terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Igrejas Católicas Orientais: 05 - A IGREJA COPTA CATÓLICA

A Cruz Copta

Igreja Copta Católica, também chamada de Patriarcado Copta Católico de Alexandria, é uma das 23 igrejas orientais ditas "sui juris", isto é, "autônomas", em plena comunhão com a Sé Apostólica de Roma. Isto significa, portanto, que a Igreja Copta Católica reconhece a autoridade do Papa como sumo pontífice, pai e líder de todos os católicos do orbe.

Há, atualmente, aproximadamente trezentos mil Católicos Coptas em todo o mundo, dos quais a grande maioria encontra-se no Egito, embora também sejam encontrados em outros países do oriente (Síria, Líbano, Turquia, Kwait) assim como em países da Europa e América (Estados Unidos e Canadá). Mas afinal, quem são os Coptas Católicos?

ORIGEM DA IGREJA COPTA CATÓLICA

Brasão de armas de sua beatitude Ibrahim Isaak Sidrak, patriarca copta católico de Alexandria 


Os Coptas Católicos são os cristãos católicos orientais que devem sua origem ao Patriarcado de Alexandria.

Como vimos anteriormente, a Igreja Católica é a comunhão de igrejas (comunidades cristãs) que professam a mesma Fé e que estão sujeitas aos mesmos chefes espirituais que as governam (bispos), estes por sua vez unidos entre si e à Igreja de Roma assim como a seu  bispo, o Papa. Nessa Comunhão Católica, podemos dizer que a Igreja possui duas raízes: a ocidental, também chamada latina (ou Romana) e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua história: Jerusalém, AntioquiaAlexandria e ConstantinoplaAs 5 (cinco) sedes patriarcais formariam aquilo que denominamos "pentarquia" (conforme vimos nos artigos anteriores), encabeçada pela Igreja de Roma e o Pontífice Romano: o Papa.

Para que possamos compreender melhor, devemos entender, primeiramente, como se desenvolveu a Igreja em Alexandria.



FUNDAÇÃO APOSTÓLICA  


São Marcos Evangelista pregando em Alexandria

A Igreja egípcia, conforme a Tradição, foi fundada pelo Evangelista São Marcos, por volta do ano 42 d.C. e é entendida como tema de muitas profecias já do Antigo Testamento. O profeta Isaías, no capítulo 19, versículo 19, diz:

"Naquele dia, haverá um altar para o Senhor no meio da terra do Egito, e em suas fronteiras, um obelisco dedicado ao Senhor".

Os primeiros cristãos no Egito eram pessoas comuns que tinham o idioma copta como língua própria. Havia também o povo judeu alexandrino (habitantes de Alexandria), como Teófilo, a quem São Lucas Evangelista se dirige no capítulo introdutório de seu Evangelho. Quando a Igreja foi fundada por São Marcos, ainda sob o reinado do imperador romano Nero, uma grande multidão de egípcios nativos (em oposição a gregos ou judeus) abraçou a fé cristã.

O cristianismo se espalhou por todo o Egito, meio século após a chegada de São Marcos em Alexandria, como é evidente nos escritos do Novo Testamento encontrado em Bahnasa, no Egito Central, que datam de algo por volta do ano 200. Há também um fragmento do Evangelho de São João, escrito em copta, encontrado no Alto Egito, escrito entre o ano 100 e 150, portanto, na primeira metade do século II. No segundo século, o cristianismo começou a se espalhar para as áreas rurais, e as escrituras foram traduzidas para os idiomas locais, a saber, o copta.

A língua copta, termo este que também designa os membros da Igreja do Egito (referindo-se assim aos "egípcios originais"[não gregos], é uma linguagem universal usada na igrejas coptas como verdadeira marca de sua identidade. É derivado do egípcio antigo, sendo que muitos dos hinos litúrgicos estão em copta e foram transmitidos há milênios. O idioma é usado para preservar a língua original do Egito, uma vez que os invasores árabes a baniram obrigando os egípcios a substituí-la pelo idioma árabe.

Após a fundação da Igreja de Alexandria pelo Evangelista São Marcos, seu desenvolvimento esteve intimamente ligado ao desenvolvimento teológico ocorrido neste que foi um dos grandes centros teológicos da Igreja de Cristo em seu início: A Escola de Alexandria.


A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA CATEQUÉTICA DE ALEXANDRIA E A VIDA MONÁSTICA EGÍPCIA NA FORMAÇÃO DA IGREJA


Santo Atanásio, Patriarca de Alexandria

A Escola Catequética de Alexandria é a escola catequética mais antiga do mundo: São Jerônimo afirma que a mesma teria sido fundada pelo próprio Evangelista São Marcos. Por volta do ano 190, já era reconhecida como importante instituição de aprendizado religioso, tendo entre seus mestres o nativo egípcio Orígenes, considerado um dos pais da Teologia e ativo no campo dos comentários e estudos bíblicos comparativos. Essa escola teológica teve muita influência no pensamento da Igreja nos primeiros séculos, além de destacar-se pelo ensino também em outros campos não religiosos, tais como as áreas de matemática, ciências e humanidades.

Outra contribuição do cristianismo egípcio à Igreja é a vida e espiritualidade monástica, por ter sido este o berço do monaquismo. Muitos cristãos egípcios foram ao deserto durante o século III e permaneceram lá para orar, trabalhar e dedicar suas vidas à reclusão e à adoração a Deus. Este foi o começo do movimento monástico, organizado por Santo Antônio, o Grande, São Paulo de Tebas, o primeiro anacoreta do mundo, Santo Antão, São Macário (o grande) e São Paquônio, o Cenobita, já no século IV.


Padres do Deserto: Santo Antão e São Paulo Eremita

O monasticismo cristão nasceu no Egito e foi fundamental para a formação da Igreja Copta. Praticamente todo o monaquismo cristão deriva, direta ou indiretamente, do exemplo egípcio. São Basílio Magno, Arcebispo de Cesareia da Capadócia, fundador e organizador do movimento monástico na Ásia Menor, visitou o Egito por volta de 357 e seu modelo é seguido por monges até nossos dias, seja pelos ortodoxos, seja pelos católicos orientais (de Rito Bizantino). São Jerônimo, que traduziu a Bíblia para o latim, veio ao Egito, a caminho de Jerusalém, por volta do ano 400, e deixou detalhes de suas experiências em suas cartas; São Bento fundou a Ordem Beneditina no século VI no modelo de São Paquômio, embora de maneira ainda mais rigorosa. Inúmeros peregrinos visitaram os "Pais do Deserto" para imitar suas vidas espirituais e disciplinadas. Este, portanto, foi um elemento de grande influência na formação da Igreja Copta: a espiritualidade monástica.



A IMPORTÂNCIA DA IGREJA COPTA NOS PRIMEIROS CONCÍLIOS


Primeiro Concílio de Nicéia

A igreja do Egito, com seu Patriarcado em Alexandria, teve grande importância para o desenvolvimento da Igreja, seja por sua influência teológica e monástica (como vimos), seja por sua importância eclesiológica: o patriarcado de Alexandria rivalizava com o Patriarcado de Constantinopla, "a nova Roma", pela dignidade e importância dentre as Sedes Patriarcais (estando apenas atrás da Sé de Roma). Além disso, de lá saíram heresias que modificariam os rumos da Igreja posteriormente, assim como grandes santos que as combateram.

No século IV, um presbítero alexandrino chamado Ário (ou Arius) iniciou uma disputa teológica sobre a natureza de Cristo que se espalhou por todo o mundo cristão (e que posteriormente passou a ser conhecida pelo nome de "arianismo"). O então Patriarca de Alexandria, Alexandre I, solicitou a realização de um Concílio para tratar desta que parecia ser verdadeira heresia. Então, o Imperador Constantino convocou aquele que viria a ser o Concílio Ecumênico de Nicéia, realizado no ano 325 e presidido pelo bispo São Ósio de Córdoba, para resolver a disputa. Neste Concílio foi formulado o Símbolo da Fé, também conhecido como Credo Niceno. O Credo, que  serve de base para o credo recitado até nossos dias em todo o mundo cristão, foi fundamentado nos ensinamentos daquele que era então diácono e secretário do Patriarca Alexandre: Santo Atanásio de Alexandria, o principal oponente de Ário. Santo Atanásio, posteriormente eleito 20º Patriarca de Alexandria, tornou-se um dos principais Pais da Igreja, tido oficialmente como Doutor da Igreja e Herói da Fé.

Alguns anos depois, em 381, O Patriarca de Alexandria Timóteo I presidiu o segundo Concílio Ecumênico, que tornar-se-ia conhecido como Concílio Ecumênico de Constantinopla. Nele, buscou-se definir a Doutrina sobre a Divindade do Espírito Santo, condenando-se assim as doutrinas heréticas de Macedônio, que negava a divindade do Espírito Paráclito. Este Concílio complementou o Credo Niceno, originando assim o chamado Credo Niceno-Constantinopolitano, que confirma a Fé no Divino Espírito Santo e que passou a ser rezado nas Divinas Liturgias (Missas) em todo o mundo, até nossos dias. 
São Cirilo de Alexandria,
Patriarca

Outra disputa teológica, desta vez no século V, teve participação decisiva da Igreja de Alexandria. Nestório, o Patriarca de Constantinopla, estava a ensinar que (o Verbo de) Deus não estava hipostaticamente ligado à natureza humana, mas antes, apenas habitava no homem Jesus. Como consequência disso, ele negou à Virgem Maria o título de "Theotokos" (Mãe de Deus), declarando-a simplesmente "Christotokos" (Mãe de Cristo). Quando as doutrinas de Nestório alcançaram o trono apostólico de São Marcos,  chegando ao conhecimento do então Patriarca de Alexandria, São Cirilo, este imediatamente solicitou a Nestório que se arrependesse e se retratasse, enviando-lhe a carta que ficou conhecida como "A Terceira Epístola de São Cirilo de Alexandria à Nestório". Nela estavam contidos os chamados "Doze anátemas de São Cirilo". Como Nestório ainda assim não se arrependeu, foi convocado o Concílio Ecumênico de Éfeso, que transcorreu em 431, e que foi presidido pelo Patriarca São Cirilo de Alexandria. Este Concílio condenou a doutrina de Nestório como heresia (que passou a ser chamada "Nestorianismo") e confirmou a importância da Igreja de Alexandria na defesa da Ortodoxia Católica.

Algumas igrejas separaram-se da Comunhão com a Igreja por simpatizarem com as doutrinas de Nestório e não aceitarem as definições do  Concílio de Éfeso. Tais igrejas subsistiram naquela que hoje é chamada Igreja Assíria do Oriente. No entanto, para a maior parte do mundo cristão, a Igreja permanecia unida aos 5 grandes Patriarcados que seguiam em Comunhão e professavam a mesma Fé.


O CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA E A IGREJA COPTA

Concílio de Calcedônia

Durante os embates cristológicos que tendiam a dividir os cristãos, o Patriarca Dióscoro, sucessor de São Cirilo na Sé de Alexandria, solicitou ao imperador Teodósio II que convocasse um Concílio para resolver as questões relativas à natureza de Cristo, assim como sobre a situação de Eutiques, monge de Constantinopla que havia se tornado o principal expoente do que seria denominado monofisismo,  uma doutrina que negava a existência de duas naturezas em Cristo. Eutiques havia sido condenado como herético em um sínodo realizado em Constantinopla, presidido pelo Patriarca daquela Sé, São Flaviano, no ano de 448. Dióscoro de Alexandria, simpatizante das doutrinas monofisitas de Eutiques e oponente de São Flaviano de Constantinopla, buscava com este Concílio reabilitar Eutiques além de condenar a Flaviano.

Foi então que no ano seguinte,  em 449 aconteceu o "Segundo Concílio de Éfeso" (entre aspas já que, como veremos, não será reconhecido pela Igreja). Os legados papais trouxeram para o concílio duas cartas do Papa São Leão Magno endereçadas ao Patriarca São Flaviano de Constantinopla, onde se condenavam as doutrinas de Eutiques como heréticas. Dióscoro de Alexandria, no entanto, não só não permitiu que elas fossem lidas como também não permitiu que os legados papais presidissem o Concílio, sendo ele mesmo quem o presidiu. Neste concílio Eutiques foi reabilitado juntamente com suas doutrinas, e São Flaviano foi condenado, sendo deposto da Sé de Constantinopla, surrado e aprisionado, falecendo pouco tempo depois. Os legados papais não aceitaram tais acontecimentos, retornando à Roma e comunicando tudo ao Papa São Leão Magno, que condenou tal concílio e suas decisões, chamando-o de "Latrocínio de Éfeso", o "concílio de ladrões".
Papa São Leão Magno

Após o morte do imperador Teodósio II, seu sucessor Marciano foi impelido pelo Papa a convocar novo Concílio para fazer justiça, sanar as divisões e estabelecer a ortodoxia. Foi então que em 451 foi aberto o Concílio Ecumênico de Calcedônia. Neste Concílio Dióscoro de Alexandria foi três vezes convocado a comparecer para explicar-se, no entanto não o fez (em geral, os coptas dizem que não lhe foi permitido pelos soldados do imperador). Neste Concílio foram lidas as epístolas do Papa São Leão Magno ao Patriarca São Flaviano, que posteriormente ficaram conhecidas na história como "Tomo Leonino" ou "Tomus ad Flavianus", onde o Papa São Leão Magno expôs a doutrina ortodoxa sobre Cristo e sua natureza, ao qual após a leitura, os padres conciliares em concordância afirmaram que "Pedro falou pela boca de Leão". Eutiques e suas doutrinas foram novamente condenadas, e o Patriarca Dióscoro de Alexandria foi deposto. Após sua deposição, a maior parte da Igreja de Alexandria, clero e fiéis, sentiram-se injustamente sub-representados no Concílio e oprimidos politicamente pelo império Bizantino.

Para consumar a separação que já se fazia visível, o imperador - para impor a Fé de Calcedônia à Igreja de Alexandria - nomeou como novo Patriarca a Protério, o que não foi aceito pela maioria dos cristãos coptas de Alexandria, que por sua vez nomearam seu próprio Patriarca, Timóteo Eluro, rompendo assim a comunhão com a Igreja Calcedoniana (Católica). Esta parte, portanto, da Igreja de Alexandria que se separava do restante da Igreja Católica que aceitava o Concílio de Calcedônia, passou a chamar-se Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria.

Catedral de São Marcos, Sede principal da Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria

As conclusões do Concílio de Calcedônia também foram rejeitadas por muitos cristãos que se encontravam à margem do Império Bizantino: além dos egípcios (coptas), também armênios (originando a Igreja Apostólica Armênia) e alguns sírios (originando a Igreja Sirian-Ortodoxa de Antioquia).

A partir de então, passou a existir dois patriarcas em Alexandria: o nativo egípcio (copta) e não-calcedoniano, chamado Patriarca Copta de Alexandria e o "melquita" (imperial) calcedoniano (católico) Patriarca Grego de Alexandria. Este último, quando do Cisma do Oriente em 1054, acompanhou Constantinopla, sendo a partir de então Patriarca Grego Ortodoxo de Alexandria. Ainda assim, o Patriarca católico/ortodoxo e a igreja sob seu pastoreio continuaram como minoria em Alexandria: quase toda a população, assim como o clero, rejeitou os termos do Concílio de Calcedônia e permaneceu fiel à Igreja egípcia nativa (a partir de então conhecida como Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria). Os coptas sempre consideraram-se mal compreendidos pelo Concílio de Calcedônia, inclusive muitos acreditaram ser as causas de sua condenação muito mais políticas que teológicas.


Como vimos, portanto, a partir de Calcedônia passaram a existir dois grupos de cristãos em Alexandria: o primeiro, minoritário, composto por aqueles que  aceitaram dogmaticamente a Fé católica e ortodoxa professada no Concílio de Calcedônia, conhecidos como Melquitas ("reais" já que acataram as ordens do rei), também chamados gregos/bizantinos (tanto por sua submissão ao imperador quanto por seu rito, já que haviam adotado o rito de Constantinopla), portanto católicos (em comunhão com Roma, Constantinopla e demais Igrejas calcedonianas). E o segundo, a grande maioria, composta por aqueles que não aceitaram o Concílio de Calcedônia, que passaram a ser conhecidos simplesmente como Coptas. Estes, que como vimos, passaram a denominar-se Igreja Copta Ortodoxa, seguiram em comunhão com a Igreja Apostólica Armênia e a Igreja Sirian-Ortodoxa,  formando a comunhão das Igrejas Ortodoxas Orientais.


A FORMAÇÃO DA IGREJA COPTA CATÓLICA 

A situação da Igreja de Alexandria permaneceu dividida em 2, conforme anteriormente explicado, até 1054, quando se deu o chamado "Grande Cisma do Oriente".  Com esse episódio, a minoria bizantina-grega do Patriarcado de Alexandria (calcedoniano) seguiu o Patriarcado de Constantinopla, separando-se de Roma: desde então o Patriarcado (calcedoniano) de Alexandria rompeu a comunhão  com a Igreja Católica e passou a denominar-se Patriarcado Grego Ortodoxo de Alexandria. Além  dele, a maioria cristã de Alexandria continuava a integrar o Patriarcado Copta Ortodoxo.


OS ATUAIS
Patriarca Grego de Alexandria Teodósio II (calcedoniano) e o Patriarca Copta Ortodoxo de Alexandria Tawadros II (não-calcedoniano) 


Após quase 1000 anos da separação da Igreja Copta Ortodoxa da Igreja Católica, entre os anos  de 1431 e 1445 a Igreja de Roma realizou o Concílio de Basiléia-Ferrara-Florença, onde se conseguiu sob o Papa Eugênio IV a união com a Igreja Copta, mais precisamente em 1442, por meio da Bula Cantate Domino. Infelizmente o distanciamento entre  a Igreja Copta e o Ocidente, sobretudo após a conquista de Constantinopla e queda do Império Bizantino pelos turcos em 1453, fez com que tal distanciamento esfriasse essa união ao ponto de torná-la inexistente.



Foi então que no século XVII, missionários ocidentais - principalmente franciscanos - começaram a chegar ao Egito, travando boas relações com os coptas. Em 1630, foi fundada uma missão da Ordem dos Capuchinhos no Cairo. Os Jesuítas, por sua vez, chegaram em 1675. Em 1713, o Patriarca Copta de Alexandria uniu-se novamente à Igreja Católica, submetendo-se à Roma. Essa união, tal como a que se deu em 1442, não durou muito.



Em 1741, o Bispo Copta de Jerusalém Anba Athanasius, tornou-se católico (e com ele uma parte considerável de seu clero), buscando assim ser recebido em comunhão com Roma. Quatro décadas depois, em 1781, o Papa Bento XIV o nomeou como vigário apostólico de cerca de 2000 católicos coptas egípcios. Posteriormente o Bispo Anba Athanasius retornou à Igreja Copta Ortodoxa, tendo então outros clérigos coptas católicos servido como vigários apostólicos.

INSTITUIÇÃO DO PATRIARCADO COPTA

Por influência do vice-rei otomano que queria um patriarca católico para os coptas, em 1824, o Papa estabeleceu o Patriarcado de Alexandria do Vicariato Apostólico da Síria, Egito, Arábia e Chipre, embora de certa forma se possa dizer que tal patriarcado era algo mais titular do que propriamente real. Os otomanos, a partir de 1829, passaram a permitir que os coptas católicos construíssem suas próprias igrejas.

Patriarca Copta Católico Kyrillos II Makarios
Meia década depois, o número de católicos de rito copta aumentou tanto que chegou ao ponto de, em 1895, o Papa Leão XIII restaurar o Patriarcado Copta Católico de Alexandria. Ele nomeou ao Bispo Cyril Makarios como vigário patriarcal. Makarios por sua vez, presidiu um sínodo, o que levou à introdução de algumas práticas latinas. Em 1899, Leão XIII nomeou Makarios como Patriarca de Alexandria dos Coptas Católicos, tomando o nome de Cirilo II. O Patriarca esteve à frente da Igreja Copta Católica até 1908 quando, devido à uma controvérsia, renunciou à pedido do Papa. O trono patriarcal permaneceu vago até 1947, sendo o Patriarcado administrado por um administrador apostólico.

Markos Khouzam ainda Bispo
Em 1947 foi permitida à Igreja Copta Católica reunir-se em Sínodo para a eleição de um novo patriarca. Nele foi escolhido Arcebispo de Tayibe, Markos Khouzam, como Patriarca Copta Católico de Alexandria, sob o nome de Markos II Khouzam. O Patriarca Marcos II foi entronizado em 10 de agosto de 1947, governando a Igreja Copta Católica por uma década, tendo - inclusive - encontrado-se com o Papa Pio XII.

O Patriarca Copta Católico Markos II Khouzam juntamente com alguns clérigos. Pode-se observar também alguns frades franciscanos, integrados à Igreja (e ao Rito) Copta Católica
Sua Beatitude o Patriarca Copta Católico Markos II Khouzam e Sua Santidade o Papa Pio XII

Faleceu em odor de santidade, em 2 de fevereiro de 1958. Foi sucedido pelo Bispo auxiliar da Eparquia de Alexandria, Stéphanos Sidarouss.

Patriarca Copta Católico Stéphanos I Sidarouss
Stéphanos (Estevão) Sidarouss nasceu no Cairo, em 22 de fevereiro de 1904. Ingressou na Congregação dos Lazaristas, tendo sido enviado a diversas casas desta congregação na França, onde realizou seus estudos e foi ordenado sacerdote, em 22 de julho de 1939, tendo - inclusive - lecionado nas casas lazaristas deste país. Entre 1946 e 1947, foi diretor do Instituto Eclesiástico de Coptas Católicos em Tantah, Egito. Em 25 de janeiro de 1948, foi sagrado Bispo auxiliar de Alexandria pelo Patriarca Markos II Khouzam. Uma década depois, em 10 de maio de 1958, foi eleito Patriarca Copta Católico de Alexandria, tendo, inclusive, participado do Concílio Vaticano II.

Sua Beatitude Patriarca Copta Católico
Stéphanos I Sidarouss, já criado Cardeal
Durante o Sínodo dos Bispos de 1971, expressou sua opinião sobre acreditar ser imprudente a Igreja Latina ordenar homens não celibatários, dentre outras coisas, por julgar que poderiam ficar muito absorvidos pelos assuntos familiares. Em 1965, o Papa Paulo VI o criou cardeal, sendo o primeiro Patriarca Copta a receber tal título, o que lhe permitia participar como eleitor dos conclaves que elegem o Papa. Desta forma, participou dos conclaves de agosto e outubro de 1978, que elegeram João Paulo I e João Paulo II. Na conclusão de ambos conclaves, foi um dos poucos cardeais que acompanhavam o novo papa eleito ao aparecer no balcão central da Basílica de São Pedro. Sua Beatitude Stéphanos I Sidarouss faleceu em 23 de agosto de 1987 no Cairo. Foi sucedido pelo Bispo de Luxor, Andraos Ghattas.

Sua Beatitude Patriarca Copta Católico Stéphanos II Ghattas

Andraos Ghattas nasceu na Vila de Cheikh Zein-el-Dine, na província de Girga, Egito. Quando adolescente, sentido o chamado ao sacerdócio, entrou no seminário menor da Igreja Copta Católica no Cairo. Foi para Roma, onde obteve doutorado em Teologia e Filosofia, sendo lá ordenado sacerdote em 25 de março de 1944. Em seguida retornou ao Egito, onde lecionou em diversos seminários coptas do país. Em 8 de maio de 1967 foi eleito bispo de Luxor, sendo consagrado em 9 de junho do mesmo ano pelas mãos do Patriarca Copta Cardeal Stéphanos I Sidarouss. Em junho de 1986, após a renúncia de seu antecessor, foi eleito pelo Santo Sínodo Copta Católico o novo Patriarca Copta Católico de Alexandria, com o nome de Stéphanos II Ghattas.
Sua Beatitude Patriarca Copta Católico
Stéphanos II Ghattas, já criado Cardeal

Sua Beatitude foi nomeado Cardeal pelo Santo Padre o Papa João Paulo II em 2001, no entanto, por ter completado 80 anos antes do Conclave de 2005, não participou deste que culminou na eleição do Papa Bento XVI. Em 2006 Stéphanos II Ghattas renunciou ao posto de Patriarca, falecendo 3 anos depois, em 20 de janeiro de 2009, no Cairo, com quase 90 anos. Após sua renúncia, foi sucedido pelo Bispo de Minya, Antonius Naguib.




Sua Beatitude o Patriarca Copta Católico
Antonius Naguib

Antonius Naguib nasceu em Samalut, em 18 de março de 1935. Após atender ao chamado do Senhor à vocação, estudou de 1953 a 1958 no Seminário de Maadi (Cairo) e, mais tarde, no Pontifício Colégio Urbano, em Roma. Voltou então ao Egito, onde foi ordenado sacerdote copta católico, no ano de 1960. Retornou a Roma onde recebeu licenciatura em Teologia em 1962 e em Sagrada Escritura em 1964. Regressou ao Egito onde desde então, passou a lecionar Sagrada Escritura no seminário de Maadi, tendo inclusive composto um grupo de especialistas responsáveis pela tradução da Bíblia ao árabe.

Em 1977, foi sagrado e empossado Bispo de Minya (Egito), cargo que ocupou até sua renúncia em 2002. Em 30 de março de 2006, foi foi eleito Patriarca Copta Católico de Alexandria, adotando o nome de Antonios I Naguib, recebendo a comunhão eclesiástica do Papa Bento XVI em 7 de abril de 2006. Em abril de 2010, apresentou sua renúncia ao Santo Sínodo Copta Católico, que no entanto a recusou, pedindo a ele que continuasse como Patriarca da Igreja Copta Católica.

Sua Beatitude Patriarca Antonius Naguib com Sua Santidade o Papa Bento XVI

Em outubro de 2010 foi escolhido como Relator Geral do Sínodo dos Bispos do Oriente e em 20 de novembro do mesmo ano, foi feito Cardeal pelo Papa Bento XVI. Teve papel importante na intermediação da paz durante os conflitos no Egito, ocorridos em 2011. No último dia deste ano, sofreu um derrame, o que fez com que sua saúde se deteriorasse ao longo do ano de 2012. Ainda assim, participou do Conclave de 2013 que elegeu o Papa Francisco. Em 15 de janeiro de 2013, renunciou ao posto de Patriarca. O Patriarca emérito Cardeal Antonios Naguib segue com quase 85 anos, embora com a saúde bastante debilitada.

IBRAHIM ISAAC SIDRAK, atual Patriarca Copta Católico de Alexandria e todo o Egito

Sua Beatitude Ibrahim Isaac Sidrak,, Patriarca Copta Católico de Alexandria

Ibrahim Isaac Sidrak nasceu em 19 de agosto de 1955 em Beni-Chokeir, província de Asyut. Estudou Teologia e Filosofia no Seminário Patriarcal de São Leão em Maadi (subúrbio do Cairo) e foi ordenado sacerdote em 1980. Após servir por dois anos na Paróquia São Miguel Arcanjo, no Cairo, foi enviado à Roma para estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde recebeu seu doutorado em Teologia Dogmática. Entre 1990 e 2001, foi reitor do Seminário Patriarcal de Maadi, posteriormente pároco da Catedral Patriarcal de Nossa Senhor do Egito, no Cairo, quando em outubro de 2002 foi eleito e sagrado Bispo de Minya.

Patriarca Copta Ortodoxo na entronização do Patriarca Copta Católico
Em 15 de janeiro de 2013, Ibrahim Isaac Sidrak foi eleito pelo Santo Sínodo da Igreja Copta Católica como o Patriarca Copta Católico de Alexandria e todo o Egito, recebendo a comunhão eclesiástica do Papa Bento XVI três dias depois, em 18 de janeiro de 2013. Em sua entronização, compareceu Patriarca  Copta Ortodoxo. Sua beatitude Ibrahim Isaac Sidrak mantém ótima relação com a Igreja Copta Ortodoxa e seu Patriarca, o Papa Tawadros II (papa também é um título tradicionalmente concedido ao Patriarca de Alexandria). Ele trabalha incansavelmente por aquele que seria seu maior objetivo, que seria uma futura unificação das igrejas  Católica e Ortodoxa Coptas do Egito, fazendo haver novamente uma única Igreja Copta em Comunhão  com Roma, portanto, Católica. Queira o Senhor que um dia tal acontecimento se realize.

Patriarca Copta Ortodoxo de Alexandria Tawadros II e  Patriarca Copta Católico de Alexandria Ibraim Isaac Sidrak



Sua Beatitude Patriarca Ibraim Isaac Sidrak com Sua Santidade o Papa Francisco quando de sua visita ao Egito

ORGANIZAÇÃO DA IGREJA COPTA CATÓLICA


Lateral da Catedral Patriarcal Nossa Senhora do Egito - Cairo - Egito
Interior da Catedral, a principal da Igreja Copta  Católica

O atual Patriarca dos Coptas Católicos de Alexandria e todo o Egito, Sua Beatitude Ibrahim Isaac Sidrak, preside a Eparquia Patriarcal de Alexandria assim como a Sé  Metropolitana do Cairo, capital moderna do Egito. Ele  preside a Assembléia da Hierarquia Católica do Egito e lidera espiritualmente toda a Comunidade Copta Católica ao redor do mundo. A comunidade também inclui:

- A Eparquia de Assiut.

A Eparquia de Guizeh.

A Eparquia de Ismayliah.

- A Eparquia de Luqsor (Luxor).


- A Eparquia de Minya.

A Eparquia de Sohag.

Além disso, a Igreja Copta Católica conta com centenas de paróquias e comunidades espalhadas pelo mundo, principalmente em outros países do oriente (Síria, Líbano, Turquia, Kwait) assim como em países da Europa e América (Estados Unidos e Canadá). Por não haver grande concentração de Coptas  Católicos em lugares específicos fora do Egito são pequenas comunidades dispersas), encontram-se sob jurisdição direta do Patriarcado ou então sob responsabilidade das Dioceses latinas onde estão inseridas.

Ordens Religiosas



A Igreja Copta Católica não possui mosteiros. Em vez disso, a Igreja tem Congregações Religiosas. São três congregações femininas: as Irmãs do Sagrado Coração, as Irmãs Coptas de Jesus e Maria e a Província Egípcia das Pequenas Irmãs de Jesus. Há também a comunidade (masculina) dos Franciscanos que seguem o Rito Copta.

Educação e Saúde

A maior parte dos candidatos ao sacerdócio é formada no Seminário Patriarcal de São Leão, no subúrbio do Cairo, embora a Igreja possua outros seminários. Mais de 100 paróquias Coptas Católicas administram escolas primárias e secundárias. A Igreja também mantém um hospital, vários dispensários e clínicas médicas, assim como vários orfanatos.
Infelizmente não há presença da Igreja da Igreja Copta Católica no Brasil.


A LITURGIA COPTA CATÓLICA 





A Igreja Copta Católica utiliza o Rito Copta (Alexandrino), rito este enraizado na antiga tradição da Igreja de Alexandria e cujo início remeteria ao próprio São Marcos Evangelista.

Seguem assim uma tradição semelhante a outras Igrejas Católicas Orientais que usam o Rito Alexandrino, como a Igreja Católica Etíope e a Igreja Católica Eritreia, embora as duas últimas tenham particularidades no Rito que lhe são próprias.




Além do Rito, a disposição dos templos e sua ornamentação, assim como os paramentos litúrgicos, são praticamente os mesmos da Igreja Copta Ortodoxa. A diferença é mais perceptível apenas nas vestimentas cotidianas dos clérigos: O Patriarca e os Bispos usam um vestuário mais parecido com o dos Patriarcas e Bispos gregos (melquitas, ortodoxos, etc) ao passo que os sacerdotes, em geral, usam uma batina muito semelhante à dos sacerdotes latinos.






Esperamos que com este simples artigo possamos, de alguma forma, contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.

Viva a Igreja Copta! Viva a Igreja Católica!