terça-feira, 24 de setembro de 2019

Igrejas Católicas Orientais: 03 - A IGREJA GRECO-MELQUITA CATÓLICA


O Patriarca Greco-Melquita de Antioquia, Máximos IV Cardeal Sayegh, com o Santo Padre o Papa Pio XII

Igreja Católica Greco-Melquita, em árabe (كنيسة الروم الكاثوليك), também chamada Igreja Greco-Católica Melquita, ou simplesmente Igreja Melquita, é umas das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma. Isto significa, portanto, que a Igreja Melquita reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice, pai e líder de todos os católicos do orbe.

Há, atualmente, pouco mais de um milhão e setecentos mil Melquitas em todo o mundo, dos quais uma grande parte encontra-se na Síria, no Líbano, em Israel e na Palestina. Ainda assim, estão presentes em muitos outros países de todo o mundo, tanto pela migração devida às guerras e perseguições, quanto por meio dos casamentos de melquitas com outros povos ou conversões provenientes de pessoas de várias heranças étnicas. Há também um crescimento relacionado ao "trans-ritualismo", isto é, quando católicos pertencentes a outros ritos (o latino-romano, por exemplo) que passam a integrar a Igreja Melquita. Mas afinal, quem são os Melquitas?


Brasão de Sua Beatitude Youssef Absi, Patriarca Greco-Melquita Católico de Antioquia


ORIGEM DA IGREJA MELQUITA

Os melquitas são os cristãos católicos orientais que, assim como os Maronitas, também devem sua origem ao Patriarcado de Antioquia.

Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma assim como a seu  bispo, o Papa. Nessa Comunhão Católica, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, AntioquiaAlexandria e ConstantinoplaAs 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos no artigo anterior), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano: o Papa.

Embora algumas parcelas tenham se apartado da Igreja já após o Concílio de Éfeso (no ano 431), podemos dizer que a Igreja mantinha-se, de certa forma, unida em um único e mesmo corpo até o Concílio de Calcedônia (em 451): Seus 5 grandes Patriarcados ainda permaneciam unidos numa mesma Comunhão de Fé-Doutrina e Hierarquia. Apenas em 451, quando se deu o Concílio de Calcedônia, é que se deu a separação de uma parcela da Igreja de Cristo: houve um grande número daqueles que não aceitaram as definições do Concílio, os então chamados "monofisitas" (hoje sabe-se que a maior parte deles não era de fato monofisitas - e que também consideram o monofisismo um erro - mas sim  que o  termo mais correto a aplicar-lhes seria "miafisistas". Estes, aos poucos conseguiram assentar-se nos Patriarcados de Jerusalém (Teodosio em 452), de Alexandria (Timóteo Eluro em 457) e de Antioquia (Pedro Fulão em 470). O imperador Leão I (457 - 474) teve de intervir, depondo-os. A parcela da Igreja que neste artigo nos interessa é a parcela da Igreja do Patriarcado de Antioquia.

Dentro do Patriarcado de Antioquia, no pós Concílio (de Calcedônia), havia portanto dois grupos: aqueles que seguiram a Fé professada neste Concílio, os católicos, também chamados "calcedonianos"; e aqueles que a rejeitaram,  os miafisistas (posteriormente chamados "jacobitas" devido ao nome de um dos principais bispos propagadores da fé anti-calcedoniana, Jacob Baradeu).

Com a intervenção do Imperador contra os que haviam se apossado do Patriarcado de Antioquia, depondo o Patriarca e clero miafisista (estes subsistiram naquela que hoje é chamada Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia) e restabelecendo Patriarca e clero calcedonianos (católicos), estes últimos que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia. Eram vistos pelos primeiros como "seguidores do Imperador", "partidários do Rei" e por isso, foram apelidados - a princípio pejorativamente - como "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "reais"). Assim  sendo, enquanto os cristãos de Antioquia que não aceitaram o Concílio de Calcedônia (monofisitas/miafisistas) apartaram-se da Igreja, aqueles que seguiram a Fé católica deste Concílio passaram a ser denominados MELQUITAS.
Havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também haviam mantido a Fé Católica Calcedoniana, os quais apresentamos no artigo anterior (os Maronitas).

Como vimos, portanto, os cristãos de Antioquia que não integravam o Povo Maronita e que se mantiveram fiéis à Fé Católica e Ortodoxa professada no Concílio de Calcedônia, passaram a ser conhecidos como Melquitas. Conheçamos um pouco mais de sua história.


OS 4 MOMENTOS RELEVANTES NA FORMAÇÃO DA IGREJA MELQUITA

Concílio de Calcedônia

O primeiro momento decisivo foi a precipitação sociopolítica logo após o Concílio de Calcedônia, ocorrido em 451 d.C. Como já foi dito, a sociedade cristã do Oriente Médio dividiu-se fortemente entre aqueles que não aceitaram e os que aceitaram o Concílio: os primeiro, anti-calcedonianos, também chamados "pré-calcedonianos" ou miafisistas, predominaram sobretudo nas províncias da Armênia (dando origem à Igreja Apostólica Armênia) e Egito (dando origem à Igreja Copta Ortodoxa), além de uma parte do Patriarcado de Antioquia (Igreja Sirian-Ortodoxa); Já os cristãos, tanto de Jerusalém quanto de Antioquia e de Alexandria (Egito) e que eram principalmente de língua grega, defensores do Concílio (calcedonianos, portanto católicos), como vimos, passaram a ser chamados Melquitas (imperiais).


Batalha de Yarmuk

O segundo momento de definição ou, mais corretamente, de mudança, deu-se com a "Batalha de Yarmuk" (ano 636) que tirou os fiéis Melquitas do controle bizantino e os colocou sob o domínio dos invasores árabes. Enquanto a língua e a cultura gregas continuavam importantes, especialmente para os Melquitas de Jerusalém, a tradição antioquena Melquita se fundiu com a língua e a cultura Árabes. De fato, havia poesia cristã árabe antes da chegada do Islã, mas o antioqueno que se misturava à cultura árabe levou a um certo distanciamento do Patriarca de Constantinopla. Além disso, como vimos anteriormente, os canais de comunicação com Constantinopla e Roma foram bloqueados pelos árabes.

Apesar da invasão árabe, os Melquitas continuaram a desempenhar um papel importante na Igreja Universal. Os Melquitas desempenharam um papel de liderança na condenação da controvérsia iconoclasta quando reapareceram no início do século IX, e estavam entre as primeiras Igrejas do Oriente a responder à introdução da cláusula Filioque no Ocidente.



O terceiro momento decisivo foi quando em 1054, o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulario e o Cardeal Humberto de Silva Cândida, legado do Pontífice Romano, excomungaram-se mutuamente, o que equivalia à Igreja de Constantinopla excomungando a Igreja de Roma e esta, por sua vez, excomungando a Igreja de Constantinopla. Assim formalizou-se aquele episódio que passaria a ser conhecido na história como "o grande Cisma do Oriente". Neste episódio, as Igrejas e os cristãos que permaneceram unidos em comunhão com a Igreja de Roma mantiveram o título de Católicos (como por exemplo os Maronitas), ao passo que os cristãos e as Igrejas que aderiram ao cisma de Constantinopla passaram a denominar-se Ortodoxos, por exemplo, a Igreja de Jerusalém.

Mas, e a Igreja e os cristãos de Antioquia? Como vimos, além dos cristãos pertencentes ao Patriarcado Maronita de Antioquia, que mantiveram a comunhão com a Igreja de Roma, havia os cristãos e a Igreja de Antioquia (não Maronitas) que eram conhecidos como Melquitas. Pois bem, o Patriarca Melquita de Antioquia Pedro III resolveu rejeitar tomar partido na discussão-cisão entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla, mantendo assim a Comunhão da Sé de Antioquia com ambas as Igrejas (de Roma e de Constantinopla).

Durante as cruzadas, foram introduzidos prelados latinos nas sedes Apostólicas do Oriente. Além disso, a Quarta Cruzada viu o saque de Constantinopla e seu domínio pelos cruzados por cinquenta e sete anos. Com todos esses desenvolvimentos, aconteceu que os simpatizantes e convertidos dos missionários latinos tornaram-se verdadeiros partidários "pró-ocidentais" e "pró-católicos" dentro daquilo que passou a ser conhecido como "Ortodoxia". Para se ter uma ideia, ao longo do século XVII, jesuítas, capuchinhos e carmelitas estabeleceram missões não apenas entre os Melquitas do Patriarcado de Antioquia, como também nos territórios dos Bispos Ortodoxos (em Comunhão com Constantinopla).

A partir de 1342, os frades católicos romanos abriram missões no Mediterrâneo Oriental, particularmente em Damasco, onde desenvolveram ótimas relações, de modo que seus ensinamentos tiveram uma influência importante sobre o clero e o povo melquita. Além da forte presença franciscana, na tradição melquita, foram os jesuítas, fundados apenas em 1534, que foram realmente decisivos na formação do "partido católico romano" dentro do Patriarcado de Antioquia, o que aproximava ainda mais a relação deste Patriarcado com a Sé Apostólica de Roma. Os jesuítas não eram frades, mas algo como os padres altamente instruídos da Chancelaria Patriarcal, o que os tornava mais aceitáveis.


Patriarca Cirilo VI Tanas
O quarto momento decisivo foi a eleição de Cirilo VI Tanas, pelos bispos melquitas da Síria, como o novo Patriarca de Antioquia. O Patriarca de Constantinopla Jeremias III temia que sua e influência em Antioquia e sua autoridade no Oriente estivesse comprometida por considerar Cirilo muito "pró-ocidental" e "pró-Roma". Por conta disso, resolveu não reconhecer a eleição de Cirilo, considerando-a inválida. "Excomungou" Cirilo e ordenou o diácono Silvestre de Antioquia, um monge grego, padre e bispo, nomeando-o em seguida como "Patriarca de Antioquia". 

Como era de se esperar, todos os Melquitas tinham consciência da legitimidade da eleição de Cirilo ao trono patriarcal e que o Patriarca de Constantinopla Jeremias III havia tentado removê-lo apenas para reforçar a sua autoridade sobre o Patriarcado de Antioquia (essa espécie de "domínio" constantinopolitano sobre a versão ortodoxa do Patriarcado de Antioquia permaneceu até 1899). Jeremias e Silvestre começaram uma campanha de perseguição contra Cirilo e os fiéis melquitas que durou cinco anos, auxiliados pelas tropas otomanas. Isso fez com que alguns, mesmo reconhecendo a legitimidade de Cirilo VI Tanas como Patriarca de Antioquia, por medo cedessem à pressão aceitando Silvestre como Patriarca.
Patriarca Máximos III Mazloum

Cinco anos após a eleição de Cirilo VI, em 1729, o Papa Bento XIII o reconheceu como o legítimo Patriarca de Antioquia, reconhecendo a ele e também a seus sucessores como em plena comunhão com a Igreja de Roma. A partir de então, os seguidores do legítimo Patriarca de Antioquia Cirilo VI Tanas mantiveram o título de Melquitas que usavam até então, sendo esse Patriarcado chamado Igreja Greco-Melquita Católico de Antioquia. Já os seguidores do Patriarca Silvestre, imposto pelo Patriarca de Constantinopla Jeremias III, separaram-se formalmente de Roma e passando a constituir o chamado Patriarcado Grego Ortodoxo de Antioquia. Desde então deixaram de utilizar o termo "Mequita", que a partir daquele momento passou a ser usado apenas por aqueles que estavam em comunhão com Roma.

Interior da Catedral da Dormição da Mãe de Deus, sede do Patriarcado (Síria)


A Igreja Católica Greco-Melquita, desde então, desempenhou um papel importante na liderança do cristianismo árabe. Ela sempre foi liderada por cristãos de língua árabe,  enquanto que sua contraparte ortodoxa possuía patriarcas gregos até 1899. De fato, no início de sua existência separada, por volta de 1725, um de seus líderes leigos mais ilustres, o sábio e teólogo Abdallah Zakher de Allepo (1684 - 1748) montou a primeira impressora do mundo árabe.


Em 1835, Máximos III Mazloum, Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia, foi reconhecido pelo Império Otomano como líder de um "milheto", que era o status dado pelo Império Turco-Otomano a uma comunidade religiosa distinta dentro do Império. O Papa Gregório XVI deu a Máximos III Mazloum o tri-patriarcado: de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, por ter - historicamente - cristãos melquitas presentes nessas 3 sedes Patriarcais (lembrar o ocorrido após o Concílio de Calcedônia, onde os cristãos desses territórios que adotaram o Concílio Calcedoniano [católicos] e "seguiram o imperador", por isso Melquitas ["imperiais" ou "reais]. Esse título é mantido pelo Patriarca Melquita até nossos dias.

Em 1847 o Papa Pio IX (1846 a 1878) restabeleceu o Patriarcado Latino de Jerusalém na pessoa de Giuseppe Valerga. Conhecido por zeloso pastor, quando ele chegou em 1847, havia 4.200 católicos latinos em Jerusalém. Quando ele faleceu, em 1872, o número havia mais que dobrado. Ainda assim, seu extremo zelo, benéfico por um lado, trazia outro problema: a grande aversão que tinha às Igrejas cismáticas (ortodoxas) da Terra Santa fez com que, de certa forma, acabasse promovendo uma certa latinização entre os melquitas. Tal problema chegou ao ápice quando o Patriarca Clemente Bahouth introduziu o calendário gregoriano usado pelas Igrejas Latina e Maronita, em 1857; esse ato causou tantos conflitos ao ponto de um grupo de melquitas entrarem um cisma, o que fez com que Clemente abdicasse de sua posição como Patriarca.


Patriarca Gregório II Youssef
O sucessor de Clemente, Patriarca Gregório II Youssef (1864-1897) trabalhou para restaurar a paz na comunidade, conseguindo desfazer o cisma. Durante seu reinado, Gregório fundou o Colégio Patriarcal em Beirute em 1865, o Colégio Patriarcal em Damasco (em 1875) e reabriu o Seminário Melquita de Ain Traz em 1866. Além disso, promoveu o estabelecimento do Seminário de Santa Ana, Jerusalém, em 1882 onde os "Padres Brancos" ficaram encarregados da formação do clero melquita. A Igreja Melquita teve grande expansão durante esse período: após 1870, o Patriarca Gregório encorajou a maior participação dos leigos melquitas tanto na administração da Igreja quanto nos assuntos públicos. Além disso, estimulou o pastoreio dos Melquitas que haviam imigrado para as Américas, enviando sacerdotes para esses países.

Ainda sobre a questão da latinização, quando ascendeu ao Trono Pontifício, o Papa Leão XIII abordou algumas das preocupações das Igrejas Católicas Orientais sobre a latinização e as tendências centralizadoras de Roma, publicando a Encíclica Orientalium Dignitas. Leão XIII também afirmou que as limitações impostas ao Patriarcado Armênio pela Carta Reversurus de Pio IX, de 1867, não se aplicariam à Igreja Melquita. Além disso, Leão XIII reconheceu formalmente uma expansão da jurisdição do Patriarca Gregório para incluir todos os Melquitas em todo o Império Otomano.


Sua Santidade o Papa Pio XI recebe Sua Beatitude o Patriarca Greco-Melquita Dimitrios Cadi
02 de junho de 1923

Conflitos do Vaticano II sobre tradições latinas e melquitas

Durante o Concílio Vaticano II, o Patriarca Máximos IV Sayegh defendeu a tradição oriental da Igreja, ganhando o respeito de todos, inclusive dos observadores ortodoxos, bem como a aprovação do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Atenágoras I.

Após o Concílio Vaticano II, os Melquitas passaram a restaurar o
Arcebispo Joseph Raya
seu culto tradicional, eliminando as latinizações acumuladas nos últimos séculos. Vale mencionar que tais processos não se deram sem conflitos, tanto da parte de algumas igrejas melquitas que não concordavam com a total e radical "des-latinização", assim como por parte de alguns melquitas dos EUA que se opuseram à celebração da Divina Liturgia bizantina em língua vernácula, algo estranho no Rito Romano (até então em latim) mas que era visto com maior naturalidade entre os cristãos de tradição bizantina. Um dos líderes do movimento pela Divina Liturgia em vernáculo era o então Padre Joseph Raya, que posteriormente foi sagrado Arcebispo de Nazaré: a seu pedido, o Venerável Bispo Fulton Sheen, tão famoso por sua evangelização no rádio e na tv, celebrou a Divina Liturgia em inglês na convenção nacional melquita, em Birmingham (Alabama).



Venerável Arcebispo Fulton Sheen, em paramentos bizantinos
Em 1960, a questão foi resolvida pelo Papa João XXIII, a pedido do Patriarca Máximos IV Sayegh, em favor do uso das línguas vernáculas na celebração da Divina Liturgia. Além disso, o próprio Papa João XXIII consagrou o padre melquita Gabriel Acacius Coussa como Bispo, consagração celebrada em Rito Bizantino, na Capela Cistina em Roma. O Bispo Coussa seria elevado ao Cardinalato, mas faleceu dois anos depois. Sua causa de canonização foi introduzida por sua ordem religiosa melquita, a Ordem Basiliana Alepiana.


Sagração Episcopal do Bispo Melquita Gabriel Acacius Coussa em Rito Bizantino por Sua Santidade o Papa João XXIII
    


A Igreja Melquita no Mundo

Devido à forte emigração do Mediterrâneo Oriental, que começou com os massacres de Damasco em 1860, nos quais a maioria das comunidades cristãs foram atacadas, a Igreja Católica Greco-Melquita acabou espalhando-se por todo o mundo: agora não mais é composta exclusivamente por fiéis de origem mediterrâneo-oriental.
Patriarca Máximos V Hakim

O Patriarca Máximos V viu muitos avanços na presença mundial da Igreja Melquita, os melquitas que vivem na chamada "diáspora": as Eparquias (o equivalente oriental de uma Diocese) foram estabelecidas nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Austrália, Argentina e México, em resposta ao esvaziamento do Mediterrâneo oriental de seus povos cristãos nativos. Além disso, alguns historiadores afirmam que, após a revolução no Egito em 1952, muitos melquitas deixaram o Egito devido às políticas islâmicas, nativistas e socialistas.

Em 1967, um egípcio nativo de ascendência síria (de Alepo), George Selim Hakim, foi eleito sucessor de Máximos IV e recebeu o nome de Máximos V. Ele reinou até se aposentar aos 92 anos de idade, no ano santo do jubileu de 2000. Máximos V repousou no Senhor, na festa de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho de 2001. Foi sucedido pelo Arcebispo Lufti Laham, que recebeu o nome de Gregório III Laham e foi o Patriarca Melquita de 2000 a 2017. 

Sua Beatitude Gregório  III Laham e Sua Santidade Bento XVI

Em 2014 o Patriarca Gregório III Laham visitou o Brasil, tendo passado pelas comunidades Melquitas do Brasil, concluindo a visita com uma Divina Liturgia na Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo, a sede da Eparquia Greco-Melquita do Brasil. Abaixo, um pequeno vídeo da visita do Patriarca à Juiz de Fora (MG), em 2014:



Sua Beatitude Gregório III Laham renunciou ao título de Patriarca em 6 de maio de 2017. Foi sucedido por Youssef I Absi, atual Patriarca Greco-Melquita de Antioquia.

Sua Beatitude Youssef Absi pertence à ordem Melquita dos Padres da Sociedade Missionária de São Paulo ("Paulitas"). Em 22 de junho de 2001, foi nomeado Arcebispo titular de Tarso, além de Bispo curial e auxiliar do Patriarcado. Sua sagração episcopal se deu pelas mãos do Patriarca Gregório III Laham, tendo como co-sagrantes os Arcebispos Melquitas Jean Mansour, títular de Apamea na Síria, e Joseph Kallas, Arquieparca de Beirute e Jbeil. A sagração ocorreu em 2 de setembro de 2001.

De 1999 a 2006 foi o Superior Geral de sua comunidade religiosa. Em outubro de 2007, foi nomeado vigário patriarcal da Arquidiocese de Damasco. Em 21 de junho de 2017, foi eleito Patriarca da Igreja Greco-Melquita Católica. Sua eleição ocorreu um mês após o Papa Francisco ter aceito a renúncia de Gregório III Laham. 
Sua Beatitude Youssef I Absi,
atual Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia

Por questões históricas relativas às perseguições sofridas no decorrer dos séculos, a Sé Patriarcal está localizada em Damasco, embora - como vimos - a Igreja Greco-Melquita seja, por sucessão apostólica, a antiga Sé de Antioquia. O Patriarcado é administrado por um sínodo permanente que inclui além de Sua Beatitude o Patriarca, quatro bispos, o tribunal ordinário para assuntos jurídicos, o economista patriarcal que serve como administrador financeiro e uma chancelaria.

A Igreja Greco-Melquita Católica de Antioquia conta também com diversas ordens religiosas e monásticas, tanto do ramo masculino quanto feminino.

A LITURGIA MELQUITA


Divina Liturgia dos Greco-Melquitas (Rito Bizantino) celebrada em Paris (2017)

Embora a Igreja Melquita seja sucessora do Patriarcado de Antioquia, o "Greco" presente em seu nome indica que sua liturgia não mais é de tradição siríaca como se poderia supor. Ou seja, seu Rito não é mais o Rito Antioqueno, mas sim o Rito Bizantino. Como vimos em artigo anterior, a outra parte do Patriarcado de Antioquia que originou a Igreja Maronita preservou a Liturgia Antioquena. Já a parcela que originou a Igreja Melquita (e posteriormente a Igreja Ortodoxa de Antioquia) por influência de Constantinopla acabaram, aos poucos, substituindo os Ritos próprios pelo Rito Bizantino. Isto, aliás, se deu em todos os territórios que passaram a denominar-se "ortodoxos": por exemplo, também no Egito os que não aderiram à Igreja Copta (que usa o Rito Copta) passaram a adotar o Rito Bizantino Este, é comum a todas as Igrejas pertencentes à comunhão Ortodoxa.

No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, enquanto o siríaco era a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. O grego e sua Liturgia (Bizantina) acabaram prevalecendo na cidade e territórios mais influenciados por Constantinopla, enquanto o Siríaco e a Liturgia Antioquena perseveraram entre o povo Maronita (das montanhas, falantes do siríaco) e os "jacobitas" (anti-calcedonianos).

Desde as invasões árabes, na Liturgia Bizantina da Igreja Greco-Melquita Católica, além do grego, também o árabe passou a fazer parte como língua litúrgica oficial até nossos dias. Ainda assim, como vimos, também as línguas vernáculas passaram a fazer parte conforme o país em que os melquitas se encontram presentes.


A IGREJA GRECO-MELQUITA NO BRASIL

Os Melquitas passaram a se fazer presentes no Brasil juntamente com as ondas migratórias dos primeiros sírios e libaneses que aqui chegaram, já em meados de 1869. A primeira Igreja própria, a Igreja de São Basílio, foi fundada em 1941 no Rio de Janeiro, pelo então Padre Elias Coueter que, posteriormente, tornar-se-ia o primeiro Arcebispo Melquita do Brasil.


Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, sede da Eparquia Greco-Melquita no Brasil
Em  1952 foi construída a Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, localizada no início da Avenida Paulista, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Em 29 de novembro de 1971 a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso foi criada, sendo definitivamente instituída em 26 de maio de 1972 pelo Papa Paulo VI, que instituiu a Catedral Nossa Senhora do Paraíso como sua Sé. Desde então a Eparquia já contou com 6 bispos:

1º - Dom Elias Coueter, de 1971 a 1978.
2º - Dom Spiridon Mattar, de 1978 a 1990.
3º - Dom Pierre Mouallem, de 1990 a 1998.
4º - Dom Fares Maakaroun, de 1999 a 2014.
5º - Dom Joseph Gébara, de 2014 a 2018.

De 2018 a agosto de 2019, a Eparquia ficou a cargo de uma administrador apostólico (latino), Dom Sérgio de Deus Borges.

6º Eparca - Escolhido pelo Santo Sínodo Melquita, em 17 de junho último, foi nomeado pelo Papa Francisco o então Arquimandrita (Monsenhor) George Khoury, pároco da Igreja de São Basílio no Rio de Janeiro, como o novo eparca dos católicos greco-melquitas do Brasil. Sua sagração episcopal ocorreu em Safita, na Síria, sua cidade natal, pelas mãos de Sua Beatitude o Patriarca Youssef Absi, em 25 de Agosto de 2019.


Sagração Episcopal de Dom George Khoury

A Santa Missa de entronização e Posse Canônica do novo Eparca em sua catedral-sede da Eparquia, ocorreu no último domingo, dia 22 de setembro de 2019, e contou com a participação de Sua Beatitude Youssef Absi, vindo da Síria exclusivamente para isso. Além do Patriarca, estiveram presentes o clero Melquita do Brasil: Dom Fares Maakaroun, eparca emérito dos melquitas do Brasil, além de padres vindos das diversas Igrejas Melquitas de nosso país; também o Arcebispo Dom Volodêmer Koubech (da Arquieparquia Greco-Ucraniana do Brasil), Dom Vartan Boghosian (Bispo Emérito do Exarcado Apostólico Armênio Católico da América Latina), Dom Edgard Madi (Bispo da Eparquia Católica Maronita do Brasil), Dom Damaskinos Mansour (Arcebispo da Arquieparquia Ortodoxa Antioquena do Brasil) além de Bispos Latinos, incluindo Dom Sérgio de Deus Borges, que fora o Administrador Apostólico durante os 14 meses de vacância da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso do Greco-Melquitas Católicos do Brasil.

A seguir, algumas imagens da Divina Liturgia presidida por Sua Beatitude, assim como a Posse Canônica de Dom George Khoury como novo Eparca:








Além da Catedral Melquita em São Paulo, a Igreja Melquita está presente em outras três igrejas:

- Igreja de São Basílio, no Rio de Janeiro - RJ;
- Igreja de Nossa Senhora do Líbano, em Fortaleza - CE;
- Igreja de São Jorge, em Juiz de Fora - MG;

Há também duas comunidades:

- Comunidade de Sant´Ana, em Taubaté - SP
- Comunidade de São Sebastião, em Tremembé - SP

Para completar, também há melquitas atendidos em uma Igreja Siríaca e em duas Latinas, onde lhes são administrados os sacramentos em seu rito (Bizantino):

- Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Igreja dos Sírios), em Belo Horizonte - MG
- Igreja de Santa Helena, em Votorantim - SP
- Santuário do Bom Jesus, em Boa Esperança - Minas Gerais

Esperamos que com este simples artigo possamos, de alguma forma, contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.

Viva a Igreja Melquita! Viva a Igreja Católica!

Fontes:
- A Igreja Greco-Melquita no Concílio - Máximo IV (patriarca) e vários autores
- Os Melquitas - Roberto Khatlab
- Sites diversos, principalmente estrangeiros.
Adaptações, traduções, revisão e acréscimos:
- Oriente Católico

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