o Brasil.
Em 518 era então Patriarca Severo,
Severo de Antioquia, venerado como santo pelos siríacos ortodoxos |
A partir de 518, portanto, passou a existir dois grupos provenientes da Igreja de Antioquia dando continuidade à sucessão apostólica que tinham: o primeiro grupo, composto por aqueles que ainda reconheciam Severo como o Patriarca - apesar de sua deposição - e que rejeitavam o que fora definido pelo Concílio de Calcedônia (passaram a denominar-se como Igreja Ortodoxa Siríaca ou Igreja Sirian-Ortodoxa); já o segundo grupo, composto por aqueles que aceitaram o Concílio de Calcedônia, mantendo a Comunhão Católica com Roma, Constantinopla e o Imperador, através do Patriarca Paulo, "o Judeu". O Patriarcado de Antioquia permaneceu Católico, a partir de então chamado Melquita e a doutrina ortodoxa (conforme explanada pelo Papa São Leão Magno em seu "Tomus ad Flavianum", aceita e definida no Concílio de Calcedônia), portanto, permaneceu como a doutrina oficial da Igreja Católica e do Império.
Acontece que a "Igreja Ortodoxa Siríaca", mesmo proscrita, não deixou de existir: em 527 Justiniano ascendeu ao trono de Constantinopla como imperador, sucedendo a seu tio Justino. Sua esposa Teodora, coroada co-imperatriz, detinha grande poder, passando a exercer grande influência em seu reinado. E nessa ocasião, passou a ser verdadeira protetora dos não-calcedonianos, oferecendo inclusive abrigo a bispos não-calcedonianos em seu mosteiro de Constantinopla. Ali organizaram uma espécie de "resistência", com a ajuda da imperatriz, onde passaram a sagrar bispos não-calcedonianos para que viajassem à Síria e ao Oriente a fim de revitalizar a fé miafisita e difundi-la fazendo frente à Fé Católica oficial. Um dos bispos sagrados foi Jacob Baradeus, natural de Edessa, para onde retornou como missionário.
Yacoub Baradeus, também venerado como santo pelos siríacos ortodoxos, que também passaram a ser chamados "jacobitas" em sua homenagem |
A ação deste bispo miafisita foi tão importante para a Igreja Siríaca Ortodoxa, que a partir de então, os cristãos siríacos ortodoxos (miafisitas) também passaram a ser chamados "cristãos jacobitas". Durante aproximadamente 37 anos o Bispo Jacob Baradeus pregou em diversas partes do oriente, sem nunca ter sido preso mesmo com toda a perseguição imperial. Conta-se que tal façanha lhe foi possível por andar sempre vestido em trapos, confundido muitas vezes com mendigo (o apelido Baradeus deriva de "baradai" que significa vestido de trapos).
Em seu ministério, chegou a ordenar por volta de 27 bispos, além de milhares de sacerdotes, que construíram centenas de igrejas não-calcedonianas, fazendo com que a Igreja Siríaca Ortodoxa crescesse no Oriente, mesmo não tendo aderido à Fé católica e ortodoxa de Calcedônia. Essa Igreja não contestava a legitimidade ou a jurisdição das Igrejas calcedonianas (católicas) mas, ainda assim, construíam seus templos e desenvolviam sua própria hierarquia como uma "Igreja Paralela".
Ainda no século VII, durante este período controverso que foi intensificado pelas invasões árabes, com o Patriarcado Católico (Melquita) por vezes sendo exercido apenas nominalmente por um Patriarca residente em Constantinopla, como vimos em artigo anterior, fez com que o clero e povo católico de Antioquia elegesse um Patriarca sem a anuência do Imperador, sendo assim estabelecido o Patriarcado Maronita de Antioquia. Pode-se dizer, portanto, que por volta do ano 800 o Patriarcado de Antioquia estava dividido em 2: o Melquita e o Maronita, ambos Católicos e legítimos sucessores. Mas, se considerarmos aqueles que estavam fora da Comunhão da Igreja, mas que também haviam mantido um Patriarcado de Antioquia com sucessão apostólica (os "jacobitas" Siríacos Ortodoxos), então tínhamos TRÊS. É pois, justamente sobre eles que continuaremos a nos deter.
A CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA SIRÍACA CATÓLICA
Entrada de uma antiga Igreja Siríaca |
No entanto, missionários católicos - tanto orientais (siríacos Maronitas e Melquitas) quanto latinos (capuchinhos e depois jesuítas) em sua missão de evangelização de algumas regiões sírias (havia missionários inclusive em Alepo) acabaram por fazer com que surgisse dentre alguns fiéis siríacos ortodoxos um movimento pró-católico dentro da Igreja Siríaca Ortodoxa. Naqueles anos, vários fiéis acabaram por entrar em plena comunhão com a Igreja de Roma, formando assim a primeira comunidade Católica Síria. Estes, por sua vez, receberam ao Bispo Andrew Akijan, que havia sido consagrado pelo Patriarca Maronita Youhanna Bawab de Safra em 29 de junho de 1656, e o entronizaram como Bispo de Alepo, o que foi confirmado pelo Papa em 28 de janeiro de 1659. Seu episcopado, no entanto, sofreu grande oposição dos siríacos ortodoxos que não queriam a união com Roma, justamente pelo Bispo Akijan ser um ferrenho defensor e propagador dessa união, tendo conseguido incutir tal desejo em grande parte do povo e clero.
Em 1667, com a morte do Patriarca Ortodoxo Sírio, percebeu-se efetivamente a divisão que havia na comunidade síria-ortodoxa: havia aqueles que entendiam ser necessária a união com Roma e os contrário a ela. Por fim, o santo sínodo da Igreja Siríaca escolheu o católico Andrew Akijan, que então adotou o tradicional nome "Ignatius", como o novo Patriarca da Igreja Ortodoxa Siríaca, o que significaria a plena comunhão desta Igreja com Roma.
O Patriarca Ignatius Andrew Akijan |
A ala contrária à plena comunhão com Roma manteve-se hostil ao novo Patriarca, acabando por eleger - 4 meses depois - seu próprio patriarca, Abdul Masih, no entanto tal procedimento não teve continuidade, uma vez que a escolha de Akijan fora confirmada e reconhecida, até mesmo pelo Sultão Mehmed IV (havia essa necessidade nas igrejas que encontravam-se sob domínio árabe, com exceção dos Maronitas). Ignatius Akijan pôde finalmente ser entronizado como Patriarca Siríaco de Antioquia, tendo sido reconhecido por Roma em 23 de abril de 1663. Foi Patriarca até sua morte, em 18 de julho de 1677.
Com a morte do Patriarca Akijan, novamente sentiu-se o embate entre aqueles que eram "pró-Roma" e os contrários a qualquer união. No entanto, o Santo Sínodo da Igreja Siríaca-Ortodoxa elegeu em 24 de julho de 1677 a Abdul Masih, que anos antes havia se oposto à eleição do Patriarca Akijan, mas que gozava da confiança tanto da ala "ortodoxa-siríaca" (contrária à união com Roma) quanto agora também da ala "católica-siríaca" (favorável à união com Roma, que era a linha do falecido patriarca). Abdul Masih mostrou à ala católica estar disposto a manter essa comunhão com Roma. No entanto, bastou que sua eleição fosse concretizada e que obtivesse o reconhecimento por parte do Sultão Otomano, para que o Patriarca Masih mostrasse sua real intenção de não manter a comunhão com Roma. Na verdade mostrou-se completamente contrário a essa posição.
A ala católica, isto é, favorável à manutenção da união com Roma, sentiu-se traída pelo então Patriarca e por isso, reuniu-se novamente em sínodo e elegeu o Arcebispo Siríaco de Jerusalém , Gregório Pedro Shahbaddin, que curiosamente era sobrinho do próprio Abdul Masih, como o novo Patriarca Siríaco de Antioquia e todo o Leste dos Sírios.
O Patriarca Ignatius Gregório Pedro VI Shahbaddin |
O Patriarca Shahbaddin obteve, com o auxílio do cônsul francês, a confirmação por parte do Sultão Otomano, como o Patriarca Siríaco de Antioquia. Mais tarde, em 12 de junho de 1679, também o Papa Inocêncio XI o confirmou na Sé Patriarcal, concedendo-lhe o Pallium nesta data. Os anos de seu patriarcado foram turbulentos, com muitos conflitos entre o lado "siríaco-ortodoxo" e o lado "siríaco-católico", o que fez com que o Patriarca Shahbaddin fosse "deposto" e reinstalado na sede por 5 vezes! Ignatius Shahbaddin chegou a viajar a Roma em 1696, em busca de apoio e também para angariar fundos, tendo se encontrado com o Papa Inocêncio XII e lá permanecido até 1700. Regressou com o apoio do imperador da Áustria e o Rei da França, sendo reinstalado como Patriarca em 1 de março de 1701, pela 5ª vez. Infelizmente havia uma oposição cada vez mais forte por parte do lado jacobita, que acabou encontrando respaldo por parte do parte das autoridades Otomanas. Em 27 de agosto de 1701, o Patriarca Shahbaddin, o Arcebispo de Alepo Dionísio Amin Kahn Risqallah e a maior parte do clero foram presos, espancados e encarcerados. Em 10 de novembro foram conduzidos pelo exército em marcha forçada ao castelo de Adana. O arcebispo Risqallah faleceu no mesmo dia em que chegou ao castelo, em 18 de novembro. Sua beatitude, o Patriarca Ignatius Gregório Pedro Shahbaddin VI Shahbaddin, ficou preso até o ano seguinte, quando em 04 de março de 1702, após beber um café oferecido pelo oficial do castelo, veio a falecer - ao que tudo indica - envenenado.
Quando da morte do Patriarca Católico, o governo Otomano apoiou o lado "anti-Roma" contra o lado católico, o que acabou resultando em perseguição aos mesmos durante o decorrer do século XVIII, chegando ao ponto de - em alguns momentos - quase não haver bispos siríacos católicos (unidos à Roma) atuando, forçando a comunidade católica siríaca a ficar totalmente escondida.
O Patriarca Ignatius Michael III Jarwed, o primeiro Patriarca Siríaco Católico após a separação definitiva da ala católica da Igreja Siríaca |
Em 1845, o governo Otomano concedeu o reconhecimento legal à Igreja Católica Siríaca. A residência patriarcal, que em 1831 havia sido transferida para Alepo, após o Massacre de Alepo em 1850, teve de ser transferida novamente, desta vez para Mardin, em 1854. Com seu reconhecimento oficial pelo governo Otomano, a Igreja Síria Católica se expandiu rapidamente, porém, tal expansão foi encerrada pelas perseguições e massacres que ocorreram durante o genocídio assírio da Primeira Guerra Mundial. Depois disso, a Sé Patriarcal foi transferida para Beirute, longe de Mardin, para a qual muitos cristãos haviam fugido do genocídio. Além da Sé Patriarcal em Beirute, o seminário patriarcal e a gráfica estão localizados no Mosteiro de Sharfeh, em Sharfeh (Líbano).
O PATRIARCADO SÍRIO CATÓLICO ATÉ NOSSOS DIAS
Sua Beatitude Ignatius Youssef III Younam Atual Patriarca Siríaco Católico de Antioquia |
Eminentes Santos, eruditos, eremitas, mártires e pastores também são provenientes da tradição Siríaca. Mais recentemente, podemos citar Dionísio Bar Salibi (1171), Gregório X Bar Hebraeus (1286) e, ainda mais recentemente, o Bispo Mor Flavianus Michael Malke.
Atualmente, no entanto, há uma grande proximidade e espírito de comunhão fraterna entre o Patriarca Siríaco-Católico e o Patriarca Siríaco-Ortodoxo.
Ignatius Aphren II Karim, Patriarca Siríaco Ortodoxo de Antioquia e Ignatius Youssef III Younam, Patriarca Siríaco Católico de Antioquia |
Os dois Patriarcas de Antioquia estão juntos em diversas ocasiões |
ORGANIZAÇÃO DA IGREJA SÍRIO-CATÓLICA
Os hierarcas da Igreja Siríaca produziram uma variedade de escritos acadêmicos em diversos tópicos. Por exemplo, o Patriarca Ignatius Ephrem Rahmani foi amplamente elogiado por seu trabalho em siríaco, tendo sido reconhecido pelo Papa Bento XV como o responsável pelo reconhecimento de Santo Éfrem como Doutor da Igreja. Da mesma forma, o Patriarca Ignatius Behnam II Beni é conhecido como um grande expositor da Teologia Oriental na defesa do primado da Igreja de Roma.Catedral Siríaca Católica de Nossa Senhora da Assunção - Alepo - Síria |
O atual Patriarca dos Sírio-Católicos de Antioquia e todo o leste dos Sírios, Sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan, preside a Eparquia Patriarcal de Beirute e lidera espiritualmente toda a Comunidade Católica Siríaca ao redor do mundo. A comunidade inclui:
- Duas Arquieparquias no Iraque.
- Quatro Arquieparquias na Síria.
- Uma Arquieparquia no Egito e Sudão.
- Um vicariato patriarcal em Israel.
- Um vicariato patriarcal na Turquia.
- A Eparquia de Nossa Senhora da Libertação, nos Estados Unidos.
- Exarcado Apostólico no Canadá.
- Exarcado Apostólico na Venezuela.
- Vicariato patriarcal para o Brasil.
A LITURGIA SÍRIO-CATÓLICA
Sagração Episcopal de Mor Nizar Semaan na Igreja da Imaculada Conceição em Qaraqosh, Iraque, em junho de 2019 Igreja essa sob poder do Estado Islâmico até 2017, ainda não foi totalmente restaurada |
A Igreja Síria Católica utiliza o Rito Antioqueno, rito este enraizado na antiga tradição das igrejas de Jerusalém e Antioquia e que tem laços com a antiga Berakah judaica. É também chamado Rito Siríaco Ocidental.
A Igreja Católica Siríaca segue uma tradição semelhante a outras Igrejas Católicas Orientais que usam o Rito Antioqueno (Siríaco Ocidental), como a Igreja Maronita e a Igreja Siro-Malankar (da Índia), além, é claro, da Igreja cuja origem lhe é comum (a Igreja Sirian-Ortodoxa). Este Rito, como vimos, é claramente distinto do Rito Bizantino, que é o adotado pela Igreja Católica Greco-Melquita e sua contraparte (a Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia).
Os sacerdotes siríacos eram tradicionalmente vinculados ao celibato pelo Sínodo local de Sharfeh (1888), mas, atualmente, existem ambas as condições (celibatários e "casados padres").
O "Qurbono Qadisho" (Santa Missa ou Santo Sacrifício) é praticamente o mesmo celebrado nas igrejas de tradição Siríaca, com algumas nuances que lhe são próprias, por exemplo, o uso das "fãs" (flabelos, ripidia, ripidion ou hexaptérigos) que seriam um tipo de objeto litúrgico composto de uma espécie de vara com um disco metálico em sua extremidade. Tal disco é gravado com serafins em alto relevo e possui pequenos sinos ao seu redor (9 ao todo, representando a ordem dos serafins). Durante o sagrado Qurbono, geralmente celebrado pelo Bispo, estes flabelos são sacudidos por diácono ou acolitos em algumas ocasiões (no momento da Consagração, por exemplo) para simbolizar os Serafins que ali encontram-se a voar diante dos Divinos Mistérios que se celebram. Tal prática não é encontrada na celebração dos Maronitas, por exemplo, que também usam o Rito Siríaco Ocidental, ao passo que pode ser vista na celebração da Divina Liturgia Armênia, o que indica a influência deste Rito Antioqueno.
A história da Igreja Siríaca também é adornada com o sangue dos mártires de Cristo, algo que vêm desde tempos longínquos até nossos dias. Dois exemplos a ser mencionados são, primeiramente o do Bispo Siríaco Católico da Eparquia de Gazarta (atual Cizer), Mor Flavianus Michael Malke, que foi morto durante o genocídio perpetrado pelo Império Turco-Otomano contra os cristãos, conhecido como Genocídio Assírio ou Genocídio Armênio (Sírios e Armênios foram as maiores vítimas do massacre). O Bispo Flavianus Malke foi preso pelas autoridades otomanas em 28 de agosto de 1915, ao lado do Bispo Caldeu Philippe Jacques Abraham. Lhe foram dadas as opções de converter-se ao Islã e continuar vivo ou então, morrer pela fé em Cristo. O santo Bispo preferiu a segunda opção. Entregou sua alma ao Senhor, executado a tiros, em 29 de agosto de 1915, sendo beatificado em 2015.
A Igreja Católica Siríaca segue uma tradição semelhante a outras Igrejas Católicas Orientais que usam o Rito Antioqueno (Siríaco Ocidental), como a Igreja Maronita e a Igreja Siro-Malankar (da Índia), além, é claro, da Igreja cuja origem lhe é comum (a Igreja Sirian-Ortodoxa). Este Rito, como vimos, é claramente distinto do Rito Bizantino, que é o adotado pela Igreja Católica Greco-Melquita e sua contraparte (a Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia).
Os sacerdotes siríacos eram tradicionalmente vinculados ao celibato pelo Sínodo local de Sharfeh (1888), mas, atualmente, existem ambas as condições (celibatários e "casados padres").
Sua Beatitude o Patriarca Ignatius Youssef III Younan durante o Sagrado Qurbono, a Santa Missa |
O "Qurbono Qadisho" (Santa Missa ou Santo Sacrifício) é praticamente o mesmo celebrado nas igrejas de tradição Siríaca, com algumas nuances que lhe são próprias, por exemplo, o uso das "fãs" (flabelos, ripidia, ripidion ou hexaptérigos) que seriam um tipo de objeto litúrgico composto de uma espécie de vara com um disco metálico em sua extremidade. Tal disco é gravado com serafins em alto relevo e possui pequenos sinos ao seu redor (9 ao todo, representando a ordem dos serafins). Durante o sagrado Qurbono, geralmente celebrado pelo Bispo, estes flabelos são sacudidos por diácono ou acolitos em algumas ocasiões (no momento da Consagração, por exemplo) para simbolizar os Serafins que ali encontram-se a voar diante dos Divinos Mistérios que se celebram. Tal prática não é encontrada na celebração dos Maronitas, por exemplo, que também usam o Rito Siríaco Ocidental, ao passo que pode ser vista na celebração da Divina Liturgia Armênia, o que indica a influência deste Rito Antioqueno.
Sua Beatitude caminha enquanto "flabelos" o acompanham e são sacudidos |
IGREJA DE MÁRTIRES
O Bispo Mártir Siríaco Católico, Beato Flavianus Michael Malke |
Altar da Igreja Siríaca Católica destruído após atentado em 2010 |
O segundo exemplo ocorreu em 2010, no dia 31 de outubro, quando 58 siríacos católicos iraquianos foram mortos por extremistas muçulmanos enquanto assistiam à Missa de domingo. Outros 78 ficaram feridos. O ataque perpetrado pelo Estado Islâmico à Congregação da Igreja Siríaca Católica de Nossa Senhora da Libertação foi o ataque mais sangrento a uma igreja cristã iraquiana na história recente.
"O sangue dos mártires é semente de cristãos" |
Dois sacerdotes, os padres Saad Abdallah Tha'ir e Waseem Tabeeh, foram mortos. Outro padre, Qatin, ficou gravemente ferido, mas sobreviveu.
A IGREJA SIRÍACA CATÓLICA NO BRASIL
Os Siríacos Católicos passaram a se fazer presentes no Brasil juntamente com as ondas migratórias dos primeiros sírios e libaneses que aqui chegaram, já em meados de 1869. No entanto, devido ao fato de não terem se organizado em grandes comunidades por aqui, acabaram sendo absorvidos por outros ritos e comunidades católicas também provenientes do oriente (Maronitas e Melquitas).
Tal situação, no entanto, se deu de forma diferente em Belo Horizonte (MG): lá os siríacos católicos conseguiram se organizar em torno da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, localizada na Rua Carandaí, número 1010, no Bairro Funcionários (BH), a Igreja passou a ter como párocos sacerdotes siríacos e, desde então, passou a ser conhecida como a "Igreja dos Siríacos Católicos". Atualmente (já há alguns anos) o pároco é o Padre Siríaco Católico George Rateb Nasais, que também mantém uma casa de acolhimento aos seus irmãos siríacos católicos vindos da Síria, por conta das guerras e perseguições. Todos os domingos há Missa (em siríaco/aramaico) celebrada no Rito Antioqueno (Siríaco Ocidental). Há também um Vicariato Patriarcal para o Brasil.
Em 2016, Sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan esteve em visita apostólica ao Brasil. Na ocasião, o Patriarca visitou, além de - obviamente - a comunidade católica Siríaca de Belo Horizonte, também Brasília e São Paulo, onde concelebrou uma Santa Missa com o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, assim como também visitou o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Esperamos que com este simples artigo possamos, de alguma forma, contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.
Viva a Igreja Siríaca! Viva a Igreja Católica!
Tal situação, no entanto, se deu de forma diferente em Belo Horizonte (MG): lá os siríacos católicos conseguiram se organizar em torno da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, localizada na Rua Carandaí, número 1010, no Bairro Funcionários (BH), a Igreja passou a ter como párocos sacerdotes siríacos e, desde então, passou a ser conhecida como a "Igreja dos Siríacos Católicos". Atualmente (já há alguns anos) o pároco é o Padre Siríaco Católico George Rateb Nasais, que também mantém uma casa de acolhimento aos seus irmãos siríacos católicos vindos da Síria, por conta das guerras e perseguições. Todos os domingos há Missa (em siríaco/aramaico) celebrada no Rito Antioqueno (Siríaco Ocidental). Há também um Vicariato Patriarcal para o Brasil.
A Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Igreja dos Siríacos Católicos |
Em 2016, Sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan esteve em visita apostólica ao Brasil. Na ocasião, o Patriarca visitou, além de - obviamente - a comunidade católica Siríaca de Belo Horizonte, também Brasília e São Paulo, onde concelebrou uma Santa Missa com o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, assim como também visitou o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Sua Beatitude em visita a São Paulo, junto ao Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer |
Sua Beatitude visita o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida |
Sua Beatitude com o Papa João Paulo II |
Com o Papa Bento XVI |
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Esperamos que com este simples artigo possamos, de alguma forma, contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.
Viva a Igreja Siríaca! Viva a Igreja Católica!
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