quarta-feira, 10 de julho de 2019

Os Ritos da Igreja: 2 - O RITO ANTIOQUINO (ou Antioqueno)



O RITO ANTIOQUINO (ou Antioqueno), também chamado Rito Siríaco ou mesmo Rito de Jerusalém, é um dos chamados Ritos Apostólicos da Igreja, tendo sua base na antiga Sé Patriarcal de Antioquia (cujo primeiro Bispo foi São Pedro, chefe dos Apóstolos).

Antioquia, chamada de "Rainha do Oriente", foi onde os seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo receberam o nome "cristãos", conforme nos relatam as Escrituras:

"[...] em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos" (Atos dos Apóstolos, cap. 11, vers. 26)

Nessa cidade, uma das sedes dos quatro antigos Patriarcados originais (Antioquia, Roma, Alexandria e Jerusalém) foi onde desenvolveu-se o Rito Antioquino, rito esse que está na origem do Rito Bizantino, que por sua vez originou também o Rito Armênio e, ao que parece, também é a fonte do antigo Rito Galicano, utilizado no Ocidente antes da expansão do Rito Romano.

O Rito Antioquino é  muitas vezes apresentado, desde os primórdios da Igreja, como tendo sido elaborado pelo próprio Apóstolo São Tiago ("irmão do Senhor"), que fora o primeiro Bispo de Jerusalém. Por este motivo, também é apresentado como "Rito de São Tiago", "Divina Liturgia de São Tiago" ou "Rito de Jerusalém".

O fato é que tal rito tem sua estrutura quase que idêntica àquilo que encontramos nas chamadas "Constituições Apostólicas", um conjunto de 8 tratados sobre a disciplina da Igreja Primitiva escritos entre os anos 375 e 380. Por muito do que encontramos nas Constituições Apostólicas estar presente no Rito de Antioquia, por elas registrarem em 380 a disciplina então vigente naquelas comunidades - o que significa que já o eram há muito tempo - e por ser utilizado também nas regiões de Jerusalém e Palestina, todo em dialeto siríaco (derivado do Aramaico) só reforçam a Tradição de que o Rito foi mesmo desenvolvido pelo Apóstolo São Tiago e seus sucessores.

O Rito Siríaco de São Tiago, portanto chamado Rito Antioquino, permaneceu como o Rito de todo o Patriarcado de Antioquia, que abrangia além do território de Antioquia e Oriente próximo, regiões da Ásia e também da Palestina e mesmo de Jerusalém (que passou a ser reconhecida como Sé Patriarcal apenas no Concílio de Éfeso em 431). Sendo assim, durante os anos seguintes, passou a ser o Rito tanto do Patriarcado de Antioquia quanto de Jerusalém.

No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego, mas o siríaco foi a língua vernácula da população rural. São João Crisóstomo (345-407), disse que em seu tempo, o povo das aldeia vizinhas de Antioquia, que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. Theodoreto, bispo de Cyr e originário de Antioquia dizia também que toda a região que ele conhecia perfeitamente, entre Antioquia e Alepo, tinham o siríaco como língua própria. Por isso, o siríaco na liturgia substituirá, pouco a pouco, a língua grega, assim como mais tarde o árabe acabará substituindo em grande parte a língua siríaca nos países de língua árabe.

Com o Concílio de Calcedônia (ano 451), algumas igrejas Sírias (siríacas) que não aceitaram as definições deste Concílio acabaram separando-se, dando origem às diferentes igrejas chamadas "Pré-calcedonianas", "monofisitas", "monotelitas", etc. (estes termos serão explicados posteriormente quando contarmos a História das Igrejas Católicas que forma "A IGREJA CATÓLICA") fizeram com que o Rito Siríaco Antioquino fosse mantido por algumas Igrejas, tanto em comunhão com Roma (Católicas) quanto de outros "gêneros" (ortodoxas, orientais, etc.), embora em cada uma delas tenha passado por algumas modificações ou acréscimos.

Atualmente 3 são as igrejas "sui juris", portanto Católicas, que mantêm uma Liturgia fundamentada no Rito Siríaco Antioquino. São elas:

- A IGREJA SÍRIA-CATÓLICA (ou IGREJA CATÓLICA SIRÍACA): Utiliza o Rito Siríaco Antioquino muito próximo ao Antigo Rito de Antioquia, com pouca variação.

Missa em Rito Antioquino celebrada em Mosteiro pertencente ao Patriarcado Siríaco Católico de Antioquia


- A IGREJA SIRÍACA CATÓLICA MARONITA (ou simplesmente IGREJA MARONITA): Utiliza o Rito Siríaco Antioquino, embora sua proximidade com o católicos latinos desde os tempos dos cruzados fez com que o seu rito fosse um tanto quanto "latinizado". Além disso, também sofreu alterações após o Concílio Vaticano II.

Missa em Rito Antioquino celebrada pelo Patriarca da Igreja Católica Maronita


- A IGREJA CATÓLICA SIRO-MALANKAR, que também utiliza o Rito Antioquino, com algumas pequenas variações.

Missa em Rito Siríaco Antioquino celebrada pelo Arcebispo-Maior da Igreja Católica Siro-Malankar 

A liturgia siríaca reproduz, em seu desenvolvimento e na vida das comunidades, um modo intermediário entre a Glória e a Paixão. Uma boa parte das orações é fruto da pena de Santo Éfrem denominado "Harpa do Espírito Santo", do grande mestre Jacob de Sarug e de muitos outros padres da Igreja de Antioquia que compuseram, na calma da meditação, estas belas orações.

A língua litúrgica, como já fora dito, é o siríaco ou siro-aramaico, isto é, o mesmo idioma que falou Nosso Senhor Jesus Cristo e que lhe serviu na Última Ceia para a instituição da Eucaristia. A Liturgia Maronita conserva, pois, a nota sublime destas palavras da Consagração.



UM RESUMO DO RITO ANTIOQUINO

A Santa Missa ou Divina Liturgia, também chamada "Sagrado Qurbana", inicia com um longo rito de preparação das oferendas, chamado "Serviços de Melquisedec e Aarão". Em seguida vêm seis leituras, das quais três são do Antigo Testamento. O "abraço da Paz" que precede ao rito da Consagração é bastante solene, onde a "paz" é transmitida a partir do altar, do sacerdote para os fiéis, que "a passam" um ao outro até chegar à porta do templo.

A "Anáfora" - Canon no Rito Romano - é acompanhada de gestos carregados de simbolismo; por exemplo, influenciado - provavelmente pela liturgia bizantina - o véu que cobre as ofertas (algo como o véu de âmbula no Rito Romano) é "tremulado" pelo celebrante, em frente e por trás do cálice, simbolizando o sopro do Espírito Santo. Como na maior parte das celebrações litúrgicas orientais, ocupa um lugar muito importante a chamada "Epíclesis" (invocação do Espírito Santo) para que se realize a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo.

A Comunhão é realizada após uma "complicada" fração do Pão, carregada de simbolismos, muito semelhante à do Rito Mocárabe (latino, porém derivado do Rito Galicano que, por sua vez, é herdeiro do Rito Antioquino). A Missa termina com da Oração de Despedida, seguida da distribuição de um pão bento que é levado para casa pelos fiéis.  

Abaixo, vídeo que mostra a Procissão de Entrada do Patriarca Siríaco Católico de Antioquia, sua Beatitude Ignatius Youssef III Younan. Embora trate-se de um vídeo amador, pode-se ter uma ideia da Santa Missa Celebrada no Rito Siríaco Antioquino:



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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Antioqueno.


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