terça-feira, 24 de setembro de 2019

Igrejas Católicas Orientais: 03 - A IGREJA GRECO-MELQUITA CATÓLICA


O Patriarca Greco-Melquita de Antioquia, Máximos IV Cardeal Sayegh, com o Santo Padre o Papa Pio XII

Igreja Católica Greco-Melquita, em árabe (كنيسة الروم الكاثوليك), também chamada Igreja Greco-Católica Melquita, ou simplesmente Igreja Melquita, é umas das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma. Isto significa, portanto, que a Igreja Melquita reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice, pai e líder de todos os católicos do orbe.

Há, atualmente, pouco mais de um milhão e setecentos mil Melquitas em todo o mundo, dos quais uma grande parte encontra-se na Síria, no Líbano, em Israel e na Palestina. Ainda assim, estão presentes em muitos outros países de todo o mundo, tanto pela migração devida às guerras e perseguições, quanto por meio dos casamentos de melquitas com outros povos ou conversões provenientes de pessoas de várias heranças étnicas. Há também um crescimento relacionado ao "trans-ritualismo", isto é, quando católicos pertencentes a outros ritos (o latino-romano, por exemplo) que passam a integrar a Igreja Melquita. Mas afinal, quem são os Melquitas?


Brasão de Sua Beatitude Youssef Absi, Patriarca Greco-Melquita Católico de Antioquia


ORIGEM DA IGREJA MELQUITA

Os melquitas são os cristãos católicos orientais que, assim como os Maronitas, também devem sua origem ao Patriarcado de Antioquia.

Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma assim como a seu  bispo, o Papa. Nessa Comunhão Católica, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, AntioquiaAlexandria e ConstantinoplaAs 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos no artigo anterior), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano: o Papa.

Embora algumas parcelas tenham se apartado da Igreja já após o Concílio de Éfeso (no ano 431), podemos dizer que a Igreja mantinha-se, de certa forma, unida em um único e mesmo corpo até o Concílio de Calcedônia (em 451): Seus 5 grandes Patriarcados ainda permaneciam unidos numa mesma Comunhão de Fé-Doutrina e Hierarquia. Apenas em 451, quando se deu o Concílio de Calcedônia, é que se deu a separação de uma parcela da Igreja de Cristo: houve um grande número daqueles que não aceitaram as definições do Concílio, os então chamados "monofisitas" (hoje sabe-se que a maior parte deles não era de fato monofisitas - e que também consideram o monofisismo um erro - mas sim  que o  termo mais correto a aplicar-lhes seria "miafisistas". Estes, aos poucos conseguiram assentar-se nos Patriarcados de Jerusalém (Teodosio em 452), de Alexandria (Timóteo Eluro em 457) e de Antioquia (Pedro Fulão em 470). O imperador Leão I (457 - 474) teve de intervir, depondo-os. A parcela da Igreja que neste artigo nos interessa é a parcela da Igreja do Patriarcado de Antioquia.

Dentro do Patriarcado de Antioquia, no pós Concílio (de Calcedônia), havia portanto dois grupos: aqueles que seguiram a Fé professada neste Concílio, os católicos, também chamados "calcedonianos"; e aqueles que a rejeitaram,  os miafisistas (posteriormente chamados "jacobitas" devido ao nome de um dos principais bispos propagadores da fé anti-calcedoniana, Jacob Baradeu).

Com a intervenção do Imperador contra os que haviam se apossado do Patriarcado de Antioquia, depondo o Patriarca e clero miafisista (estes subsistiram naquela que hoje é chamada Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia) e restabelecendo Patriarca e clero calcedonianos (católicos), estes últimos que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia. Eram vistos pelos primeiros como "seguidores do Imperador", "partidários do Rei" e por isso, foram apelidados - a princípio pejorativamente - como "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "reais"). Assim  sendo, enquanto os cristãos de Antioquia que não aceitaram o Concílio de Calcedônia (monofisitas/miafisistas) apartaram-se da Igreja, aqueles que seguiram a Fé católica deste Concílio passaram a ser denominados MELQUITAS.
Havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também haviam mantido a Fé Católica Calcedoniana, os quais apresentamos no artigo anterior (os Maronitas).

Como vimos, portanto, os cristãos de Antioquia que não integravam o Povo Maronita e que se mantiveram fiéis à Fé Católica e Ortodoxa professada no Concílio de Calcedônia, passaram a ser conhecidos como Melquitas. Conheçamos um pouco mais de sua história.


OS 4 MOMENTOS RELEVANTES NA FORMAÇÃO DA IGREJA MELQUITA

Concílio de Calcedônia

O primeiro momento decisivo foi a precipitação sociopolítica logo após o Concílio de Calcedônia, ocorrido em 451 d.C. Como já foi dito, a sociedade cristã do Oriente Médio dividiu-se fortemente entre aqueles que não aceitaram e os que aceitaram o Concílio: os primeiro, anti-calcedonianos, também chamados "pré-calcedonianos" ou miafisistas, predominaram sobretudo nas províncias da Armênia (dando origem à Igreja Apostólica Armênia) e Egito (dando origem à Igreja Copta Ortodoxa), além de uma parte do Patriarcado de Antioquia (Igreja Sirian-Ortodoxa); Já os cristãos, tanto de Jerusalém quanto de Antioquia e de Alexandria (Egito) e que eram principalmente de língua grega, defensores do Concílio (calcedonianos, portanto católicos), como vimos, passaram a ser chamados Melquitas (imperiais).


Batalha de Yarmuk

O segundo momento de definição ou, mais corretamente, de mudança, deu-se com a "Batalha de Yarmuk" (ano 636) que tirou os fiéis Melquitas do controle bizantino e os colocou sob o domínio dos invasores árabes. Enquanto a língua e a cultura gregas continuavam importantes, especialmente para os Melquitas de Jerusalém, a tradição antioquena Melquita se fundiu com a língua e a cultura Árabes. De fato, havia poesia cristã árabe antes da chegada do Islã, mas o antioqueno que se misturava à cultura árabe levou a um certo distanciamento do Patriarca de Constantinopla. Além disso, como vimos anteriormente, os canais de comunicação com Constantinopla e Roma foram bloqueados pelos árabes.

Apesar da invasão árabe, os Melquitas continuaram a desempenhar um papel importante na Igreja Universal. Os Melquitas desempenharam um papel de liderança na condenação da controvérsia iconoclasta quando reapareceram no início do século IX, e estavam entre as primeiras Igrejas do Oriente a responder à introdução da cláusula Filioque no Ocidente.



O terceiro momento decisivo foi quando em 1054, o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulario e o Cardeal Humberto de Silva Cândida, legado do Pontífice Romano, excomungaram-se mutuamente, o que equivalia à Igreja de Constantinopla excomungando a Igreja de Roma e esta, por sua vez, excomungando a Igreja de Constantinopla. Assim formalizou-se aquele episódio que passaria a ser conhecido na história como "o grande Cisma do Oriente". Neste episódio, as Igrejas e os cristãos que permaneceram unidos em comunhão com a Igreja de Roma mantiveram o título de Católicos (como por exemplo os Maronitas), ao passo que os cristãos e as Igrejas que aderiram ao cisma de Constantinopla passaram a denominar-se Ortodoxos, por exemplo, a Igreja de Jerusalém.

Mas, e a Igreja e os cristãos de Antioquia? Como vimos, além dos cristãos pertencentes ao Patriarcado Maronita de Antioquia, que mantiveram a comunhão com a Igreja de Roma, havia os cristãos e a Igreja de Antioquia (não Maronitas) que eram conhecidos como Melquitas. Pois bem, o Patriarca Melquita de Antioquia Pedro III resolveu rejeitar tomar partido na discussão-cisão entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla, mantendo assim a Comunhão da Sé de Antioquia com ambas as Igrejas (de Roma e de Constantinopla).

Durante as cruzadas, foram introduzidos prelados latinos nas sedes Apostólicas do Oriente. Além disso, a Quarta Cruzada viu o saque de Constantinopla e seu domínio pelos cruzados por cinquenta e sete anos. Com todos esses desenvolvimentos, aconteceu que os simpatizantes e convertidos dos missionários latinos tornaram-se verdadeiros partidários "pró-ocidentais" e "pró-católicos" dentro daquilo que passou a ser conhecido como "Ortodoxia". Para se ter uma ideia, ao longo do século XVII, jesuítas, capuchinhos e carmelitas estabeleceram missões não apenas entre os Melquitas do Patriarcado de Antioquia, como também nos territórios dos Bispos Ortodoxos (em Comunhão com Constantinopla).

A partir de 1342, os frades católicos romanos abriram missões no Mediterrâneo Oriental, particularmente em Damasco, onde desenvolveram ótimas relações, de modo que seus ensinamentos tiveram uma influência importante sobre o clero e o povo melquita. Além da forte presença franciscana, na tradição melquita, foram os jesuítas, fundados apenas em 1534, que foram realmente decisivos na formação do "partido católico romano" dentro do Patriarcado de Antioquia, o que aproximava ainda mais a relação deste Patriarcado com a Sé Apostólica de Roma. Os jesuítas não eram frades, mas algo como os padres altamente instruídos da Chancelaria Patriarcal, o que os tornava mais aceitáveis.


Patriarca Cirilo VI Tanas
O quarto momento decisivo foi a eleição de Cirilo VI Tanas, pelos bispos melquitas da Síria, como o novo Patriarca de Antioquia. O Patriarca de Constantinopla Jeremias III temia que sua e influência em Antioquia e sua autoridade no Oriente estivesse comprometida por considerar Cirilo muito "pró-ocidental" e "pró-Roma". Por conta disso, resolveu não reconhecer a eleição de Cirilo, considerando-a inválida. "Excomungou" Cirilo e ordenou o diácono Silvestre de Antioquia, um monge grego, padre e bispo, nomeando-o em seguida como "Patriarca de Antioquia". 

Como era de se esperar, todos os Melquitas tinham consciência da legitimidade da eleição de Cirilo ao trono patriarcal e que o Patriarca de Constantinopla Jeremias III havia tentado removê-lo apenas para reforçar a sua autoridade sobre o Patriarcado de Antioquia (essa espécie de "domínio" constantinopolitano sobre a versão ortodoxa do Patriarcado de Antioquia permaneceu até 1899). Jeremias e Silvestre começaram uma campanha de perseguição contra Cirilo e os fiéis melquitas que durou cinco anos, auxiliados pelas tropas otomanas. Isso fez com que alguns, mesmo reconhecendo a legitimidade de Cirilo VI Tanas como Patriarca de Antioquia, por medo cedessem à pressão aceitando Silvestre como Patriarca.
Patriarca Máximos III Mazloum

Cinco anos após a eleição de Cirilo VI, em 1729, o Papa Bento XIII o reconheceu como o legítimo Patriarca de Antioquia, reconhecendo a ele e também a seus sucessores como em plena comunhão com a Igreja de Roma. A partir de então, os seguidores do legítimo Patriarca de Antioquia Cirilo VI Tanas mantiveram o título de Melquitas que usavam até então, sendo esse Patriarcado chamado Igreja Greco-Melquita Católico de Antioquia. Já os seguidores do Patriarca Silvestre, imposto pelo Patriarca de Constantinopla Jeremias III, separaram-se formalmente de Roma e passando a constituir o chamado Patriarcado Grego Ortodoxo de Antioquia. Desde então deixaram de utilizar o termo "Mequita", que a partir daquele momento passou a ser usado apenas por aqueles que estavam em comunhão com Roma.

Interior da Catedral da Dormição da Mãe de Deus, sede do Patriarcado (Síria)


A Igreja Católica Greco-Melquita, desde então, desempenhou um papel importante na liderança do cristianismo árabe. Ela sempre foi liderada por cristãos de língua árabe,  enquanto que sua contraparte ortodoxa possuía patriarcas gregos até 1899. De fato, no início de sua existência separada, por volta de 1725, um de seus líderes leigos mais ilustres, o sábio e teólogo Abdallah Zakher de Allepo (1684 - 1748) montou a primeira impressora do mundo árabe.


Em 1835, Máximos III Mazloum, Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia, foi reconhecido pelo Império Otomano como líder de um "milheto", que era o status dado pelo Império Turco-Otomano a uma comunidade religiosa distinta dentro do Império. O Papa Gregório XVI deu a Máximos III Mazloum o tri-patriarcado: de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, por ter - historicamente - cristãos melquitas presentes nessas 3 sedes Patriarcais (lembrar o ocorrido após o Concílio de Calcedônia, onde os cristãos desses territórios que adotaram o Concílio Calcedoniano [católicos] e "seguiram o imperador", por isso Melquitas ["imperiais" ou "reais]. Esse título é mantido pelo Patriarca Melquita até nossos dias.

Em 1847 o Papa Pio IX (1846 a 1878) restabeleceu o Patriarcado Latino de Jerusalém na pessoa de Giuseppe Valerga. Conhecido por zeloso pastor, quando ele chegou em 1847, havia 4.200 católicos latinos em Jerusalém. Quando ele faleceu, em 1872, o número havia mais que dobrado. Ainda assim, seu extremo zelo, benéfico por um lado, trazia outro problema: a grande aversão que tinha às Igrejas cismáticas (ortodoxas) da Terra Santa fez com que, de certa forma, acabasse promovendo uma certa latinização entre os melquitas. Tal problema chegou ao ápice quando o Patriarca Clemente Bahouth introduziu o calendário gregoriano usado pelas Igrejas Latina e Maronita, em 1857; esse ato causou tantos conflitos ao ponto de um grupo de melquitas entrarem um cisma, o que fez com que Clemente abdicasse de sua posição como Patriarca.


Patriarca Gregório II Youssef
O sucessor de Clemente, Patriarca Gregório II Youssef (1864-1897) trabalhou para restaurar a paz na comunidade, conseguindo desfazer o cisma. Durante seu reinado, Gregório fundou o Colégio Patriarcal em Beirute em 1865, o Colégio Patriarcal em Damasco (em 1875) e reabriu o Seminário Melquita de Ain Traz em 1866. Além disso, promoveu o estabelecimento do Seminário de Santa Ana, Jerusalém, em 1882 onde os "Padres Brancos" ficaram encarregados da formação do clero melquita. A Igreja Melquita teve grande expansão durante esse período: após 1870, o Patriarca Gregório encorajou a maior participação dos leigos melquitas tanto na administração da Igreja quanto nos assuntos públicos. Além disso, estimulou o pastoreio dos Melquitas que haviam imigrado para as Américas, enviando sacerdotes para esses países.

Ainda sobre a questão da latinização, quando ascendeu ao Trono Pontifício, o Papa Leão XIII abordou algumas das preocupações das Igrejas Católicas Orientais sobre a latinização e as tendências centralizadoras de Roma, publicando a Encíclica Orientalium Dignitas. Leão XIII também afirmou que as limitações impostas ao Patriarcado Armênio pela Carta Reversurus de Pio IX, de 1867, não se aplicariam à Igreja Melquita. Além disso, Leão XIII reconheceu formalmente uma expansão da jurisdição do Patriarca Gregório para incluir todos os Melquitas em todo o Império Otomano.


Sua Santidade o Papa Pio XI recebe Sua Beatitude o Patriarca Greco-Melquita Dimitrios Cadi
02 de junho de 1923

Conflitos do Vaticano II sobre tradições latinas e melquitas

Durante o Concílio Vaticano II, o Patriarca Máximos IV Sayegh defendeu a tradição oriental da Igreja, ganhando o respeito de todos, inclusive dos observadores ortodoxos, bem como a aprovação do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Atenágoras I.

Após o Concílio Vaticano II, os Melquitas passaram a restaurar o
Arcebispo Joseph Raya
seu culto tradicional, eliminando as latinizações acumuladas nos últimos séculos. Vale mencionar que tais processos não se deram sem conflitos, tanto da parte de algumas igrejas melquitas que não concordavam com a total e radical "des-latinização", assim como por parte de alguns melquitas dos EUA que se opuseram à celebração da Divina Liturgia bizantina em língua vernácula, algo estranho no Rito Romano (até então em latim) mas que era visto com maior naturalidade entre os cristãos de tradição bizantina. Um dos líderes do movimento pela Divina Liturgia em vernáculo era o então Padre Joseph Raya, que posteriormente foi sagrado Arcebispo de Nazaré: a seu pedido, o Venerável Bispo Fulton Sheen, tão famoso por sua evangelização no rádio e na tv, celebrou a Divina Liturgia em inglês na convenção nacional melquita, em Birmingham (Alabama).



Venerável Arcebispo Fulton Sheen, em paramentos bizantinos
Em 1960, a questão foi resolvida pelo Papa João XXIII, a pedido do Patriarca Máximos IV Sayegh, em favor do uso das línguas vernáculas na celebração da Divina Liturgia. Além disso, o próprio Papa João XXIII consagrou o padre melquita Gabriel Acacius Coussa como Bispo, consagração celebrada em Rito Bizantino, na Capela Cistina em Roma. O Bispo Coussa seria elevado ao Cardinalato, mas faleceu dois anos depois. Sua causa de canonização foi introduzida por sua ordem religiosa melquita, a Ordem Basiliana Alepiana.


Sagração Episcopal do Bispo Melquita Gabriel Acacius Coussa em Rito Bizantino por Sua Santidade o Papa João XXIII
    


A Igreja Melquita no Mundo

Devido à forte emigração do Mediterrâneo Oriental, que começou com os massacres de Damasco em 1860, nos quais a maioria das comunidades cristãs foram atacadas, a Igreja Católica Greco-Melquita acabou espalhando-se por todo o mundo: agora não mais é composta exclusivamente por fiéis de origem mediterrâneo-oriental.
Patriarca Máximos V Hakim

O Patriarca Máximos V viu muitos avanços na presença mundial da Igreja Melquita, os melquitas que vivem na chamada "diáspora": as Eparquias (o equivalente oriental de uma Diocese) foram estabelecidas nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Austrália, Argentina e México, em resposta ao esvaziamento do Mediterrâneo oriental de seus povos cristãos nativos. Além disso, alguns historiadores afirmam que, após a revolução no Egito em 1952, muitos melquitas deixaram o Egito devido às políticas islâmicas, nativistas e socialistas.

Em 1967, um egípcio nativo de ascendência síria (de Alepo), George Selim Hakim, foi eleito sucessor de Máximos IV e recebeu o nome de Máximos V. Ele reinou até se aposentar aos 92 anos de idade, no ano santo do jubileu de 2000. Máximos V repousou no Senhor, na festa de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho de 2001. Foi sucedido pelo Arcebispo Lufti Laham, que recebeu o nome de Gregório III Laham e foi o Patriarca Melquita de 2000 a 2017. 

Sua Beatitude Gregório  III Laham e Sua Santidade Bento XVI

Em 2014 o Patriarca Gregório III Laham visitou o Brasil, tendo passado pelas comunidades Melquitas do Brasil, concluindo a visita com uma Divina Liturgia na Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo, a sede da Eparquia Greco-Melquita do Brasil. Abaixo, um pequeno vídeo da visita do Patriarca à Juiz de Fora (MG), em 2014:



Sua Beatitude Gregório III Laham renunciou ao título de Patriarca em 6 de maio de 2017. Foi sucedido por Youssef I Absi, atual Patriarca Greco-Melquita de Antioquia.

Sua Beatitude Youssef Absi pertence à ordem Melquita dos Padres da Sociedade Missionária de São Paulo ("Paulitas"). Em 22 de junho de 2001, foi nomeado Arcebispo titular de Tarso, além de Bispo curial e auxiliar do Patriarcado. Sua sagração episcopal se deu pelas mãos do Patriarca Gregório III Laham, tendo como co-sagrantes os Arcebispos Melquitas Jean Mansour, títular de Apamea na Síria, e Joseph Kallas, Arquieparca de Beirute e Jbeil. A sagração ocorreu em 2 de setembro de 2001.

De 1999 a 2006 foi o Superior Geral de sua comunidade religiosa. Em outubro de 2007, foi nomeado vigário patriarcal da Arquidiocese de Damasco. Em 21 de junho de 2017, foi eleito Patriarca da Igreja Greco-Melquita Católica. Sua eleição ocorreu um mês após o Papa Francisco ter aceito a renúncia de Gregório III Laham. 
Sua Beatitude Youssef I Absi,
atual Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia

Por questões históricas relativas às perseguições sofridas no decorrer dos séculos, a Sé Patriarcal está localizada em Damasco, embora - como vimos - a Igreja Greco-Melquita seja, por sucessão apostólica, a antiga Sé de Antioquia. O Patriarcado é administrado por um sínodo permanente que inclui além de Sua Beatitude o Patriarca, quatro bispos, o tribunal ordinário para assuntos jurídicos, o economista patriarcal que serve como administrador financeiro e uma chancelaria.

A Igreja Greco-Melquita Católica de Antioquia conta também com diversas ordens religiosas e monásticas, tanto do ramo masculino quanto feminino.

A LITURGIA MELQUITA


Divina Liturgia dos Greco-Melquitas (Rito Bizantino) celebrada em Paris (2017)

Embora a Igreja Melquita seja sucessora do Patriarcado de Antioquia, o "Greco" presente em seu nome indica que sua liturgia não mais é de tradição siríaca como se poderia supor. Ou seja, seu Rito não é mais o Rito Antioqueno, mas sim o Rito Bizantino. Como vimos em artigo anterior, a outra parte do Patriarcado de Antioquia que originou a Igreja Maronita preservou a Liturgia Antioquena. Já a parcela que originou a Igreja Melquita (e posteriormente a Igreja Ortodoxa de Antioquia) por influência de Constantinopla acabaram, aos poucos, substituindo os Ritos próprios pelo Rito Bizantino. Isto, aliás, se deu em todos os territórios que passaram a denominar-se "ortodoxos": por exemplo, também no Egito os que não aderiram à Igreja Copta (que usa o Rito Copta) passaram a adotar o Rito Bizantino Este, é comum a todas as Igrejas pertencentes à comunhão Ortodoxa.

No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, enquanto o siríaco era a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. O grego e sua Liturgia (Bizantina) acabaram prevalecendo na cidade e territórios mais influenciados por Constantinopla, enquanto o Siríaco e a Liturgia Antioquena perseveraram entre o povo Maronita (das montanhas, falantes do siríaco) e os "jacobitas" (anti-calcedonianos).

Desde as invasões árabes, na Liturgia Bizantina da Igreja Greco-Melquita Católica, além do grego, também o árabe passou a fazer parte como língua litúrgica oficial até nossos dias. Ainda assim, como vimos, também as línguas vernáculas passaram a fazer parte conforme o país em que os melquitas se encontram presentes.


A IGREJA GRECO-MELQUITA NO BRASIL

Os Melquitas passaram a se fazer presentes no Brasil juntamente com as ondas migratórias dos primeiros sírios e libaneses que aqui chegaram, já em meados de 1869. A primeira Igreja própria, a Igreja de São Basílio, foi fundada em 1941 no Rio de Janeiro, pelo então Padre Elias Coueter que, posteriormente, tornar-se-ia o primeiro Arcebispo Melquita do Brasil.


Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, sede da Eparquia Greco-Melquita no Brasil
Em  1952 foi construída a Catedral de Nossa Senhora do Paraíso, localizada no início da Avenida Paulista, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Em 29 de novembro de 1971 a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso foi criada, sendo definitivamente instituída em 26 de maio de 1972 pelo Papa Paulo VI, que instituiu a Catedral Nossa Senhora do Paraíso como sua Sé. Desde então a Eparquia já contou com 6 bispos:

1º - Dom Elias Coueter, de 1971 a 1978.
2º - Dom Spiridon Mattar, de 1978 a 1990.
3º - Dom Pierre Mouallem, de 1990 a 1998.
4º - Dom Fares Maakaroun, de 1999 a 2014.
5º - Dom Joseph Gébara, de 2014 a 2018.

De 2018 a agosto de 2019, a Eparquia ficou a cargo de uma administrador apostólico (latino), Dom Sérgio de Deus Borges.

6º Eparca - Escolhido pelo Santo Sínodo Melquita, em 17 de junho último, foi nomeado pelo Papa Francisco o então Arquimandrita (Monsenhor) George Khoury, pároco da Igreja de São Basílio no Rio de Janeiro, como o novo eparca dos católicos greco-melquitas do Brasil. Sua sagração episcopal ocorreu em Safita, na Síria, sua cidade natal, pelas mãos de Sua Beatitude o Patriarca Youssef Absi, em 25 de Agosto de 2019.


Sagração Episcopal de Dom George Khoury

A Santa Missa de entronização e Posse Canônica do novo Eparca em sua catedral-sede da Eparquia, ocorreu no último domingo, dia 22 de setembro de 2019, e contou com a participação de Sua Beatitude Youssef Absi, vindo da Síria exclusivamente para isso. Além do Patriarca, estiveram presentes o clero Melquita do Brasil: Dom Fares Maakaroun, eparca emérito dos melquitas do Brasil, além de padres vindos das diversas Igrejas Melquitas de nosso país; também o Arcebispo Dom Volodêmer Koubech (da Arquieparquia Greco-Ucraniana do Brasil), Dom Vartan Boghosian (Bispo Emérito do Exarcado Apostólico Armênio Católico da América Latina), Dom Edgard Madi (Bispo da Eparquia Católica Maronita do Brasil), Dom Damaskinos Mansour (Arcebispo da Arquieparquia Ortodoxa Antioquena do Brasil) além de Bispos Latinos, incluindo Dom Sérgio de Deus Borges, que fora o Administrador Apostólico durante os 14 meses de vacância da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso do Greco-Melquitas Católicos do Brasil.

A seguir, algumas imagens da Divina Liturgia presidida por Sua Beatitude, assim como a Posse Canônica de Dom George Khoury como novo Eparca:








Além da Catedral Melquita em São Paulo, a Igreja Melquita está presente em outras três igrejas:

- Igreja de São Basílio, no Rio de Janeiro - RJ;
- Igreja de Nossa Senhora do Líbano, em Fortaleza - CE;
- Igreja de São Jorge, em Juiz de Fora - MG;

Há também duas comunidades:

- Comunidade de Sant´Ana, em Taubaté - SP
- Comunidade de São Sebastião, em Tremembé - SP

Para completar, também há melquitas atendidos em uma Igreja Siríaca e em duas Latinas, onde lhes são administrados os sacramentos em seu rito (Bizantino):

- Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Igreja dos Sírios), em Belo Horizonte - MG
- Igreja de Santa Helena, em Votorantim - SP
- Santuário do Bom Jesus, em Boa Esperança - Minas Gerais

Esperamos que com este simples artigo possamos, de alguma forma, contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.

Viva a Igreja Melquita! Viva a Igreja Católica!

Fontes:
- A Igreja Greco-Melquita no Concílio - Máximo IV (patriarca) e vários autores
- Os Melquitas - Roberto Khatlab
- Sites diversos, principalmente estrangeiros.
Adaptações, traduções, revisão e acréscimos:
- Oriente Católico

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Igrejas Católicas Orientais: 02 - A IGREJA MARONITA


Monges Maronitas - foto de (aproximadamente) 1880

A Igreja Siríaca Maronita de Antioquia, em Siríaco (ܥܕܬܐ ܣܘܪܝܝܬܐ ܡܪܘܢܝܬܐ ܕܐܢܛܝܘܟܝܐ) e em árabe (الكنيسة الأنطاكية السريانية المارونية), também chamada Igreja Católica Maronita ou simplesmente Igreja Maronita é umas das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma, portanto, que reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice e líder de todos os católicos. Há, atualmente, entre 3 e 4 milhões de Maronitas em todo o mundo, dos quais em torno de 1 milhão e meio encontra-se no Líbano. Mas afinal, quem são os Maronitas?

Coat of Arms of the Maronite Patriarchate.svg
Brasão inscrito em siríaco e latim: "A glória do Líbano lhe foi dada" (Isaías 35,2) referindo-se aqui ao Patriarca Maronita

ORIGEM DA IGREJA MARONITA

Os maronitas são os cristãos católicos orientais que devem seu nome a São Maron. Em documentos siríacos muito antigos, podemos ler os seguintes vocábulos: Os fiéis de Beth (casa) Maron, Calcedônios (isto é, seguidores do Concílio de Calcedônia) de Beth Maron, aqueles de Mar Maron, seguidores ou filhos de Mar Maron. Esses vocábulos convergem todos para uma única palavra que os representará: a palavra MARONITA. Essa palavra referir-se-á ao povo que no Patriarcado de Antioquia seguiu a orientação religiosa de São Maron e seus discípulos.

Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma e ao seu  bispo, o Papa. Nessa Comunhão, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. As 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos no artigo anterior), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano, o Bispo de Roma: o Papa.

Embora algumas parcelas tenham se apartado da Igreja já após o Concílio de Éfeso (no ano 431), podemos dizer que a Igreja mantinha-se, de certa forma, unida em um único e mesmo corpo até o Concílio de Calcedônia (em 451): Seus 5 grandes Patriarcados ainda permaneciam unidos numa mesma Comunhão de Fé-Doutrina e Hierarquia. Apenas em 451, quando se deu o Concílio de Calcedônia, é que se deu a separação de uma grande parcela da Igreja de Cristo: houve um grande número daqueles que não aceitaram as definições do Concílio, os então chamados "monofisitas". Estes, aos poucos conseguiram apossar-se do Patriarcado de Jerusalém (Teodosio em 452), de Alexandria (Timóteo Eluro em 457) e de Antioquia (Pedro Fulão em 470). O imperador Leão I (457 - 474) teve de intervir, depondo-os. A parcela que neste artigo nos interessa é a parcela da Igreja do Patriarcado de Antioquia.

Dentro do Patriarcado de Antioquia, no pós Concílio (de Calcedônia), havia portanto dois grupos: aqueles que seguiram a Fé professada neste Concílio, os católicos, também chamados "calcedonianos"; e aqueles que a rejeitaram, posteriormente chamados "jacobitas" (devido ao nome de um dos principais bispos propagadores da fé anti-calcedoniana, Jacob Baradeu).

Com a intervenção do Imperador contra os  que haviam se apossado do Patriarcado de Antioquia, depondo o Patriarca e clero monofisita (estes subsistiram naquela que hoje é chamada Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia) e restabelecendo Patriarca e clero calcedonianos (católicos), estes últimos que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia, vistos pelos outros como "seguidores do Imperador", partidários do Rei, portanto apelidados pejorativamente "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "Reais"). Sendo assim, enquanto os cristãos de Antioquia que não aceitaram o Concílio de Calcedônia (monofisitas) apartaram-se da Igreja, aqueles que seguiram a Fé católica deste Concílio passaram a ser denominados Melquitas.

Mas havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também haviam mantido a Fé Católica Calcedoniana, sendo um dos principais grupos a defender e propagar essa fé no oriente: os seguidores de São Maron, por isso chamados Maronitas. Mas, antes de mais nada, quem foi São Maron?

SÃO MARON



A primeira fonte de informação que diz respeito a São Maron é uma carta que São João Crisóstomo mandou em 405, de seu exílio na Armênia, a Maron sacerdote eremita, na qual pede sua oração e se lamenta porque não pode visitá-lo pessoalmente. Esta carta é um testemunho autêntico de um contemporânea que conheceu pessoalmente São Maron e apreciou muito a sua piedade.

A segunda fonte de informação apareceu uns vinte anos mais tarde. É a famosa obra obra "História Religiosa" do Bispo, historiador e teólogo Theodoreto de Cyr (Quroch) que deu maiores informações sobre a vida do eremita São Maron e de sua influência espiritual sobre seus discípulos e sobre o povo na região norte da Síria. Segundo o Bispo de Cyr (393-452), na metade do século IV e nos princípios do século V, sobre uma montanha situada na região da Apaméia, vivia um santo anacoreta chamado Maron. Retirou-se em aquela montanha, perto de um templo pagão que ele próprio convertera em igreja. Dedicava-se à oração e à penitência.


Theodoreto disse também que São Maron, de origem Antioquena, foi dotado de muita sabedoria, o que fez dele grande diretor de almas. A austeridade de sua vida e o dom dos milagres do qual foi favorecido fizeram dele uma das grandes celebridades da região naquela época.

"Deus sendo rico e generoso para com os seus santos o gratificou com o dom de curar doenças. Sua fama espalhou-se em toda a região. As multidões ocorriam a ele... com efeito, a febre parava sob o rocio de sua bênção, os demônios fugiam, os enfermos recuperavam a saúde pela virtude de um único remédio: a oração do santo.  Porque os médicos prescrevem um remédio para cada doença, mas a prece dos amigos de Deus mostra-se como o remédio que cura todas as doenças."

O mesmo historiador chama São Maron: "O Grande, o Sublime". Por suas orações e pregações ele convertera a muitas pessoas da cidade de Cyr (Curoch) e de toda a região norte da Síria à Fé Católica e se tornou um grande exemplo a ser seguido. Foi considerado um dos fundadores e modelos da vida monástica no oriente. Numeroso foram os discípulos, homens e mulheres, que seguindo o exemplo deste eremita e querendo imitá-lo, transformaram as cavernas, grutas e morros em ermidas. Todos esperavam a visita do santo para escutaram seus sermões e receber dele as orientações necessárias para a vida ascética e mística.

O famoso historiador termina a biografia de São Maron falando de sua morte que ocorreu perto de 410, depois de breve doença mostrando no mesmo momento a fraqueza da natureza humana e a sua força espiritual. O desejo de conseguir os seus restos mortais levou a uma forte disputa entre os habitantes das cidades vizinhas. Ao fim e ao cabo, os habitantes da maior cidade conseguiram levar suas relíquias. Sobre seu túmulo, mais tarde construíram uma grande igreja. Sua festa litúrgica celbra-se, desde muitos séculos, no dia 9 de fevereiro.

DISCÍPULOS NOS MOSTEIROS DE SÃO MARON

São Maron e seus discípulos

São Maron morreu perto de 410, mas sua escola de ascetismo muito prosperou. Seus discípulos construíram vários mosteiros e se espalharam por toda a Síria, alguns deles chegando à Montanha Libanesa onde converteram à Fé Católica os habitantes que ainda eram pagãos (neste período os habitantes do litoral libanês e uma pequena parte da montanha já a haviam recebido no primeiro e segundo século da era cristã). O que facilitou a evangelização foi notadamente a língua siríaca que era comum aos monges de São Maron e aos habitantes da Montanha  Libanesa.

Vários discípulos de São Maron, com Theodoreto de Cyr,  foram, no Oriente, os principais defensores do Concílio de Calcedônia (451). O imperador Marciano, muito satisfeito pelo empenho e dedicação dos discípulos de São Maron em consolidar e propagar o dogma católico declarado no Concílio de Calcedônia, mandou renovar o grande mosteiro pertencente aos monges discípulos deste santo, conhecido sob o nome de Mosteiro de São Maron, porque nele foram depositados os restos mortais do santo eremita. Foi considerado como o berço da Igreja Maronita.

Desde então, todos aqueles que seguiram os ensinamentos de São Maron e caminharam segundo os conselhos de seus monges, abraçando a doutrina do Concílio de Calcedônia, foram chamados Maronitas, nome que há mais de quinze séculos lhes é um glorioso título, porque este vocábulo foi sempre sinônimo de Católico. Esses discípulos de São Maron organizaram o núcleo principal da Nação Maronita que será baluarte da luta em favor da fé e em benefício do triunfo da verdade sobre a mentira e da liberdade contra a opressão.

Os 350 mártires monges Maronitas

No ano 517, os cristãos monofisitas, chamados Jacobitas, que não aceitaram o dogma definido no Concílio Ecumênico de Calcedônia. Em uma verdadeira emboscada, assassinaram cerca de 350 monges Maronitas, conhecidos como mártires da casa de Maron. O Papa Hermes II mandou uma carta de consolação aos principais membros da Comunidade, lembrando que estes mártires, desde o início, selaram a Fé Católica com o próprio sangue.

INSTITUIÇÃO DO PATRIARCADO MARONITA

A instituição do Patriarcado Maronita aconteceu no final do século VII/começo do século VIII,  entre o ano 685 e 707. Não existe ainda um  consenso entre os historiadores, principalmente pelo fato de que a importante biblioteca do Mosteiro de São Maron foi queimada pelos Árabes no século X.

Nos primeiros séculos do Cristianismo, uma grande parte dos Cristãos de Antioquia era de língua grega. Mas quando os habitantes das aldeias rurais, falando exclusivamente o aramaico, converteram-se ao Cristianismo, a partir do século V, graças à inciativa dos monges Maronitas, a balança das forças na Igreja da Síria inclinou-se para o lado destes e de todos os cristãos arameus. Após morte do Patriarca Antioqueno Anastácio II (598-610) a sede de Antioquia ficou sem titular até o ano 645. Os acontecimentos político-religiosos se sucederam com muita velocidade, começando pela invasão árabe no ano 636, que cortou as vias de comunicação entre Antioquia e Bizâncio, por um lado, e Antioquia e Roma, por outro. O imperador Bizantino, aproveitando desta situação confusa, passou a nomear, a partir de 645, Patriarcas para a sede de Antioquia. Estes, no entanto, atuavam mais como representantes eclesiásticos: viviam no Palácio imperial, em Constantinopla,  bem longe do povo Antioqueno e sem a aprovação do Papa. Assim, todo Patriarca  Antioqueno escolhido pelo Imperador bizantino era só Patriarca nominal, não exercendo,  nem podendo exercer, suas funções e obrigações de autêntico pastor de sua Igreja.

YUHANNA MARON, PRIMEIRO PATRIARCA MARONITA

São Yuhanna Maron, primeiro Patriarca Maronita

Por razão desta situação confusa e humilhante para a igreja de Antioquia, os fiéis ao Concílio de Calcedônia, portanto católicos, defensores da Fé  ortodoxa, não pararam diante de uma lei, não pediram o conselho de ninguém, não aceitaram nenhuma nomeação de estranhos. Reuniram-se e decidiram eleger um patriarca que vivesse no meio do povo, que conhecesse a realidade do povo. Para essa finalidade, atendendo a esses pré-requisitos, foi eleito e entronizado o Bispo de Batroun, Yuhanna (João) Maron, como primeiro Patriarca Maronita de Antioquia. Segundo seus biógrafos, antigos e moderno, o santo Bispo Yuhanna Maron, nascido em Sarum (cidade de Antioquia) fez seus estudos no mosteiro de São Maron na Síria central e ali fora ordenado. O legado do Papa na Terra Santa o nomeou Bispo de Batroun (norte do Líbano) em 675 ou 676. Em 686 (provavelmente) foi o ano em que foi eleito Primeiro Patriarca Maronita de Antioquia pelos monges siríacos do Patriarcado de Antioquia com o apoio do povo.

Desde a sua entronização teve que enfrentar dois obstáculos de grande importância: O primeiro veio da parte do imperador Justiniano II que recusou reconhecê-lo como Patriarca. O segundo  obstáculo consistiu no confronto com o império árabe Omyade, cuja capital era Damasco.

Depois de sua eleição, o primeiro Patriarca Maronita teve uma passagem rápida em Antioquia, na Igreja do mártir São Bábilas. Perseguido pelo Imperador Justiniano II, deixou Antioquia para dirigir-se ao Mosteiro de São Maron, na província de Apaméia. Perseguido pelo exército bizantino, teve que se dirigir ao Líbano e estabelecer sua residência provisória em Kfarhai, região de sua antiga diocese (Batroun) onde guardou como relíquia de grande valor o crânio de São Maron.

Além disso, os árabes não queriam admitir a presença de um patriarca no Líbano dando apoio e acréscimo de força aos exércitos Maradat, inimigos dos árabes. Desde então passaram a recomeçar os combates entre árabes e Maradat no início do Patriarcado de Yuhanna Maron. Este, que era conhecido por sua sabedoria e santidade, por reunir qualidades de Pastor religioso e chefe político, unindo também o povo maronita em uma verdadeira nação cujo pilar era a Fé Católica, quando morreu, foi alçado à honra dos altares. É celebrado em 2 de março de cada ano.

Assim nasceu o maronismo, um ato de contestação, de liberdade, uma iniciativa única em seu gênero na Igreja. Ao instituir o Patriarcado autônomo, sem pedir autorização do Califa Omíada e do Imperador Bizantino, segundo a mentalidade da época, os Maronitas cometiam um ato de rebeldia e audácia incrível. Além disso, mais tarde não aceitaram solicitar a investidura (Firman) exigida pelos governadores muçulmanos para todos os Patriarcas e bispos. Os discípulos de São Maron têm sustentado essa negativa desde a época dos Califas Omíadas até o ano 1918, data do fim da época otomana no Líbano. Deste ato de "ilegalidade" dos Maronitas que já dura doze séculos, disse o Papa Bento XIV:

"Perto do fim do século VII enquanto a heresia desolava o Patriarcado de Antioquia, os Maronitas a fim de Se colocarem ao abrigo desse contágio, resolveram escolher um Patriarca cuja eleição foi confirmada pelos Pontífices Romanos".

SEDES DOS PATRIARCAS MARONITAS

Convento de Nossa Senhora de Bkerke, Sede do Patriarcado Maronita de Antioquia 

Os Patriarcas Maronitas, apesar de serem Patriarcas de Antioquia, não tiveram a sua sede nesta cidade por causa das guerras e perseguições. No século X, depois da destruição do mosteiro de São Maron pelos árabes, a sede patriarcal foi transferida definitivamente para o Líbano no ano 939, por João Maron II. A maioria absoluta do povo Maronita já vivia nas montanhas libanesas.

Este povo foi formado por três grupos diferentes: os descendentes dos primeiros cristãos que viviam no litoral libanês, convertidos pela pregação dos Apóstolos e de seus discípulos nos séculos primeiro e segundo do Cristianismo; os libaneses arameus da Montanha Libanesa, convertidos do paganismo nos séculos V e VI, em virtude da pregação dos monges de São Maron; e finalmente o terceiro grupo dos cristãos que emigraram, notadamente da Síria, perseguidos por anti-calcedonianos e por muçulmanos.

As principais sedes patriarcais Maronitas no Líbano são quatro, e todas dedicadas à Virgem Santíssima:

1 - Convento de Nossa Senhora de Yanouh, entre Kartaba e Akoura, região de Biblos,  onde residiram 23 Patriarcas. O mais conhecido destes foi Jeremias Alamchiti.

2 - Convento de Nossa Senhora de Mayfouk, foi sede de 10 Patriarcas. Os mais importantes entre eles foram o mártir Gabriel de Hjoula e Yuhanna Eljajy II. Este, depois de morar alguns anos neste mosteiro, transferiu a sede patriarcal, em 1440, para Qannubin.

Sua Beatitude Cardeal Bechara Boutros Rai
Patriarca Maronita de Antioquia
3 - Convento Nossa Senhora de Qannubin, num profundo e inacessível vale onde residiram 25 Patriarcas. O mais famoso de todos eles é o Patriarca Estefan Douaihy.

4 - Convento Nossa Senhora de Bkerke, a partir de 1823, foi a sede de 9 Patriarcas: Yussef Hebaich, Yussef Elkhasen, Boulos Massad, Yuhanna Eljaji, Elias Elhoyek, Antonios Arida, Boulos Meouchy, Antonios Koraich, Nasrallah Sfeir e Bechara Raî, o atual Patriarca.

Como a ideia religiosa tem presidido à constituição do povo maronita, de uma maneira natural o Patriarca chegou a ser o seu centro de união e de adesão, ao mesmo tempo político e religioso. Este estatuto patriarcal tem sido reforçado por razão das perseguições que os Maronitas suportaram, notadamente na época dos Mamelucos e Otomanos. Segundo Frei Bernard, o Patriarca Maronita é a primeira autoridade moral do país e tem um papel de primeiro plano.

RELAÇÃO DOS MARONITAS COM ROMA

Sua Santidade o Papa Francisco e Sua Beatitude o Patriarca Bechara Boutros Rai

Durante quatro séculos, o isolamento pelo qual os Maronitas foram obrigados a passar fez com que desconhecessem o que se passava em Roma, assim como Roma parecia ignorar o que se passava com eles. Mas, com a chegada dos Cruzados ao Líbano, em 1099, os Maronitas conseguiram retomar o caminho que lhes haviam interditado. As relações que os Maronitas mantiveram com Roma e a Cristandade ocidental fez com que se levantassem fortes perseguições por parte dos governadores Mamelucos e Otomanos, que as usavam como pretexto para persegui-los.

Em consequência dessa tirania, assim como das dificuldades de comunicação com a Europa, não foi possível aos Patriarcas conseguirem com facilidade o Palium, símbolo de reconhecimento pelo Papa da autoridade do Patriarca sobre o povo Maronita. Roma fazia o que podia,  encarregando os Franciscanos da Terra Santa de velar sobre as necessidades religiosas e culturais da Igreja Maronita.

Quando das cruzadas, os Cruzados ficaram profundamente impressionados com a receptividade, a piedade e o carinho de seus irmãos católicos orientais Maronitas à Sé de Roma e ao sucessor de Pedro, o santo  padre o Papa. Os cruzados, de fato, contaram com a preciosa ajuda dos grandes guerreiros Maradat, que eram Maronitas, em diversas batalhas. São Luiz, Rei da França, escreveu uma carta ao Patriarca e ao povo Maronita onde dizia que estavam sob sua proteção da mesma forma que os próprios franceses.

A época de Fakreddin II (1598-1635) pode ser considerada como a idade de ouro das relações da Igreja Maronita com Roma. O Emir recorreu ao Patriarca Yuhanna Maklouf pedindo a sua intervenção perante o Papa para poder garantir a independência do Líbano. O Patriarca atendeu a seu pedido, encarregando grandes escritores formados no Colégio Maronita de Roma, de trabalhar como embaixadores do Emir em Roma, Toscana e Espanha. Entre eles estavam o Bispo Jorge Humaira (futuro Patriarca) e o professor Ibrahim Alhaqlany.

A fundação do Colégio Maronita em Roma em 1584 consagrou de vez a abertura da Igreja Siríaca Maronita de Antioquia à Igreja Latina de Roma.

Além disso, os Papas prestaram um valioso testemunho que enche de orgulho e de satisfação o povo Maronita. Assim, Leão X escrevia, em 1515, ao Patriarca Maronita Simaan Alhadacy:

"Convém agradecer à Divina clemência porque, entre as nações orientais, o Altíssimo queria que os Maronitas fossem como rosas entre espinhos".

Clemente XII, em 1735, qualifica a nação Maronita de:

"Rosa entre os espinhos, rocha muito sólida contra a qual se rompem as fúrias da infidelidade e das heresias".

São Pio X disse:

"Amamos todos os cristãos do oriente, porém os Maronitas ocupam um lugar especial em nosso coração, porque foram em todo o tempo a alegria da Igreja e o consolo do Papado... A fé católica está arraigada no coração dos Maronitas como os antigos cedros estão enraizados por suas poderosas raízes nas altas montanhas de sua pátria".

Não é necessário estender-se mais sobre este sublime apreço dos Papas aos Maronitas. Nos tempos recentes, três foram os Papas que visitaram o Líbano e o povo Maronita: primeiro foi o Papa Paulo VI, que o fez em 1964, seguido por João Paulo II em 1997 e, por fim, o Papa Bento XVI, que o fez em 2012.

Papa Bento XVI diante das escadarias de Nossa Senhora do Líbano (2012)

A LITURGIA MARONITA

A liturgia Maronita pertence, por sua origem, ao grupo de liturgias siríacas antioquenas, portanto, ao Rito (Siríaco) Antioqueno. No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, mas o siríaco foi a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. Theodoreto, bispo de Cyr e originário de Antioquia dizia também que toda a região que ele conhecia perfeitamente, entre Antioquia e Alepo, tinham o siríaco como língua própria. Por isso, o siríaco na liturgia substituirá, pouco a pouco, a língua grega, assim como mais tarde o árabe acabará substituindo em grande parte a língua siríaca nos países de língua árabe.


Esta liturgia, embora haja acumulado diversas influências litúrgicas (inclusive do Rito Latino) ao longo dos séculos, ainda continua a representar a antiga liturgia antioquena dos primeiros séculos, que por sua vez é fruto da Divina Liturgia de São Tiago Apóstolo, primeiro Bispo de Jerusalém.

Os monges de São Maron conservaram essa liturgia em sua forma primitiva e se opuseram a que fosse bizantinizada, como ocorreu com os demais membros católicos do Patriarcado de Antioquia "não Maronitas" que aos poucos substituíram o Rito Siríaco Antioqueno pelo Rito Bizantino (no caso, os Greco-Melquitas). Deste modo, a Liturgia Maronita, apesar das modificações introduzidas, conserva ainda intacto o selo de antiguidade do Rito Antioqueno.

A liturgia siríaca reproduz, em seu desenvolvimento e na vida das comunidades, um modo intermediário entre a Glória e a Paixão. Uma boa parte das orações é fruto da pena de Santo Éfrem denominado "Harpa do Espírito Santo", do grande mestre Jacob de Sarug e de muitos outros padres da Igreja de Antioquia que compuseram, na calma da meditação, estas belas orações.

A língua litúrgica, como já fora dito, é o siríaco ou siro-aramaico, isto é, o mesmo idioma que falou Nosso Senhor Jesus Cristo e que lhe serviu na Última Ceia para a instituição da Eucaristia. A Liturgia Maronita conserva, pois, a nota sublime destas palavras da Consagração.

Para conhecer mais o Rito da Igreja Maronita, isto é, o Rito Antioqueno, acesse ao nosso artigo sobre ele clicando AQUI.

OS SANTOS MARONITAS

Santa Rafka Elrayes, São Charbel Maklouf, SãoNaamtalla Kassab e o Beato Yaaqub Haddad

Da profunda e difícil vida e da espiritualidade da Igreja Maronita, sem jamais esquecer os inumeráveis fieis que deram suas próprias vidas pela Fé, existe um elenco de santos e beatos Maronitas, sinal da participação da Igreja particular (Maronita) na Igreja Universal (Católica). Além do grande São Maron, padroeiro da Igreja Maronita e de onde provém o nome desta Igreja, e de São Yuhanna Maron, de quem já falamos anteriormente porque fazem parte integrante da história da formação da Igreja Maronita, falaremos também de outros santos que foram beatificados e canonizados segundo as normas modernas ou recentes exigidas para a canonização.

Dentre eles podemos mencionar Santa Rafka Elrayes, nascida em 1832 em Himlaya, próximo à Beirute, numa família Maronita. Após perder a mãe ainda criança e ter experimentado um grande vazio durante sua adolescência, sentiu-se atraída por Deus, abraçando a vida religiosa aos 21 anos. No ano de 1860 Rafka presenciou as sangrentas matanças dos cristãos na Montanha Libanesa, o que foi para ela uma cruel experiência. Um domingo do Rosário (1º domingo do mês) de 1885, Rafka elevou a Deus suas orações desejando que Ele lhe permitisse assemelhar-se a Cristo em seus sofrimentos no Calvário. Pouco tempo depois, passou por uma cirurgia no olho direito que saiu mal, ficando cega e tendo o outro olho infeccionado. Após perder a visão dos dois olhos, passou por outros problemas de saúde, ficando praticamente acamada, tendo que ser transportada à Igreja carregada, envolta em lençóis. A tudo isso dava graças a Deus por permitir-lhe passar por sofrimentos que lhe fizessem semelhante a Nosso Senhor. Em 23 de março de 1914 entregou sua alma a Deus dizendo: "Jesus, Maria e José, lhes dou meu coração e meu espírito, tomem posse de minha alma". Foi canonizada em 10 de agosto de 2001.

Diversos outros exemplos de santo heroísmo e sublime santidade há no seio da Igreja Maronita, tais como os 350 mártires, monges Maronitas massacrados por aqueles que não aceitavam o Concílio de Calcedônia; Os mártires Francisco, Abdulmoti e Rafael, pertencente à família Maronita Massabki e conhecidos como Mártires de Damasco por terem sido aí martirizados no dia 10 de julho de 1860 juntamente com 8 franciscanos;  Também o grande Monge Maronita São Naamtalla Kassab, diretor geral dos seminaristas, professor de Teologia Moral e assistente geral da Ordem, conhecido por sua santidade, faleceu em 14 de dezembro 1858 e foi canonizado em 2004; Há também o Beato Maronita que tornou-se frade menor capuchinho e fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas da Cruz no Líbano, Abuna Yaaqub Haddad

Por fim, não há como não mencionar São Charbel Maklouf, santo de vida tão extraordinária que passou a ser conhecido e venerado não só dentre os fiéis da Igreja Maronita como também dentre os fiéis da Igreja Latina. Melhor do que simplesmente escrever algumas palavras sobre São Charbel, deixarei aqui dois links: o primeiro (AQUI) trata de uma apresentação da vida de São Charbel em Vídeo feita pelo Padre Paulo Ricardo; o segundo (AQUI) é o link de um ótimo filme da Vida de São Charbel; Todos estes são verdadeiros exemplos de como o Jardim Maronita produz belíssimas flores de santidade.

A IGREJA MARONITA NO BRASIL

Os Maronitas passaram a se fazer presentes no Brasil juntamente com as ondas migratórias dos primeiros libaneses que aqui chegaram, já em meados de 1865. A primeira Paróquia Maronita - Paróquia Nossa Senhora do Líbano - no entanto, foi criada apenas por volta de 1890, com a vinda de seu primeiro pároco, o Padre Yacoub Saliba. Padre Yacoub fundou, no dia de São Maron ( dia 9 de fevereiro de 1897) a Sociedade Maronita de Beneficência.

Dom Edgard Madi, atual Arcebispo Maronita
do Brasil
Em 1954 chegaram ao Brasil três padres provenientes do Líbano, a pedido da Santa Sé, três Padres da Ordem Libanesa Maronita: Padres Basílio Azar, Francis Nasr e Bernardo Azzi, que ficaram responsáveis pela paróquia até 1968. Durante esse tempo foi construída a atual Igreja de Nossa Senhora do Líbano, no bairro da Liberdade - São Paulo. Ao chegar ao Brasil, Dom Francis Zayek escolheu essa Igreja para ser sua Catedral.

Missões Maronitas foram sendo realizadas Brasil afora e Paróquias e Comunidades foram sendo fundadas. Em 1997 o Brasil teve a graça de receber a visita de Sua Beatitude Cardeal Nasrallah Sfeir, Patriarca Maronita de Antioquia. Sua beatitude visitou a comunidade Maronita do Brasil atendendo ao convite da Sociedade Maronita de Beneficência, que na ocasião acabara de completar seu primeiro centenário de fundação.

No dia 26 de Novembro de de 2006 foi ordenado o Padre Edgard Madi como Arcebispo Maronita para todo o Brasil. Dom Edgard Madi tomou posse de sua Catedral no dia 10 de dezembro de 2006.

Catedral Maronita de Nossa Senhora do Líbano, São Paulo, Brasil

Atualmente, além da Catedral Maronita Nossa Senhora do Líbano, localizada na Rua Tamandaré, 355 - Liberdade - São Paulo - SP, há Paróquias e comunidades Maronitas em outros municípios de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.  

Além do Bispo (Dom Madi), no Brasil há por volta de 20 padres maronitas, além de diáconos e irmãs Maronitas.

Fontes:
- A Igreja Maronita e o Líbano  - Pe. Emille Eddé
- Site da Eparquia Maronita Nossa Senhora do Líbano
Adaptações, revisão e acréscimos:
- Oriente Católico