quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Os Ritos da Igreja: 5 - O RITO BIZANTINO



O RITO BIZANTINO (também chamado Rito Grego ou Rito Constantinopolitano) é um dos tradicionais Ritos da Igreja. Proveniente da região de Bizâncio, posteriormente Constantinopla (hoje Istambul - Turquia), irradiou-se dali para regiões longínquas de todo o mundo, sendo o Rito mais utilizado para a celebração dos Sacramentos após o Rito Romano: além de ser o rito oficial das igrejas que compõem a chamada Igreja Ortodoxa, é também o Rito de 14 das 24 Igrejas Católicas "sui juris" que juntas formam A IGREJA CATÓLICAO nome do Rito (Bizantino) é devido ao seu desenvolvimento, que se deu em Bizâncio.

Bizâncio foi uma cidade fundada por colonos gregos da cidade de Mégara, por volta do ano 658 a.C. Estrategicamente localizada entre o "Corno de Ouro" e o "Mar de Mármara", no ponto em que a Europa encontra a Ásia, recebeu o nome de seu rei, Bizas (ou Bizante). Os romanos latinizaram o nome para Byzantium.

Reza a tradição que Bizâncio foi evangelizada pelo Apóstolo Santo André, irmão de São Pedro, e que a igreja ali teria sido por ele fundada. No dia 11 de maio de 330 o Imperador Constantino tornou a cidade de Bizâncio a Capital do Império Romano (do Oriente). Após sua morte, a cidade passou a ser chamada de Constantinopla, que significa "Cidade de Constantino", nome que carregou desde então até por volta do ano 1453, quando foi conquistada pelo Império Turco-Otomano.

O Rito Bizantino, embora proveniente da igreja de Bizâncio, é baseado nas práticas da Igreja primitiva, com adições que se deram no decorrer dos primeiros séculos em resposta às diversas controvérsias religiosas, assim como na elaboração das festas. Sua versão mais antiga encontra-se na Divina Liturgia de São Basílio, composta pelo metropolita de Cesareia, ainda no século IV. A Liturgia de São Basílio, por sua vez, é baseada na Divina Liturgia de São Tiago e nas Constituições Apostólicas que, como vimos têm suas origens em Jerusalém-Antioquia, assim como em costumes da Capadócia.


Dom Manuel Nin, Exarca Apostólico para a Igreja Católica Bizantina Grega


Atualmente, 14 são as igrejas "sui juris", - portanto Católicas - que têm o Rito Bizantino como Liturgia oficial. São elas:

A IGREJA GRECO-MELQUITA CATÓLICA.

A IGREJA CATÓLICA  BIZANTINA GREGA.

- A IGREJA CATÓLICA ÍTALO-ALBANESA.

- A IGREJA BIELORRUSSA CATÓLICA.

- A IGREJA UCRAÍNO-CATÓLICA (ou Igreja Greco-Católica Ucraniana).

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA RUSSA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA BÚLGARA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA ESLOVACA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA HÚNGARA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA ROMENA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA CROATA-SÉRVIA.

- A IGREJA CATÓLICA BIZANTINA RUTENA.

- A IGREJA GRECO-CATÓLICA ALBANESA.


- A IGREJA GRECO-CATÓLICA MACEDÔNICA.


A Divina Liturgia (Santa Missa) Bizantina possui três liturgias para a celebração eucarística: a de São Basílio; a de São João Crisóstomo, que é uma versão abreviada ou simplificada da de São Basílio (hoje em dia é a que se celebra ordinariamente); a de São Gregório Nazianzeno, que é antes um ofício de Comunhão solene, celebrada às quartas e sextas-feiras da Quaresma, utilizada para os dons pré-santificados. 

Características (e curiosidades) do Rito Bizantino

O sinal da cruz é feito dezenas de vezes (inclusive muito mais vezes que no Rito Romano Tradicional). Normalmente inclina-se reverentemente, quase que a tocar o chão com a mão e, em seguida, a eleva traçando o sinal da cruz da direita para a esquerda, ao contrário do Rito Romano).

A Missa é celebrada de costas para o fiéis, ou melhor dizendo, Versus Deum, tal qual o Rito Romano Tradicional e praticamente TODOS os Rito Tradicionais, Orientais ou Ocidentais (apenas o Rito Siríaco Antioquino celebrado pelos Maronitas que, após o Vaticano II, também passou a ser celebrado na maioria das vezes "de frente para o povo").


Bispos Católicos Ucranianos celebrando a Divina Liturgia
No Rito Bizantino, assim como em outros Ritos Orientais, o pão da Eucaristia - chamado Prósphora - é fermentado, ao contrário da hóstia sem fermento do Rito Romano (e alguns Ritos Orientais como o Armênio).

Existe um ritual para se repartir o pão em vários pedaços. Para cada pedaço se reza uma oração diferente.

É usada uma colher para dar a Sagrada Comunhão quando é administrada em duas espécies (o Pão-Corpo é mergulhado no Vinho-Sangue).   

Conforme a Tradição da Igreja, (com exceção do Rito Romano em sua versão moderna - Novus Ordo - onde há "ministro extraordinário da eucaristia") somente o sacerdote distribui a Comunhão.

Outra característica extremamente marcante do Rito Bizantino é sua riqueza visual-estética: Os templos bizantinos, em geral, são extremamente decorados em todos os seus aspectos. Ricamente adornados, trazem pinturas em quase todas as suas partes, normalmente ícones (o explicaremos em um artigo específico sobre este tipo de arte sacra cristã), além da Iconóstase, (espécie de parede ou divisória entre o presbitério e a assembléia - explicaremos em um artigo específico), elemento quase que indispensável em uma igreja de Rito Bizantino. Também as vestes e paramentos litúrgicos destacam-se por sua beleza e suntuosidade: por exemplo, a mitra do Bispo em formato de Coroa, os tecidos que compõem as vestes litúrgicas, etc., tudo isso faz menção tanto às origens do rito (Bizâncio-Constantinopla era a sede do Império Romano Oriental e posteriormente, do Império Bizantino) quanto - e principalmente - aos Santos Mistérios que se realizam na cerimônia litúrgica.  


O então Bispo da Eparquia Católica Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso, Dom Joseph Gebara,
celebrando a Divina Liturgia em sua Catedral de Nossa Senhora do Paraíso - São Paulo - Brasil

A Divina Liturgia Bizantina

A Divina Liturgia (Santa Missa) no Rito Bizantino que tentaremos explicar é a que é utilizada cotidianamente: A Divina Liturgia de São João Crisóstomo. 

A Missa de São João Crisóstomo divide-se em 3 partes:

- A preparação das oferendas ou da matéria do sacrifício;
- A Liturgia dos Catecúmenos ou Liturgia da Palavra;
- A Liturgia dos Fiéis ou Liturgia Eucarística;


SIMBOLISMO

As cerimônias da Missa são carregadas de simbolismo. A Igreja ordenou a Divina Liturgia de modo a nos recordar a pessoa do Salvador e os mistérios da sua vida sobre a terra. Quanto a seu simbolismo, a Missa divide-se em quatro partes:

A primeira vai da preparação até a procissão do Santo Evangelho: simboliza a vida oculta de Jesus.
A segunda vai da procissão do Evangelho até a procissão do Ofertório: simboliza a vida vida pública de Cristo.
A terceira vai da procissão do Ofertório até depois da Comunhão: simboliza a vida padecente de Cristo (paixão e morte).
A quarta parte vai de depois da comunhão até o fim da Missa: simboliza a vida gloriosa de Nosso Senhor.

Na Liturgia Bizantina o celebrante é considerado o guia, o introdutor dos fiéis ao banquete eucarístico e seu porta-voz na audiência com Deus; também como "o pastor que caminha diante do rebanho" para conduzi-lo às fontes da graça e da salvação; Também é o que age na pessoa de Cristo que renovará misticamente o seu sacrifício sobre o Altar, o Cristo que caminha adiante de seus discípulos quando subia a Jerusalém ao encontro de sua paixão. Por isso a não se adotou o uso de celebrar de frente para o povo (da mesma forma que o Rito Romano Tradicional, por exemplo). Ainda assim, por diversas vezes volta-se para a assembleia para desejar-lhe a paz e transmitir-lhe os ensinamentos e preceitos do Mestre. Também anda em meio dela, tal qual fazia o Senhor, por duas vezes: durante a procissão do Evangelho e durante a procissão do Ofertório.

Preparação das oferendas ou Matéria do Sacrifício

Esta primeira parte se faz secretamente, isto é, dentro do santuário (atrás da iconóstase) e sem a participação dos fiéis, simbolizando assim os 30 anos  de vida oculta que Nosso Senhor passou preparando-se para seu ministério público.


Após ter rezados as chamadas "orações da porta", porque se fazem diante da "porta santa", que dá acesso ao santuário, e dos ícones do Salvador e da Mãe de Deus, o sacerdote entra no santuário , paramenta-se, lava as mãos e se dirige para o pequeno altar situado à esquerda do altar-mor, chamado "altar da preparação". Nele já se encontram os objetos que servirão para o sacrifício. O sacerdote então realiza a preparação dos dons com os ritos e orações deste momento.

O sacerdote termina a preparação das oferendas e começa a Missa dos Catecúmenos, incensando os os dois altares, os ícones, a igreja e os fiéis. Esta é a primeira grande incensação.

Liturgia dos Catecúmenos ou Liturgia da Palavra.


Esta parte compreende uma longa oração dialogada chamada Grande Súplica. Cantos de Salmos, o "Kirie Eleison", as antífonas e a pequena entrada ou procissão com o livro dos Santos Evangelhos. Hinos próprios do dia (tropário), o hino do Triságion (Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal...), a Epístola e o Aleluia. O diácono (ou o sacerdote) anuncia a presença do Verbo de Deus, sabedoria infinita e eterna, representado pelo Evangelho, clamando "A Sabedoria!", e convida os fiéisa ficarem de pé por respeito. Após o Evangelho, a homilia e por fim o ectení ou súplica insistente. A oração pelos catecúmenos e a despedida dos mesmos.

Até a procissão com o Evangelho, esta parte continua simbolizando a vida oculta de Jesus, Da procissão do Santo Evangelho até a procissão do Ofertório, recorda-se a vida pública de Jesus até sua paixão.

Liturgia dos Fiéis ou Liturgia Eucarística


A Liturgia dos Fiéis compreende o Ofertório, a Anáfora ou Cânon e a Comunhão. Inicia-se pela oração pelos Fiéis, o Canto dos Querubins, a Procissão da Grande Entrada, a Segunda oferenda do Pão e Vinho no altar, ósculo da Paz e o Credo.


Anáfora ou Cânon

Por fim, o diálogo de introdução, Oração Eucarística (Prefácio), o Santo, a Narração da última Ceia e Consagração. O Pai-nosso, a Anamnese, a Terceira Oferenda, a Epiclese (a invocação do Espírito Santo obre as espécies), as comemorações e a Conclusão: Doxologia e Bênção.

Uma explicação mais detalhada de alguns atos simbólicos: Após a inclinação, o sacerdote conclama os fiéis a "ficarem atentos" para que ouçam e vejam algo importante que está para acontecer. Logo então cumpre os atos manuais simbólicos, que seriam:elevação, fração e mistura dos dons sagrados, feitos pelo celebrante para manifestar de modo mais expressivo a imolação de Cristo e a unidade do sacrifício.

Na elevação, o celebrante, segurando com dois dedos da mão direita o "Cordeiro", isto é, a hóstia grande, eleva-a em cima da patena, bem à vista do povo, fazendo com ela uma cruz vertical e dizendo em voz alta: "As coisas santas aos Santos". A Assembléia, impressionada por estas palavras, clama: "Um só Santo, um só Senhor, Jesus Cristo, para a glória do Pai, Amém".

Fração: Em seguida, o sacerdote parte o Cordeiro em quatro partes, segundo os cortes preparados já na prótese, dizendo secretamente: É partido e fracionado o Cordeiro de Deus, que é partido sem ser dividido, que é sempre comido e nunca consumido, mas santifica os que o recebem".

Comunhão: Durante os atos manuais simbólicos e a comunhão do celebrante, o coro executa o "Quinonicon" (ou canto de Comunhão), que é tirado da Sagrada Escritura e que varia de acordo com os dias da semana e as grandes festas.

O celebrante (em todos os Ritos) sempre é o primeiro a comungar. A fórmula que ele recita ao receber o Corpo e o Sangue do Senhor é bastante significativa: " O precioso e santo Corpo (ou Sangue) de Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo é dado a mim, (nome do celebrante), sacerdote, para a remissão dos pecados e para a vida eterna". Procede-se então à Comunhão dos fiéis, que é ministrada pelo sacerdote. Ele então a distribui a cada fiel, diretamente na boca, normalmente utilizando uma espécie de colher de ouro com a qual pega a partícula consagrada embebida no vinho-Sangue (as partículas consagradas foram colocadas dentro do cálice para misturar-se ao Sangue) e a deposita na boca do fiel.

Terminada a Comunhão dos fiéis, o celebrante dá-lhes a bênção, dizendo: "Ó Deus, salvai o vosso povo e abençoai a vossa herança". A resposta da Assembléia é uma verdadeira profissão de Fé cheia de alegria: "Vimos a verdadeira Luz, recebemos o Espírito Celeste, encontramos a fé verdadeira, adorando a Trindade indivisível, porque ela nos salvou". Enquanto isso, o sacerdote no altar, rende uma última homenagem de adoração às Santa Espécies, retorna à Porta Santa levantando o cálice e a patena e diz: "Bendito seja o nosso Deus a todo o momento". E leva-os para o altar da preparação para que sejam consumidas as Hóstias que sobraram e que haja a purificação dos vasos sagrados. Por fim, dá a bênção à Assembléia.

Abaixo, o Papa São João XXIII celebra a Divina Liturgia e também a Sagração Episcopal - ambos em Rito Bizantino - do Bispo Melquita Gabriel Acácius Coussa em São Pedro - Roma.











Para concluir, abaixo compartilhamos um vídeo onde podemos ver alguns momentos da Divina Liturgia em Rito Bizantino, com ordenação sacerdotal, celebrada por sua Excelência Dom Manuel Nin, Exarca Apostólico dos Católicos Bizantinos Gregos:




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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Bizantino.

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Um comentário:

  1. Olá, bom dia! Salve Maria imaculada. Gostaria de tirar uma dúvida ser for possível. Pode um católico de rito latino (romano) passar para um rito oriental (bizantino)? Pergunto pois estou encantado com a beleza e profundidade dos ritos orientais. Sou seminarista e queria tirar essa dúvida, mas nada encontro sobre esse assunto na internet. Obrigado pela atenção! Paz de Cristo.

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