domingo, 28 de julho de 2019

Os Ritos da Igreja: 4 - O RITO CALDEU



O RITO CALDEU (também chamado Siríaco Oriental) é um dos tradicionais Ritos da Igreja. Sua origem e difusão se deu a partir de Edessa, na Mesopotâmia, região onde anteriormente havia o Império da Babilônia. A igreja ali fora fundada, segundo a tradição, pelo Apóstolo São Tomé e por seus discípulos Addai e Mari, que evangelizaram as comunidades judaicas que existiam no império Persa desde os tempos bíblicos do exílio.

A origem do Rito Caldeu está, provavelmente, na liturgia de Jerusalém-Antioquia (Liturgia de São Tiago), origem comum também do Rito Siríaco  Antioquino (como vimos aqui). Tem este nome devido aos cristãos da região onde se desenvolveu: eram eles descendentes dos antigos babilônios, que por sua vez descendiam da nação Caldéia, antiga nação semítica que foi absorvida pelo Império Babilônico.




Os caldeus (embora nesse período não fossem chamados assim) depois se estenderam para outras áreas da Ásia e para a Índia, levando também seu Rito, que é conhecido também como "O Rito do Leste da Síria". Encontrado principalmente no Iraque, Irã e Síria, é também  original dos "cristãos de São Tomé" (Malabares) na Índia. Segundo o especialista Juan Nadal Cañellas, trata-se de uma das liturgias mais arcaicas da cristandade, com um "forte sabor hebraico", que é observado na forma da assembléia litúrgica, parecida à de uma sinagoga. Em comparação com outros ritos orientais, o Rito Caldeu é mais simples na forma, faltando - por exemplo - um detalhado lecionário de versículos escriturísticos.

Os textos litúrgicos foram retocados diversas vezes até o século XVIII. Tanto entre os Católicos Caldeus quanto entre os Siro-Malabares (Índia) houve, com o passar dos séculos, uma certa "latinização" do Rito: com os primeiros, tal processo iniciou-se desde os tempos do estabelecimento do Patriarcado, ao passo que com os segundos, pelo contato com os missionários portugueses a partir de 1599. No entanto, em 1934 o Papa Pio XI ordenou que fosse iniciado um processo de reforma litúrgica que eliminasse as latinizações na liturgia, resgatando assim a pureza do Rito Caldeu em sua essência. Em 1957 o Papa Pio XII aprovou o ritual Siro-Malabar, a versão siríaca-oriental dos Católicos da Índia (Siro-Malabares).


Atualmente, 2 são as igrejas "sui juris", - portanto Católicas - que mantêm uma Liturgia fundamentada no Rito Caldeu (Siríaco Oriental). São elas:

A IGREJA CALDEIA CATÓLICA (também chamada Igreja Católica Caldeia ou Caldaica), que utiliza o Rito Caldeu conforme aqui apresentado, em língua Siríaca (Aramaico) e Árabe.




A IGREJA CATÓLICA SIRO-MALABAR: Também utiliza o Rito Caldeu, mais frequentemente chamado por eles de Rito Siríaco Oriental ou Rito Siro-Malabar. Possui algumas pequenas variações, principalmente a língua litúrgica: enquanto a Igreja Caldeia Católica utiliza a língua siríaca (e árabe), na Igreja Católica Siro-Malabar utiliza-se além da Língua Siríaca, cada vez mais a Língua Malaiala que é a língua do estado de Kerala, no sul da Índia.




A Divina Liturgia Caldeia



A Divina Liturgia (Santa Missa) Caldeia é quase toda cantada, muitas vezes acompanhada por címbalos e triângulos. O idioma litúrgico oficial, como vimos, é o siríaco (aramaico), mas como os fiéis falam árabe, a celebração da Santa Missa é bilíngue (siríaco-aramaico e árabe), com exceção da Igreja Siro-Malabar que intercala o siríaco com o malaiala.

Na celebração da Missa são proclamadas quatro catequeses. O acesso ao altar é acompanhado por uma longa cerimônia. O Ofício consta de somente três horas. O Ano Litúrgico é dividido em período de sete semanas cada um e as festas em honra aos santos são em número limitado.

"Raze" (Mistérios) é o termo com o qual se designa a Eucaristia e faz referência aos mistérios do Corpo e Sangue de Cristo que os fiéis recebem para sua santificação.

Vejamos de forma esquemática a celebração Eucarística:

I. LITURGIA DOS MISTÉRIOS

1 - Início, "Marmitha" (Salmos 14, 150 e 116 cantados alternativamente), Antífonas, Hino "Lakhu Mara" (A ti, Senhor de todas as coisas...), Triságio (Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós) e Oração do Triságio (Oh, Deus Santo, glorioso, forte e imortal, que habitas no santo, onde descansa tua vontade...).

2 - Leituras: Duas do Antigo Testamento (Lei e Profetas), Epístola (Apóstolos) e Evangelho.

3 - "Karuzutha" (Litania), despedida dos catecúmenos (Oh Senhor, Deus Forte, te pedimos que aperfeiçoe em nós tua graça e derrames...) e, em seguida, preparação das ofertas sobre o altar.




II - LITURGIA DOS MISTÉRIOS NO SANTUÁRIO

1 - Credo e "Karuzutha".

2 - Quddasva (Anáfora; literalmente Santificação):

2a. Rito da Paz, Karuzutha, Prefácio (o reza profundamente inclinado) e Santo.

2b. Oração e Palavras da Instituição. Depois da consagração, o celebrante adora o Corpo do Senhor e diz: "Como se nos disse, estamos unidos teus humildes, débeis e míseros servos; porque Tu nos deste uma grande graça ao encher aos homens de tua vida divina e ao tirar nossa debilidade. Tu expiastes os nossos pecados e nos levantastes outra vez da morte. Tu perdoastes nossas culpas, das quais nos justificastes; Tu iluminastes nossa ciência, desterrastes a nosso inimigo, divino Senhor; Assim outorgastes a vitória a nossas debilidades pela preponderante misericórdia de tua graça.

2c. Oração e Epiclese (põe as mãos, uma sobre a outra, sobre as oferendas).

3 - Rito da Assinalação (sphragís) e Fração do Pão.

3a. "Karuzutha" e Pai-Nosso.
3b. Profissão de Fé.
3c. Comunhão e Ação de Graças.

4 - Benção final e despedida.


Rito Caldeu em Igreja Siro-Malabar

Mais algumas "curiosidades" sobre a celebração no Rito Caldeu:

- Paramentos: o Sacerdote usa capa em lugar da casula; e os subdiáconos levam a estola ao redor do pescoço, com uma extremidade caindo para a frente e a outra para trás, ambas através do ombro esquerdo.

- O sacerdote realiza mais de 30 atos de humildade e contrição ante a imponente majestade de Deus; na Anáfora, por exemplo, se inclina perante o altar e coloca as mãos sobre ele com as palmas para cima; após a Epiclese, que tem lugar depois da Anáfora, se inclina para beijar o altar e as mãos se cruzam sobre seu peito.

- Há aproximadamente 18 genuflexões.

- Numerosas são as vezes em que se beija o altar (em uma ocasião o centro e cada um de seus ângulos) e também em que se faz o sinal da cruz, seja sobre o povo, as oferendas ou o altar.

- As oferendas, uma vez colocadas sobre o altar, são cobertas com um véu.

- Gesto de Paz: o sacerdote põe suas mãos entre as mãos de quem estiver mais próximo a ele; este, por sua vez, faz o mesmo ao seguinte, e assim passa o gesto a todo o povo, de maneira que a Paz do Senhor seja passada do celebrante para todos até chegar ao último fiel presente.

- No "Eis o Cordeiro de Deus" coloca a Hóstia sobre o cálice, retira-se para o lado e, com sua mão direita no peito, em sinal de contrição, assim o mostra ao povo.


Abaixo, um vídeo onde podemos ver alguns momentos da Divina Liturgia em Rito Caldeu celebrada por sua Beatitude Cardeal Louis Raphaël I Sako, Patriarca de Babilônia dos Caldeus Católicos:




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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Caldeu.

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sábado, 20 de julho de 2019

Os Ritos da Igreja: 3 - O RITO COPTA (ou Alexandrino)

O RITO COPTA celebrado pelo Patriarca Copta Católico Ibrahim Isaac Sidrak na Catedral Copta Católica de Alexandria


O RITO COPTA (ou Alexandrino) é um dos chamados Ritos Apostólicos da Igreja, tendo sua origem e difusão a partir da antiga Sé Patriarcal de Alexandria, cujo fundador e primeiro Bispo - segundo a tradição - teria sido São Marcos, autor de um dos 4 Evangelhos.

Alexandria, localizada no litoral do Egito, é uma cidade milenar e de suma importância para o oriente, tendo permanecido como capital do Egito por mais de 1000 anos. Foi fundada por Alexandre, o Grande, após ter vencido o Rei Persa Dário III - que até então dominava o Egito - em 332 a.C. Os egípcios, oprimidos sob o domínio persa, aceitaram Alexandre e o aclamaram como "libertador". No ano seguinte à conquista de Alexandre, em 331 foi fundada sobre um antigo povoado de pescadores, recebendo o nome Alexandria em homenagem ao "libertador do Egito".

A cidade cresceu e se desenvolveu, sobretudo, devido à importância que adquiriu, assim como pela localização privilegiada, abrigando em seu território o grande porto que passou a ser ponto de encontro entre o Oriente, Europa, África e Ásia. Centro de cultura, abrigava várias colônias gregas (os gregos não eram considerados estrangeiros), portanto, combinava à cultura egípcia outras diversas influências culturais, sobretudo da cultura helênica.


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O Evangelista São Marcos prega em Alexandria

Acredita-se que o Evangelista São Marcos tenha sido o grande responsável pela introdução da Fé Cristã em Alexandria, organizando a igreja dessa grande metrópole, entre os anos 43 e 68. Sendo assim, a Sé de Alexandria teve a São Marcos Evangelista como seu patriarca e primeiro bispo, o que se deu até seu martírio nessa cidade em 25 de abril de 68.

A base ou estrutura central do Rito Alexandrino fundamentar-se-ia na Liturgia celebrada pelo próprio Evangelista quando esteve à frente da Sé de Alexandria. Seu desenvolvimento subsequente contaria com elementos das liturgias de São Basílio, São Cirilo de Alexandria e São Gregório Nazianzeno. A Cerimônia de São Cirilo, inclusive, é entendida como uma tradução copta da liturgia de São Marcos, que era em grego.


O RITO COPTA

O Rito de Alexandria também é chamado Copta. Mas afinal, o que isso significa?  A palavra COPTA refere-se, antes de mais nada, aos egípcios. Em seu sentido original, os coptas seriam os descendentes dos antigos habitantes do Egito faraônico. Este termo se consolidou, sobretudo, com o período em que os egípcios utilizavam a língua copta como língua própria, o que faz muito sentido, afinal, a língua COPTA é o resultado de um longo desenvolvimento do idioma egípcio clássico. Pertence à família das línguas afro-asiáticos, conjunto de muitas línguas que se estendiam desde a região norte da África, passando pelas áreas desérticas, do Oriente e sudoeste da Ásia.

Com o passar do tempo, por volta do século III, o termo copta passou aos poucos a deixar de significar "egípcio" para significar, mais especificamente, "cristão egípcio". Esse significado tornou-se definitivo com a invasão árabe e sua conquista do Egito, no século VII. Com a chegada e imposição da nova religião islâmica, o termo copta passou, definitivamente, a referir-se aos egípcios cristãos.


Atualmente, 3 são as igrejas "sui juris", - portanto Católicas - que mantêm uma Liturgia fundamentada no Rito Copta Alexandrino. São elas:

A IGREJA COPTA CATÓLICA, que utiliza o Rito Copta conforme aqui apresentado.

A IGREJA CATÓLICA ETÍOPE: Utiliza o Rito Copta, embora com alguma pequenas variações, tais como algumas orações inseridas posteriormente e, sobretudo, pela língua litúrgica: enquanto a Igreja Copta Católica utiliza-se a língua copta, na Igreja Católica Etíope utiliza-se a Língua Ge'ez, uma língua própria da região da Etiópia, Eritreia e "chifre da África" e que caiu em desuso há vários séculos. A Igreja Católica Etíope a mantém como língua litúrgica.

A IGREJA CATÓLICA ERITREIA, que também utiliza o Rito Copta conforme a Igreja Católica Etíope (com pequenas variações e em língua Ge'ez).





A Divina Liturgia Copta




A Divina Liturgia (Santa Missa) Copta possui três modos diferentes, atribuídos em sua composição aos diferentes Santos que os compuseram:


  • A primeira é a chamada Liturgia de São Cirilo de Alexandria, e é a genuína do Rito Copta. É a mais antiga, em realidade, uma tradução ao copta feita por São Cirilo da Liturgia de São Marcos Evangelista, que estaria em grego. Executa-se somente uma vez ao ano, na sexta-feira que antecede ao Domingo de Ramos.
  • A segunda é a chamada Liturgia de São Gregório Nazianzeno; tem um caráter tipicamente Siro-Antioqueno e é uma tradução do grego. É celebrada 3 vezes ao ano: No Natal, na Epifania e na Páscoa.
  • A terceira é a modalidade de Missa que leva o nome de São Basílio; trata-se de um rito mais abreviado da Missa com exatamente o mesmo nome que o dos bizantinos, se bem que não tão solene e cerimonioso. Celebra-se ordinariamente, com exceção das Festas Litúrgicas mencionadas. 


Costuma ser antecedida pela recitação do Ofício Divino; terminado este, o sacerdote entra no "santuário", espaço que para os latinos equivale ao presbitério; já revestido com os paramentos sagrados, começa as orações de preparação e faz o sinal da cruz sobre os 3 pães que deverão servir para o Sacrifício (um dentre os três será o escolhido). Escolhe um, destinado para a Consagração, o beija e o põe sobre um pedaço de seda. Lava as mãos, incensa o altar e recita a oração sobre o pão. Em seguida, despeja no cálice o vinho com um pouco de água; o pão e o vinho são cobertos com um véu próprio, enquanto as ofertas são cobertas com um véu geral.



Após uma breve oração, o sacerdote sai do presbitério, se ajoelha diante dos fiéis e faz sua confissão, algo como o "Confiteor" do Rito Romano. Após isso retorna ao altar e incensa as ofertas. Prossegue a cerimônia com a leitura da Epístola, realizada por um clérigo inferior (diácono ou leitor), primeiro em copta e depois em árabe (em igrejas na diáspora é feita na língua vernácula, por exemplo, nos EUA, após a leitura em copta, é feita em inglês). Depois há a leitura do martirológio, o triságio ("Ó Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós"), o Pai-Nosso e o Evangelho. Este é cantado, no ambão, pelo próprio Sacerdote em copta e árabe (ou vernácula, conforme exemplo da Epístola);

Durante a execução do que foi descrito, o diácono incensa o Santo Evangelho, enquanto os fiéis escutam sua proclamação em pé, com a cabeça levemente inclinada em sinal de respeito à Palavra de Deus; Ao concluir sua proclamação, o sacerdote o beija e se dirige ao altar. Segue-se uma longa oração pela Igreja, depois a recitação do Credo e um terceiro "lavabo" (o sacerdote novamente purifica as mãos).


O Patriarca Copta Católico Ibrahim Isaac Sidrak incensa o Altar em preparação para o Santo Sacrifício

São retirados os véus da oferta e é dado início à recitação da Anáfora da Missa (o "Canon" para os latinos), com uma característica bem particular: tem 2 epicleses (invocação do Espírito Santo sobre as ofertas): uma antes e outra após a Consagração. As palavras da Consagração são pronunciadas sempre em voz alta e, após a segunda epiclese, o povo proclama sua fé no mistério eucarístico com uma oração.


A Divina Liturgia Copta sendo celebrada numa Catedral Latina (de Rito Romano)
Belo sinal que nos recorda a Catolicidade da Igreja

O sacerdote então percorre a Igreja com a Ostia em mãos, detendo-se diante dos enfermos (caso haja) e rogando por sua recuperação. Voltando ao altar, divide o Pão em 2 partes; De uma delas separa um pedaço, que eleva diante dos fiéis enquanto diz em grego "O Santo para os santos" ; Então, o deixa cair dentro do cálice;

Primeiro sacerdote e diácono e em seguida fiéis, comungam sob as duas espécies. Ao retornar ao altar, o sacerdote purifica os vasos sagrados e em seguida dá a saudação de despedida. Ao terminar, distribui o pão bento aos fiéis para que possam levá-lo para casa. No caso, tratam-se dos 2 pães que ficaram sem consagrar, mas que mesmo assim foram dedicados a Deus no início do Santo Sacrifício. 

Em algumas ocasiões, costuma-se usar uma espécie de colher para
distribuir o Sangue de Cristo na Comunhão. O Pão do Sacrifício deve ser preparado com extremo cuidado e dia mesmo em que se celebrará o Sacrifício. Chama-se Corban, é fermentado e de uma espessura de pouco mais de um dedo, aproximadamente. Em sua parte superior, são feitas treze cruzes em alto-relevo, para representar - a do centro - Nosso Senhor Jesus Cristo - e as demais - os doze Apóstolos. O sacerdote costuma tomar para si a parte central, enquanto as demais são distribuídas entre os fiéis. 


Abaixo, um vídeo onde podemos ver a procissão de entrada do sacerdote. Como pode ser observado, uma outra característica própria da Liturgia Copta é que os hinos cantados durante a Divina Liturgia são sempre acompanhados de um "timbrar" de pequenos pratos metálicos (não sei ao certo como se chamam), o que confere um certo ritmo às canções sagradas, no entanto, sem lhe retirar a sacralidade. O vídeo é amador, mas mesmo assim serve para nos dar uma ideia da atmosfera sagrada que é propiciada pelo Rito Copta.



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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Copta.

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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Os Ritos da Igreja: 2 - O RITO ANTIOQUINO (ou Antioqueno)



O RITO ANTIOQUINO (ou Antioqueno), também chamado Rito Siríaco ou mesmo Rito de Jerusalém, é um dos chamados Ritos Apostólicos da Igreja, tendo sua base na antiga Sé Patriarcal de Antioquia (cujo primeiro Bispo foi São Pedro, chefe dos Apóstolos).

Antioquia, chamada de "Rainha do Oriente", foi onde os seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo receberam o nome "cristãos", conforme nos relatam as Escrituras:

"[...] em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos" (Atos dos Apóstolos, cap. 11, vers. 26)

Nessa cidade, uma das sedes dos quatro antigos Patriarcados originais (Antioquia, Roma, Alexandria e Jerusalém) foi onde desenvolveu-se o Rito Antioquino, rito esse que está na origem do Rito Bizantino, que por sua vez originou também o Rito Armênio e, ao que parece, também é a fonte do antigo Rito Galicano, utilizado no Ocidente antes da expansão do Rito Romano.

O Rito Antioquino é  muitas vezes apresentado, desde os primórdios da Igreja, como tendo sido elaborado pelo próprio Apóstolo São Tiago ("irmão do Senhor"), que fora o primeiro Bispo de Jerusalém. Por este motivo, também é apresentado como "Rito de São Tiago", "Divina Liturgia de São Tiago" ou "Rito de Jerusalém".

O fato é que tal rito tem sua estrutura quase que idêntica àquilo que encontramos nas chamadas "Constituições Apostólicas", um conjunto de 8 tratados sobre a disciplina da Igreja Primitiva escritos entre os anos 375 e 380. Por muito do que encontramos nas Constituições Apostólicas estar presente no Rito de Antioquia, por elas registrarem em 380 a disciplina então vigente naquelas comunidades - o que significa que já o eram há muito tempo - e por ser utilizado também nas regiões de Jerusalém e Palestina, todo em dialeto siríaco (derivado do Aramaico) só reforçam a Tradição de que o Rito foi mesmo desenvolvido pelo Apóstolo São Tiago e seus sucessores.

O Rito Siríaco de São Tiago, portanto chamado Rito Antioquino, permaneceu como o Rito de todo o Patriarcado de Antioquia, que abrangia além do território de Antioquia e Oriente próximo, regiões da Ásia e também da Palestina e mesmo de Jerusalém (que passou a ser reconhecida como Sé Patriarcal apenas no Concílio de Éfeso em 431). Sendo assim, durante os anos seguintes, passou a ser o Rito tanto do Patriarcado de Antioquia quanto de Jerusalém.

No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, mas o siríaco foi a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. Theodoreto, bispo de Cyr e originário de Antioquia dizia também que toda a região que ele conhecia perfeitamente, entre Antioquia e Alepo, tinham o siríaco como língua própria. Por isso, o siríaco na liturgia substituirá, pouco a pouco, a língua grega, assim como mais tarde o árabe acabará substituindo em grande parte a língua siríaca nos países de língua árabe.

Com o Concílio de Calcedônia (ano 451), algumas igrejas Sírias (siríacas) que não aceitaram as definições deste Concílio acabaram separando-se, dando origem às diferentes igrejas chamadas "Pré-calcedonianas", "monofisitas", "monotelitas", etc. (estes termos serão explicados posteriormente quando contarmos a História das Igrejas Católicas que forma "A IGREJA CATÓLICA") fizeram com que o Rito Siríaco Antioquino fosse mantido por algumas Igrejas, tanto em comunhão com Roma (Católicas) quanto de outros "gêneros" (ortodoxas, orientais, etc.), embora em cada uma delas tenha passado por algumas modificações ou acréscimos.

Atualmente 3 são as igrejas "sui juris", portanto Católicas, que mantêm uma Liturgia fundamentada no Rito Siríaco Antioquino. São elas:

- A IGREJA SÍRIA-CATÓLICA (ou IGREJA CATÓLICA SIRÍACA): Utiliza o Rito Siríaco Antioquino muito próximo ao Antigo Rito de Antioquia, com pouca variação.

Missa em Rito Antioquino celebrada em Mosteiro pertencente ao Patriarcado Siríaco Católico de Antioquia


- A IGREJA SIRÍACA CATÓLICA MARONITA (ou simplesmente IGREJA MARONITA): Utiliza o Rito Siríaco Antioquino, embora sua proximidade com o católicos latinos desde os tempos dos cruzados fez com que o seu rito fosse um tanto quanto "latinizado". Além disso, também sofreu alterações após o Concílio Vaticano II.

Missa em Rito Antioquino celebrada pelo Patriarca da Igreja Católica Maronita


- A IGREJA CATÓLICA SIRO-MALANKAR, que também utiliza o Rito Antioquino, com algumas pequenas variações.

Missa em Rito Siríaco Antioquino celebrada pelo Arcebispo-Maior da Igreja Católica Siro-Malankar 

A liturgia siríaca reproduz, em seu desenvolvimento e na vida das comunidades, um modo intermediário entre a Glória e a Paixão. Uma boa parte das orações é fruto da pena de Santo Éfrem denominado "Harpa do Espírito Santo", do grande mestre Jacob de Sarug e de muitos outros padres da Igreja de Antioquia que compuseram, na calma da meditação, estas belas orações.

A língua litúrgica, como já fora dito, é o siríaco ou siro-aramaico, isto é, o mesmo idioma que falou Nosso Senhor Jesus Cristo e que lhe serviu na Última Ceia para a instituição da Eucaristia. A Liturgia Maronita conserva, pois, a nota sublime destas palavras da Consagração.



UM RESUMO DO RITO ANTIOQUINO

A Santa Missa ou Divina Liturgia, também chamada "Sagrado Qurbana", inicia com um longo rito de preparação das oferendas, chamado "Serviços de Melquisedec e Aarão". Em seguida vêm seis leituras, das quais três são do Antigo Testamento. O "abraço da Paz" que precede ao rito da Consagração é bastante solene, onde a "paz" é transmitida a partir do altar, do sacerdote para os fiéis, que "a passam" um ao outro até chegar à porta do templo.

A "Anáfora" - Canon no Rito Romano - é acompanhada de gestos carregados de simbolismo; por exemplo, influenciado - provavelmente pela liturgia bizantina - o véu que cobre as ofertas (algo como o véu de âmbula no Rito Romano) é "tremulado" pelo celebrante, em frente e por trás do cálice, simbolizando o sopro do Espírito Santo. Como na maior parte das celebrações litúrgicas orientais, ocupa um lugar muito importante a chamada "Epíclesis" (invocação do Espírito Santo) para que se realize a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo.

A Comunhão é realizada após uma "complicada" fração do Pão, carregada de simbolismos, muito semelhante à do Rito Mocárabe (latino, porém derivado do Rito Galicano que, por sua vez, é herdeiro do Rito Antioquino). A Missa termina com da Oração de Despedida, seguida da distribuição de um pão bento que é levado para casa pelos fiéis.  

Abaixo, vídeo que mostra a Procissão de Entrada do Patriarca Siríaco Católico de Antioquia, sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan. Embora trate-se de um vídeo amador, pode-se ter uma ideia da Santa Missa Celebrada no Rito Siríaco Antioquino:



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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Antioqueno.


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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Os Ritos da Igreja: 1 - O RITO ROMANO


O RITO ROMANO tradicional


Embora a página tenha como finalidade a apresentação do "Oriente Católico", isto é, da riqueza espiritual, cultural e litúrgica do lado oriental da Igreja Católica, pensamos ser de grande importância apresentar - primeiramente - o desenvolvimento do Rito Católico mais popular em todo o mundo: O Rito Romano.

Como vimos nos artigos anteriores, a história do desenvolvimento litúrgico tem sua origem no surgimento da Igreja, começando por Nosso Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos. A partir de então, como vimos, tantos as semelhanças que os Ritos Apostólicos mantêm explicam-se pela origem em comum, quanto as diferenças que também mantêm, são explicadas pelos desenvolvimentos que se deram em lugares e (entre) povos diferentes.

O fato de ser o Rito Ocidental Latino e, mais precisamente o Romano, o Rito de mais de 90% dos católicos em todo o mundo (e obviamente também o nosso aqui no Brasil) faz com que entendamos ser importante apresentar a sua história e, partir do conhecimento deste Rito, apresentar os Ritos Orientais.

Melhor do que apresentar um simples e genérico artigo de minha autoria é reproduzir um artigo mais detalhado (e mais profundo) que encontrei sobre a formação do Rito Romano. No caso, reproduzo abaixo o artigo do Prof.º André Melo do site "Flos Carmeli Estudos".

Ao fina do artigo, algumas imagens foram introduzidas por nós da página Oriente Católico para ilustração e melhor compreensão.

Boa leitura!

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A FORMAÇÃO DO RITO ROMANO

1. Introdução

"Por que desde o nascer do sol até o poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos"
(Malachias 1, 11)

A história da Liturgia Católica remonta a Santa Ceia, ocasião na qual Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o sacerdócio e a Santa Missa. Foi porque Cristo disse para se fazer "isso" que Ele havia feito, em Sua memória, que a liturgia católica existe.

Naturalmente, algumas diferenças acidentais foram surgindo nos primeiros tempos até que um padrão litúrgico se estabeleceu. Padrão que já estava estabelecido no final do século I e do qual se vê claramente elementos em 1570, quando o Papa São Pio V codificou a Missa Católica.

2. História da Liturgia

Na primeira epístola aos Coríntios - escrita por volta de 52-55 -, São Paulo expõe a instituição da Eucaristia por Cristo usando em sua explicação a fórmula da consagração já em uso na liturgia apostólica.

No século II, o governador da Bitinia, Plinius Caecilius, escreve ao imperador Trajano (98-117) perguntando qual postura tomar frente aos cristãos. Nesta carta, ele relata detalhes sobre o culto católico que foram revelados por apóstatas das perseguições.

Com o passar dos séculos, a liturgia, sem alterar o essencial, se desenvolveu e foi ganhando maior unidade. Logicamente, as perseguições que sofriam os cristãos nos primeiros séculos influenciavam de alguma forma o rito que precisava, por isso, ser breve e simples.

Livros litúrgicos já eram usados no século IV e provavelmente mesmo no final do século III. Os mais antigos que chegaram até nossos dias são do século VII.

Com a liberdade dada por Constantino e, depois, com a adoção do Cristianismo como religião oficial do Império, o rito foi naturalmente se enriquecendo. As procissões, por exemplo, agora eram possíveis.

Durante o séc. IV o desenvolvimento da liturgia foi mais rápido no Oriente que no Ocidente. Descrições detalhadas das celebrações dessa época nos foram deixadas por São Cirilo de Jerusalém (313-386), Santo Atanásio (296-373), São Basílio (330-379) e São João Crisóstomo (347-407). Textos litúrgicos completos foram redigidos. O primeiro deles, Euchologion, manual litúrgico das igrejas orientais onde se encontram os ritos da Eucaristia, partes fixas do Ofício Divino e ritos para administração dos sacramentos e sacramentais.

2.1 Quatro Ritos Referenciais

Com o tempo, os ritos foram cristalizando-se e podemos então notar quatro linhas mestras, quatro "ritos referenciais". São eles os ritos das antigas cidades patriarcais, Roma, Antioquia, Alexandria e o Rito Galicano, celebrado no Rito Romano embora não tendo derivado deste. 

O Rito Romano e o Rito Galicano

Até o séc. VIII, o Rito Romano era usado na cidade de Roma apenas. Outras regiões, como o norte e o sul da Itália, Espanha, Bretanha etc. usavam variações de um rito que ficou geralmente conhecido como Rito Galicano. Originário do Oriente, provavelmente de Antioquia, depois de ser adotado em Milão durante o séc. IV espalhou-se pelo Ocidente. Milão era então a Sé Metropolitana do norte da Itália e segunda diocese mais importante do Ocidente.

A partir do séc. VIII o Rito Romano foi se espalhando pelo Ocidente e suplantando o Rito Galicano. Contudo, aquele sofreu influência deste. Há dois lugares na Europa onde a antiga liturgia galicana é ainda usada: Toledo, na Espanha, com o rito Mozárabe e Milão, na Itália, com o rito chamado de Ambrosiano. Ambos sofreram reformas após o Concílio Vaticano II.

Origem dos Livros Litúrgicos

Em meados do séc. IV já havia, seguramente, livros litúrgicos.

Nas Missas, lia-se, além das Escrituras, a Vida dos Santos. São Jerônimo (324-420), como amplamente se aceita, foi incumbido do Papa de selecionar as Epístolas e Evangelhos a serem usados em todos os domingos do ano litúrgico. Tal seleção foi usada sempre no Rito Tradicional da Missa.

Havia um livro para o bispo e o padre (Sacramentarium ou liber sacramentorum) com os textos do celebrante para a Eucaristia - como Canon, Coletas, Prefácios - além das orações para ordenações, batismo, bênçãos e exorcismos. Havia um outro livro, diferente, para o diácono (diakonium) e anda outro para o coro com salmos e responsórios (liber antiphonarius ou gradualis, o liber responsalis e o psalterium).

3. O Canon da Missa data do século IV

No final do séc. IV, Santo Ambrósio escreveu uma série de instruções para os recém batizados chamada De Sacramentis. Nela, ele cita a parte central do Canon da Missa, o qual é substancialmente idêntico, apesar de um pouco mais curto, às orações do Rito Romano Tradicional [1]. Isso prova de maneira inquestionável que o núcleo do Canon tradicional, desde a oração Quam oblationem (oração recitada antes da Consagração), incluindo a oração sacrifical depois da Consagração, já existia no final do séc. IV. 

Entre a segunda metade do séc. III e o final do séc. IV o latim foi substituindo o grego nos textos litúrgicos.

Dos livros Sacramentais, três se destacam como os mais antigos. Os chamados Leoninos, referentes ao Papa São Leão (440-461), o Gelasiano, referente ao Papa Gelásio (492-496) e o Gregoriano, referente a São Gregório Magno (590-604). O Sacramentário foi precedido pelo Libelli Missarum, pequenos livros contendo fórmulas de partes da Missa para determinadas dioceses ou regiões, bem como leituras e cantos. Ele também contém muitas orações do próprio da Missa que podem ainda hoje ser encontradas no Missal Romano. O Canon, porém, nunca mudava. Era fixo.

4. A Reforma de São Gregório Magno

O reinado desse extraordinário Papa - de 590 a 604 - foi muito importante para a Igreja em diversos campos, incluindo o litúrgico.

Sua reforma consistiu principalmente em simplificar e organizar o rito existente, por exemplo, a redução das orações móveis em três: Coleta, Secreta e Pós Comunhão bem como redução das variações do Canon, Prefácio e adição da Communicantes e Hanc Igitur. A fidelidade à tradição existente foi o guia de sua reforma. O Ordo da Missa que se encontra no Missal de 1570 do Papa São Pio V (1566-1572), com exceção de algumas pequenas adições ou ampliações, corresponde quase que totalmente ao Ordo estabelecido por São Gregório Magno. É também devido a esse grande Papa a codificação do canto católico por excelência e que leva seu nome.

O Missal reformado por São Gregório se difundiu largamente, não apenas na Itália, mas em toda a Europa. Nessa expansão, ele acabou recebendo alguns elementos locais, ou seja, galicanos.

São Gregório Magno foi o último a tocar nas partes essenciais da Missa, nomeadamente o Canon. O Papa Bento XIV (1740-1758) disse: "Nenhum Papa adicionou ou alterou o Canon desde São Gregório" [2].

Durante a Idade Média algumas poucas modificações acidentais - como alguns Améns - foram feitas. Um exemplo são as orações ao pé do altar que antigamente eram parte da preparação privada que o padre fazia antes da Missa, ainda na sacristia.

O Gloria, de origem provavelmente galicana, foi introduzido gradualmente, primeiramente sendo cantado apenas nas missas em dias de festas celebradas por um bispo. O Credo foi introduzido no Rito Romano no séc. XI. De além dos Alpes, foram trazidos por volta do séc. XIV, o Ofertório e o Lavabo. O último Evangelho foi introduzido durante a Idade Média.

Havia na época medieval variações do Rito Romano como por exemplo, o Rito Sarum, na Inglaterra. As variações ocorriam não apenas de região para região, mas mesmo de diocese para diocese. Basicamente, cada catedral possuía alguma prática litúrgica que lhe era própria. O mesmo ocorria para muitas ordens religiosas como os Dominicanos, Carmelitas e Cartuxos.

Eram, no entanto, variações do Rito Romano, não eram outros ritos.

Todas as orações importantes eram as mesmas. O elemento essencial, o Canon, era, palavra por palavra, o mesmo que se reza ainda hoje na Missa Tridentina. Nenhum bispo medieval ousou tocar na Oração Eucarística.

O início da impressão dos missais no séc. XV trouxe maior padronização à Missa.

5. A Reforma de São Pio V

São Pio V (1566-1572), dando seguimento ao trabalho definido pela 18ª Sessão do Concílio de Trento, e que já havia sido iniciada por Pio IV (1559-1565), terminou no ano de 1570 a codificação do Missal Romano.

A prioridade primeira do Concílio de Trento era codificar os ensinamentos católicos sobre a Eucaristia. Em sua 18ª Sessão, o Concílio nomeou uma comissão para examinar o Missal, revisá-lo e restaurá-lo "de acordo com o uso e rito dos Santos Padres". O objetivo não era criar um novo missal, mas restaurar o existente "de acordo com o uso e rito dos Santos Padres".

Não era, portanto, uma nova Missa.

O Missal foi promulgado com a Bula Quo Primum Tempore, em 14 de julho de 1570.

6. Mudanças posteriores no Rito Romano

Após São Pio V algumas mudanças acidentais ocorreram, de forma natural, no Rito Romano. Muitas delas consistem na inclusão de novos Próprios para Santos que haviam sido recentemente canonizados.

As últimas reformas foram feitas por Pio XII (1939-1958), que em 1951 transferiu a Vigília da Páscoa da manhã para a noite do Sábado Santo e, em 1955, autorizou uma revisão das rubricas.

João XXIII fez também reformas nas rubricas em 1960. Em sua reforma de 1962, São José foi incluído no Canon e foi abolido o segundo Confiteor, dito antes da comunhão dos fiéis.

A tradição da Liturgia Eucarística, ininterrupta há mais de 1600 anos, foi pela primeira vez rompida em 1970 pela Nova Missa composta por Annibale Bugnini sob o reinado de Paulo VI (1963-1978). O Novus Ordo Missae foi promulgado em 1969.


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[1] Atualmente chamada de "Missa Tridentina" ou "Missa Tradicional". É o rito romano extraordinário.

[2] The Mass: A Study of the Roman Liturgy (London: Longmans, 1912) p. 172 apud Michael Davies, A Short History of the Roman Mass, TAN Books and Publishers, Inc., p. 23. 



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Algumas partes do RITO ROMANO

Orações ao pé do Altar

"Instroibo ad altare Dei"
Orações ao pé do Altar, purificando-se para oferecer dignamente a Santa Missa


Proclamação do Santo Evangelho

Cardeal Robert Sarah proclama o Santo Evangelho em Missa Pontifical

Pronunciando a Consagração

"HOC EST ENIM CORPUS MEUM"

Após a Consagração, os dedos se mantêm juntos por haver consagrado as Sagradas Espécies
A Solenidade na Elevação da Santíssima Eucaristia

A elevação da Santíssima Eucaristia pra que A vejam os fiéis

Um pequeno vídeo que mostra a atmosfera do momento da Consagração





A Missa Nova

Conforme descrito na história do Rito Romano, a Missa que atualmente conhecemos é fruto das reformas empreendidas em 1969/1070. Por isso, é chamada muitas vezes de "Missa Nova". É também conhecida como "Novus Ordo" e "Forma Ordinária" e, provavelmente, é a Missa que você está acostumado a ver próximo à sua casa.

É um rito mais simples, prático e mais próximo à Assembléia que o assiste. Por outro lado, falta-lhe certa solenidade, carece de diversos símbolos e gestos próprios do Rito Romano Tradicional, além de certa espiritualidade e o ar "misterioso" da forma antiga. Além disso, acusa-se o novo Rito de ter sido "fabricado" enquanto o Tradicional (assim como os Ritos Orientais) foram se desenvolvendo com o passar dos séculos, embora mantendo as características milenares herdadas dos Apóstolos. Outro problema da Missa Nova é que dá espaço para interpretações equivocadas, resultando nos abusos litúrgico que vemos com tanta frequência. Mas o objetivo desta página não é tecer críticas e nem arvorar-se no direito de julgar quaisquer Ritos da Santa Igreja, apenas apresentá-los.

Dito isso, o fato é que a Missa no Rito Romano Tradicional,  também chamada "Missa de Sempre", "Missa de São Pio V", "Missa em Latim" ou "Forma Extraordinária", quase extinta em meados da década de 1970, não pode ser desprezada ou mesmo ignorada, já que compõe o riquíssimo patrimônio litúrgico da Igreja e por esse motivo, vem sendo resgatada em todo o mundo, ganhando cada vez mais espaço entre os católicos de Rito Latino.

Papa Francisco celebra a Missa no Rito Romano moderno, também chamada "Missa Nova" ou "Forma Ordinária" do Rito Romano