Monges Maronitas - foto de (aproximadamente) 1880 |
A Igreja Siríaca Maronita de Antioquia, em Siríaco (ܥܕܬܐ ܣܘܪܝܝܬܐ ܡܪܘܢܝܬܐ ܕܐܢܛܝܘܟܝܐ) e em árabe (الكنيسة الأنطاكية السريانية المارونية), também chamada Igreja Católica Maronita ou simplesmente Igreja Maronita é umas das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma, portanto, que reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice e líder de todos os católicos. Há, atualmente, entre 3 e 4 milhões de Maronitas em todo o mundo, dos quais em torno de 1 milhão e meio encontra-se no Líbano. Mas afinal, quem são os Maronitas?
Brasão inscrito em siríaco e latim: "A glória do Líbano lhe foi dada" (Isaías 35,2) referindo-se aqui ao Patriarca Maronita |
ORIGEM DA IGREJA MARONITA
Os maronitas são os cristãos católicos orientais que devem seu nome a São Maron. Em documentos siríacos muito antigos, podemos ler os seguintes vocábulos: Os fiéis de Beth (casa) Maron, Calcedônios (isto é, seguidores do Concílio de Calcedônia) de Beth Maron, aqueles de Mar Maron, seguidores ou filhos de Mar Maron. Esses vocábulos convergem todos para uma única palavra que os representará: a palavra MARONITA. Essa palavra referir-se-á ao povo que no Patriarcado de Antioquia seguiu a orientação religiosa de São Maron e seus discípulos.
Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma e ao seu bispo, o Papa. Nessa Comunhão, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. As 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos no artigo anterior), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano, o Bispo de Roma: o Papa.
Embora algumas parcelas tenham se apartado da Igreja já após o Concílio de Éfeso (no ano 431), podemos dizer que a Igreja mantinha-se, de certa forma, unida em um único e mesmo corpo até o Concílio de Calcedônia (em 451): Seus 5 grandes Patriarcados ainda permaneciam unidos numa mesma Comunhão de Fé-Doutrina e Hierarquia. Apenas em 451, quando se deu o Concílio de Calcedônia, é que se deu a separação de uma grande parcela da Igreja de Cristo: houve um grande número daqueles que não aceitaram as definições do Concílio, os então chamados "monofisitas". Estes, aos poucos conseguiram apossar-se do Patriarcado de Jerusalém (Teodosio em 452), de Alexandria (Timóteo Eluro em 457) e de Antioquia (Pedro Fulão em 470). O imperador Leão I (457 - 474) teve de intervir, depondo-os. A parcela que neste artigo nos interessa é a parcela da Igreja do Patriarcado de Antioquia.
Dentro do Patriarcado de Antioquia, no pós Concílio (de Calcedônia), havia portanto dois grupos: aqueles que seguiram a Fé professada neste Concílio, os católicos, também chamados "calcedonianos"; e aqueles que a rejeitaram, posteriormente chamados "jacobitas" (devido ao nome de um dos principais bispos propagadores da fé anti-calcedoniana, Jacob Baradeu).
Com a intervenção do Imperador contra os que haviam se apossado do Patriarcado de Antioquia, depondo o Patriarca e clero monofisita (estes subsistiram naquela que hoje é chamada Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia) e restabelecendo Patriarca e clero calcedonianos (católicos), estes últimos que se mantiveram fiéis à Fé do Concílio de Calcedônia, vistos pelos outros como "seguidores do Imperador", partidários do Rei, portanto apelidados pejorativamente "reais". Aí está a origem (mèlek) da palavra "Melquita" (cristãos seguidores do rei, ou "Reais"). Sendo assim, enquanto os cristãos de Antioquia que não aceitaram o Concílio de Calcedônia (monofisitas) apartaram-se da Igreja, aqueles que seguiram a Fé católica deste Concílio passaram a ser denominados Melquitas.
Mas havia ainda um terceiro grupo de cristãos pertencentes ao Patriarcado de Antioquia que, incrustado nas montanhas libanesas, também haviam mantido a Fé Católica Calcedoniana, sendo um dos principais grupos a defender e propagar essa fé no oriente: os seguidores de São Maron, por isso chamados Maronitas. Mas, antes de mais nada, quem foi São Maron?
SÃO MARON
A primeira fonte de informação que diz respeito a São Maron é uma carta que São João Crisóstomo mandou em 405, de seu exílio na Armênia, a Maron sacerdote eremita, na qual pede sua oração e se lamenta porque não pode visitá-lo pessoalmente. Esta carta é um testemunho autêntico de um contemporânea que conheceu pessoalmente São Maron e apreciou muito a sua piedade.
A segunda fonte de informação apareceu uns vinte anos mais tarde. É a famosa obra obra "História Religiosa" do Bispo, historiador e teólogo Theodoreto de Cyr (Quroch) que deu maiores informações sobre a vida do eremita São Maron e de sua influência espiritual sobre seus discípulos e sobre o povo na região norte da Síria. Segundo o Bispo de Cyr (393-452), na metade do século IV e nos princípios do século V, sobre uma montanha situada na região da Apaméia, vivia um santo anacoreta chamado Maron. Retirou-se em aquela montanha, perto de um templo pagão que ele próprio convertera em igreja. Dedicava-se à oração e à penitência.
Theodoreto disse também que São Maron, de origem Antioquena, foi dotado de muita sabedoria, o que fez dele grande diretor de almas. A austeridade de sua vida e o dom dos milagres do qual foi favorecido fizeram dele uma das grandes celebridades da região naquela época.
"Deus sendo rico e generoso para com os seus santos o gratificou com o dom de curar doenças. Sua fama espalhou-se em toda a região. As multidões ocorriam a ele... com efeito, a febre parava sob o rocio de sua bênção, os demônios fugiam, os enfermos recuperavam a saúde pela virtude de um único remédio: a oração do santo. Porque os médicos prescrevem um remédio para cada doença, mas a prece dos amigos de Deus mostra-se como o remédio que cura todas as doenças."
O mesmo historiador chama São Maron: "O Grande, o Sublime". Por suas orações e pregações ele convertera a muitas pessoas da cidade de Cyr (Curoch) e de toda a região norte da Síria à Fé Católica e se tornou um grande exemplo a ser seguido. Foi considerado um dos fundadores e modelos da vida monástica no oriente. Numeroso foram os discípulos, homens e mulheres, que seguindo o exemplo deste eremita e querendo imitá-lo, transformaram as cavernas, grutas e morros em ermidas. Todos esperavam a visita do santo para escutaram seus sermões e receber dele as orientações necessárias para a vida ascética e mística.
O famoso historiador termina a biografia de São Maron falando de sua morte que ocorreu perto de 410, depois de breve doença mostrando no mesmo momento a fraqueza da natureza humana e a sua força espiritual. O desejo de conseguir os seus restos mortais levou a uma forte disputa entre os habitantes das cidades vizinhas. Ao fim e ao cabo, os habitantes da maior cidade conseguiram levar suas relíquias. Sobre seu túmulo, mais tarde construíram uma grande igreja. Sua festa litúrgica celbra-se, desde muitos séculos, no dia 9 de fevereiro.
DISCÍPULOS NOS MOSTEIROS DE SÃO MARON
São Maron e seus discípulos |
São Maron morreu perto de 410, mas sua escola de ascetismo muito prosperou. Seus discípulos construíram vários mosteiros e se espalharam por toda a Síria, alguns deles chegando à Montanha Libanesa onde converteram à Fé Católica os habitantes que ainda eram pagãos (neste período os habitantes do litoral libanês e uma pequena parte da montanha já a haviam recebido no primeiro e segundo século da era cristã). O que facilitou a evangelização foi notadamente a língua siríaca que era comum aos monges de São Maron e aos habitantes da Montanha Libanesa.
Vários discípulos de São Maron, com Theodoreto de Cyr, foram, no Oriente, os principais defensores do Concílio de Calcedônia (451). O imperador Marciano, muito satisfeito pelo empenho e dedicação dos discípulos de São Maron em consolidar e propagar o dogma católico declarado no Concílio de Calcedônia, mandou renovar o grande mosteiro pertencente aos monges discípulos deste santo, conhecido sob o nome de Mosteiro de São Maron, porque nele foram depositados os restos mortais do santo eremita. Foi considerado como o berço da Igreja Maronita.
Desde então, todos aqueles que seguiram os ensinamentos de São Maron e caminharam segundo os conselhos de seus monges, abraçando a doutrina do Concílio de Calcedônia, foram chamados Maronitas, nome que há mais de quinze séculos lhes é um glorioso título, porque este vocábulo foi sempre sinônimo de Católico. Esses discípulos de São Maron organizaram o núcleo principal da Nação Maronita que será baluarte da luta em favor da fé e em benefício do triunfo da verdade sobre a mentira e da liberdade contra a opressão.
Os 350 mártires monges Maronitas |
No ano 517, os cristãos monofisitas, chamados Jacobitas, que não aceitaram o dogma definido no Concílio Ecumênico de Calcedônia. Em uma verdadeira emboscada, assassinaram cerca de 350 monges Maronitas, conhecidos como mártires da casa de Maron. O Papa Hermes II mandou uma carta de consolação aos principais membros da Comunidade, lembrando que estes mártires, desde o início, selaram a Fé Católica com o próprio sangue.
INSTITUIÇÃO DO PATRIARCADO MARONITA
A instituição do Patriarcado Maronita aconteceu no final do século VII/começo do século VIII, entre o ano 685 e 707. Não existe ainda um consenso entre os historiadores, principalmente pelo fato de que a importante biblioteca do Mosteiro de São Maron foi queimada pelos Árabes no século X.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, uma grande parte dos Cristãos de Antioquia era de língua grega. Mas quando os habitantes das aldeias rurais, falando exclusivamente o aramaico, converteram-se ao Cristianismo, a partir do século V, graças à inciativa dos monges Maronitas, a balança das forças na Igreja da Síria inclinou-se para o lado destes e de todos os cristãos arameus. Após morte do Patriarca Antioqueno Anastácio II (598-610) a sede de Antioquia ficou sem titular até o ano 645. Os acontecimentos político-religiosos se sucederam com muita velocidade, começando pela invasão árabe no ano 636, que cortou as vias de comunicação entre Antioquia e Bizâncio, por um lado, e Antioquia e Roma, por outro. O imperador Bizantino, aproveitando desta situação confusa, passou a nomear, a partir de 645, Patriarcas para a sede de Antioquia. Estes, no entanto, atuavam mais como representantes eclesiásticos: viviam no Palácio imperial, em Constantinopla, bem longe do povo Antioqueno e sem a aprovação do Papa. Assim, todo Patriarca Antioqueno escolhido pelo Imperador bizantino era só Patriarca nominal, não exercendo, nem podendo exercer, suas funções e obrigações de autêntico pastor de sua Igreja.
YUHANNA MARON, PRIMEIRO PATRIARCA MARONITA
São Yuhanna Maron, primeiro Patriarca Maronita |
Por razão desta situação confusa e humilhante para a igreja de Antioquia, os fiéis ao Concílio de Calcedônia, portanto católicos, defensores da Fé ortodoxa, não pararam diante de uma lei, não pediram o conselho de ninguém, não aceitaram nenhuma nomeação de estranhos. Reuniram-se e decidiram eleger um patriarca que vivesse no meio do povo, que conhecesse a realidade do povo. Para essa finalidade, atendendo a esses pré-requisitos, foi eleito e entronizado o Bispo de Batroun, Yuhanna (João) Maron, como primeiro Patriarca Maronita de Antioquia. Segundo seus biógrafos, antigos e moderno, o santo Bispo Yuhanna Maron, nascido em Sarum (cidade de Antioquia) fez seus estudos no mosteiro de São Maron na Síria central e ali fora ordenado. O legado do Papa na Terra Santa o nomeou Bispo de Batroun (norte do Líbano) em 675 ou 676. Em 686 (provavelmente) foi o ano em que foi eleito Primeiro Patriarca Maronita de Antioquia pelos monges siríacos do Patriarcado de Antioquia com o apoio do povo.
Desde a sua entronização teve que enfrentar dois obstáculos de grande importância: O primeiro veio da parte do imperador Justiniano II que recusou reconhecê-lo como Patriarca. O segundo obstáculo consistiu no confronto com o império árabe Omyade, cuja capital era Damasco.
Depois de sua eleição, o primeiro Patriarca Maronita teve uma passagem rápida em Antioquia, na Igreja do mártir São Bábilas. Perseguido pelo Imperador Justiniano II, deixou Antioquia para dirigir-se ao Mosteiro de São Maron, na província de Apaméia. Perseguido pelo exército bizantino, teve que se dirigir ao Líbano e estabelecer sua residência provisória em Kfarhai, região de sua antiga diocese (Batroun) onde guardou como relíquia de grande valor o crânio de São Maron.
Além disso, os árabes não queriam admitir a presença de um patriarca no Líbano dando apoio e acréscimo de força aos exércitos Maradat, inimigos dos árabes. Desde então passaram a recomeçar os combates entre árabes e Maradat no início do Patriarcado de Yuhanna Maron. Este, que era conhecido por sua sabedoria e santidade, por reunir qualidades de Pastor religioso e chefe político, unindo também o povo maronita em uma verdadeira nação cujo pilar era a Fé Católica, quando morreu, foi alçado à honra dos altares. É celebrado em 2 de março de cada ano.
Assim nasceu o maronismo, um ato de contestação, de liberdade, uma iniciativa única em seu gênero na Igreja. Ao instituir o Patriarcado autônomo, sem pedir autorização do Califa Omíada e do Imperador Bizantino, segundo a mentalidade da época, os Maronitas cometiam um ato de rebeldia e audácia incrível. Além disso, mais tarde não aceitaram solicitar a investidura (Firman) exigida pelos governadores muçulmanos para todos os Patriarcas e bispos. Os discípulos de São Maron têm sustentado essa negativa desde a época dos Califas Omíadas até o ano 1918, data do fim da época otomana no Líbano. Deste ato de "ilegalidade" dos Maronitas que já dura doze séculos, disse o Papa Bento XIV:
"Perto do fim do século VII enquanto a heresia desolava o Patriarcado de Antioquia, os Maronitas a fim de Se colocarem ao abrigo desse contágio, resolveram escolher um Patriarca cuja eleição foi confirmada pelos Pontífices Romanos".
SEDES DOS PATRIARCAS MARONITAS
Convento de Nossa Senhora de Bkerke, Sede do Patriarcado Maronita de Antioquia |
Os Patriarcas Maronitas, apesar de serem Patriarcas de Antioquia, não tiveram a sua sede nesta cidade por causa das guerras e perseguições. No século X, depois da destruição do mosteiro de São Maron pelos árabes, a sede patriarcal foi transferida definitivamente para o Líbano no ano 939, por João Maron II. A maioria absoluta do povo Maronita já vivia nas montanhas libanesas.
Este povo foi formado por três grupos diferentes: os descendentes dos primeiros cristãos que viviam no litoral libanês, convertidos pela pregação dos Apóstolos e de seus discípulos nos séculos primeiro e segundo do Cristianismo; os libaneses arameus da Montanha Libanesa, convertidos do paganismo nos séculos V e VI, em virtude da pregação dos monges de São Maron; e finalmente o terceiro grupo dos cristãos que emigraram, notadamente da Síria, perseguidos por anti-calcedonianos e por muçulmanos.
As principais sedes patriarcais Maronitas no Líbano são quatro, e todas dedicadas à Virgem Santíssima:
1 - Convento de Nossa Senhora de Yanouh, entre Kartaba e Akoura, região de Biblos, onde residiram 23 Patriarcas. O mais conhecido destes foi Jeremias Alamchiti.
2 - Convento de Nossa Senhora de Mayfouk, foi sede de 10 Patriarcas. Os mais importantes entre eles foram o mártir Gabriel de Hjoula e Yuhanna Eljajy II. Este, depois de morar alguns anos neste mosteiro, transferiu a sede patriarcal, em 1440, para Qannubin.
Sua Beatitude Cardeal Bechara Boutros Rai Patriarca Maronita de Antioquia |
3 - Convento Nossa Senhora de Qannubin, num profundo e inacessível vale onde residiram 25 Patriarcas. O mais famoso de todos eles é o Patriarca Estefan Douaihy.
4 - Convento Nossa Senhora de Bkerke, a partir de 1823, foi a sede de 9 Patriarcas: Yussef Hebaich, Yussef Elkhasen, Boulos Massad, Yuhanna Eljaji, Elias Elhoyek, Antonios Arida, Boulos Meouchy, Antonios Koraich, Nasrallah Sfeir e Bechara Raî, o atual Patriarca.
Como a ideia religiosa tem presidido à constituição do povo maronita, de uma maneira natural o Patriarca chegou a ser o seu centro de união e de adesão, ao mesmo tempo político e religioso. Este estatuto patriarcal tem sido reforçado por razão das perseguições que os Maronitas suportaram, notadamente na época dos Mamelucos e Otomanos. Segundo Frei Bernard, o Patriarca Maronita é a primeira autoridade moral do país e tem um papel de primeiro plano.
RELAÇÃO DOS MARONITAS COM ROMA
Sua Santidade o Papa Francisco e Sua Beatitude o Patriarca Bechara Boutros Rai |
Durante quatro séculos, o isolamento pelo qual os Maronitas foram obrigados a passar fez com que desconhecessem o que se passava em Roma, assim como Roma parecia ignorar o que se passava com eles. Mas, com a chegada dos Cruzados ao Líbano, em 1099, os Maronitas conseguiram retomar o caminho que lhes haviam interditado. As relações que os Maronitas mantiveram com Roma e a Cristandade ocidental fez com que se levantassem fortes perseguições por parte dos governadores Mamelucos e Otomanos, que as usavam como pretexto para persegui-los.
Em consequência dessa tirania, assim como das dificuldades de comunicação com a Europa, não foi possível aos Patriarcas conseguirem com facilidade o Palium, símbolo de reconhecimento pelo Papa da autoridade do Patriarca sobre o povo Maronita. Roma fazia o que podia, encarregando os Franciscanos da Terra Santa de velar sobre as necessidades religiosas e culturais da Igreja Maronita.
Quando das cruzadas, os Cruzados ficaram profundamente impressionados com a receptividade, a piedade e o carinho de seus irmãos católicos orientais Maronitas à Sé de Roma e ao sucessor de Pedro, o santo padre o Papa. Os cruzados, de fato, contaram com a preciosa ajuda dos grandes guerreiros Maradat, que eram Maronitas, em diversas batalhas. São Luiz, Rei da França, escreveu uma carta ao Patriarca e ao povo Maronita onde dizia que estavam sob sua proteção da mesma forma que os próprios franceses.
A época de Fakreddin II (1598-1635) pode ser considerada como a idade de ouro das relações da Igreja Maronita com Roma. O Emir recorreu ao Patriarca Yuhanna Maklouf pedindo a sua intervenção perante o Papa para poder garantir a independência do Líbano. O Patriarca atendeu a seu pedido, encarregando grandes escritores formados no Colégio Maronita de Roma, de trabalhar como embaixadores do Emir em Roma, Toscana e Espanha. Entre eles estavam o Bispo Jorge Humaira (futuro Patriarca) e o professor Ibrahim Alhaqlany.
A fundação do Colégio Maronita em Roma em 1584 consagrou de vez a abertura da Igreja Siríaca Maronita de Antioquia à Igreja Latina de Roma.
Além disso, os Papas prestaram um valioso testemunho que enche de orgulho e de satisfação o povo Maronita. Assim, Leão X escrevia, em 1515, ao Patriarca Maronita Simaan Alhadacy:
"Convém agradecer à Divina clemência porque, entre as nações orientais, o Altíssimo queria que os Maronitas fossem como rosas entre espinhos".
Clemente XII, em 1735, qualifica a nação Maronita de:
"Rosa entre os espinhos, rocha muito sólida contra a qual se rompem as fúrias da infidelidade e das heresias".
São Pio X disse:
"Amamos todos os cristãos do oriente, porém os Maronitas ocupam um lugar especial em nosso coração, porque foram em todo o tempo a alegria da Igreja e o consolo do Papado... A fé católica está arraigada no coração dos Maronitas como os antigos cedros estão enraizados por suas poderosas raízes nas altas montanhas de sua pátria".
Não é necessário estender-se mais sobre este sublime apreço dos Papas aos Maronitas. Nos tempos recentes, três foram os Papas que visitaram o Líbano e o povo Maronita: primeiro foi o Papa Paulo VI, que o fez em 1964, seguido por João Paulo II em 1997 e, por fim, o Papa Bento XVI, que o fez em 2012.
A LITURGIA MARONITA
A liturgia Maronita pertence, por sua origem, ao grupo de liturgias siríacas antioquenas, portanto, ao Rito (Siríaco) Antioqueno. No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, mas o siríaco foi a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. Theodoreto, bispo de Cyr e originário de Antioquia dizia também que toda a região que ele conhecia perfeitamente, entre Antioquia e Alepo, tinham o siríaco como língua própria. Por isso, o siríaco na liturgia substituirá, pouco a pouco, a língua grega, assim como mais tarde o árabe acabará substituindo em grande parte a língua siríaca nos países de língua árabe.
Esta liturgia, embora haja acumulado diversas influências litúrgicas (inclusive do Rito Latino) ao longo dos séculos, ainda continua a representar a antiga liturgia antioquena dos primeiros séculos, que por sua vez é fruto da Divina Liturgia de São Tiago Apóstolo, primeiro Bispo de Jerusalém.
Os monges de São Maron conservaram essa liturgia em sua forma primitiva e se opuseram a que fosse bizantinizada, como ocorreu com os demais membros católicos do Patriarcado de Antioquia "não Maronitas" que aos poucos substituíram o Rito Siríaco Antioqueno pelo Rito Bizantino (no caso, os Greco-Melquitas). Deste modo, a Liturgia Maronita, apesar das modificações introduzidas, conserva ainda intacto o selo de antiguidade do Rito Antioqueno.
A liturgia siríaca reproduz, em seu desenvolvimento e na vida das comunidades, um modo intermediário entre a Glória e a Paixão. Uma boa parte das orações é fruto da pena de Santo Éfrem denominado "Harpa do Espírito Santo", do grande mestre Jacob de Sarug e de muitos outros padres da Igreja de Antioquia que compuseram, na calma da meditação, estas belas orações.
A língua litúrgica, como já fora dito, é o siríaco ou siro-aramaico, isto é, o mesmo idioma que falou Nosso Senhor Jesus Cristo e que lhe serviu na Última Ceia para a instituição da Eucaristia. A Liturgia Maronita conserva, pois, a nota sublime destas palavras da Consagração.
Para conhecer mais o Rito da Igreja Maronita, isto é, o Rito Antioqueno, acesse ao nosso artigo sobre ele clicando AQUI.
OS SANTOS MARONITAS
Santa Rafka Elrayes, São Charbel Maklouf, SãoNaamtalla Kassab e o Beato Yaaqub Haddad |
Da profunda e difícil vida e da espiritualidade da Igreja Maronita, sem jamais esquecer os inumeráveis fieis que deram suas próprias vidas pela Fé, existe um elenco de santos e beatos Maronitas, sinal da participação da Igreja particular (Maronita) na Igreja Universal (Católica). Além do grande São Maron, padroeiro da Igreja Maronita e de onde provém o nome desta Igreja, e de São Yuhanna Maron, de quem já falamos anteriormente porque fazem parte integrante da história da formação da Igreja Maronita, falaremos também de outros santos que foram beatificados e canonizados segundo as normas modernas ou recentes exigidas para a canonização.
Dentre eles podemos mencionar Santa Rafka Elrayes, nascida em 1832 em Himlaya, próximo à Beirute, numa família Maronita. Após perder a mãe ainda criança e ter experimentado um grande vazio durante sua adolescência, sentiu-se atraída por Deus, abraçando a vida religiosa aos 21 anos. No ano de 1860 Rafka presenciou as sangrentas matanças dos cristãos na Montanha Libanesa, o que foi para ela uma cruel experiência. Um domingo do Rosário (1º domingo do mês) de 1885, Rafka elevou a Deus suas orações desejando que Ele lhe permitisse assemelhar-se a Cristo em seus sofrimentos no Calvário. Pouco tempo depois, passou por uma cirurgia no olho direito que saiu mal, ficando cega e tendo o outro olho infeccionado. Após perder a visão dos dois olhos, passou por outros problemas de saúde, ficando praticamente acamada, tendo que ser transportada à Igreja carregada, envolta em lençóis. A tudo isso dava graças a Deus por permitir-lhe passar por sofrimentos que lhe fizessem semelhante a Nosso Senhor. Em 23 de março de 1914 entregou sua alma a Deus dizendo: "Jesus, Maria e José, lhes dou meu coração e meu espírito, tomem posse de minha alma". Foi canonizada em 10 de agosto de 2001.
Diversos outros exemplos de santo heroísmo e sublime santidade há no seio da Igreja Maronita, tais como os 350 mártires, monges Maronitas massacrados por aqueles que não aceitavam o Concílio de Calcedônia; Os mártires Francisco, Abdulmoti e Rafael, pertencente à família Maronita Massabki e conhecidos como Mártires de Damasco por terem sido aí martirizados no dia 10 de julho de 1860 juntamente com 8 franciscanos; Também o grande Monge Maronita São Naamtalla Kassab, diretor geral dos seminaristas, professor de Teologia Moral e assistente geral da Ordem, conhecido por sua santidade, faleceu em 14 de dezembro 1858 e foi canonizado em 2004; Há também o Beato Maronita que tornou-se frade menor capuchinho e fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas da Cruz no Líbano, Abuna Yaaqub Haddad;
Por fim, não há como não mencionar São Charbel Maklouf, santo de vida tão extraordinária que passou a ser conhecido e venerado não só dentre os fiéis da Igreja Maronita como também dentre os fiéis da Igreja Latina. Melhor do que simplesmente escrever algumas palavras sobre São Charbel, deixarei aqui dois links: o primeiro (AQUI) trata de uma apresentação da vida de São Charbel em Vídeo feita pelo Padre Paulo Ricardo; o segundo (AQUI) é o link de um ótimo filme da Vida de São Charbel; Todos estes são verdadeiros exemplos de como o Jardim Maronita produz belíssimas flores de santidade.
A IGREJA MARONITA NO BRASIL
Os Maronitas passaram a se fazer presentes no Brasil juntamente com as ondas migratórias dos primeiros libaneses que aqui chegaram, já em meados de 1865. A primeira Paróquia Maronita - Paróquia Nossa Senhora do Líbano - no entanto, foi criada apenas por volta de 1890, com a vinda de seu primeiro pároco, o Padre Yacoub Saliba. Padre Yacoub fundou, no dia de São Maron ( dia 9 de fevereiro de 1897) a Sociedade Maronita de Beneficência.
Dom Edgard Madi, atual Arcebispo Maronita do Brasil |
Em 1954 chegaram ao Brasil três padres provenientes do Líbano, a pedido da Santa Sé, três Padres da Ordem Libanesa Maronita: Padres Basílio Azar, Francis Nasr e Bernardo Azzi, que ficaram responsáveis pela paróquia até 1968. Durante esse tempo foi construída a atual Igreja de Nossa Senhora do Líbano, no bairro da Liberdade - São Paulo. Ao chegar ao Brasil, Dom Francis Zayek escolheu essa Igreja para ser sua Catedral.
Missões Maronitas foram sendo realizadas Brasil afora e Paróquias e Comunidades foram sendo fundadas. Em 1997 o Brasil teve a graça de receber a visita de Sua Beatitude Cardeal Nasrallah Sfeir, Patriarca Maronita de Antioquia. Sua beatitude visitou a comunidade Maronita do Brasil atendendo ao convite da Sociedade Maronita de Beneficência, que na ocasião acabara de completar seu primeiro centenário de fundação.
No dia 26 de Novembro de de 2006 foi ordenado o Padre Edgard Madi como Arcebispo Maronita para todo o Brasil. Dom Edgard Madi tomou posse de sua Catedral no dia 10 de dezembro de 2006.
Catedral Maronita de Nossa Senhora do Líbano, São Paulo, Brasil |
Atualmente, além da Catedral Maronita Nossa Senhora do Líbano, localizada na Rua Tamandaré, 355 - Liberdade - São Paulo - SP, há Paróquias e comunidades Maronitas em outros municípios de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
Além do Bispo (Dom Madi), no Brasil há por volta de 20 padres maronitas, além de diáconos e irmãs Maronitas.
Fontes:
- A Igreja Maronita e o Líbano - Pe. Emille Eddé
- Site da Eparquia Maronita Nossa Senhora do Líbano
Adaptações, revisão e acréscimos:
- Oriente Católico
Fontes:
- A Igreja Maronita e o Líbano - Pe. Emille Eddé
- Site da Eparquia Maronita Nossa Senhora do Líbano
Adaptações, revisão e acréscimos:
- Oriente Católico
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