Ocidente e Oriente juntos, eis A IGREJA CATÓLICA |
A IGREJA CATÓLICA, como vimos, é uma comunhão de 24 igrejas "sui juris", isto é, autônomas, que estão unidas entre si tal qual partes de um único e mesmo corpo. Essa comunhão resume-se a: comunhão de fé-doutrina e comunhão de hierarquia. Essas 24 igrejas, de certa forma, podem ser divididas em 1 ocidental (a maior de todas, composta de dioceses e seus bispos, embora todos chefiados diretamente pelo bispo de Roma - isto é, o Papa - e tão universalmente presente que se confunde como se apenas ela fosse a Igreja Católica) e 23 orientais, também com suas eparquias (dioceses) e bispos, estes chefiados por Patriarcas, Arcebispos-maiores ou Metropolitas.
A comunhão de Fé e Doutrina dessas igrejas está no fato de que todas são católicas por professarem a mesma fé nos mesmos dogmas (verdades de fé solenemente definidas e professadas pela Igreja), assim como por aceitarem os Concílios Ecumênicos ou Gerais (21 ao todo) e a fé-doutrina que neles foi definida.
A comunhão hierárquica reside no fato de que todas possuem hierarquia com sucessão apostólica, que se reconhecem mutuamente, com hierarcas que atuam como pais, cabeças e chefes espirituais. Ainda assim, esses hierarcas e essas igrejas também compreendem a necessidade desta mesma comunhão com a Igreja de Roma, mãe de todas as Igrejas, aceitando assim a primazia do Bispo de Roma como pastor supremo e universal de todos os católicos. Em suma, as Igrejas Católicas Orientais possuem história, rito, estrutura, disciplina, clero, organização e hierarquia próprias, no entanto também elas estão sob a cátedra do sucessor de São Pedro, o santo padre o Papa. A história de cada uma delas é rica em detalhes e particularidades que aos poucos veremos aqui em nossa página.
Outras tantas igrejas apostólicas poderiam fazer parte dessa comunhão de 24 igrejas que formam a Igreja Católica, o que aumentaria o número das igrejas em comunhão (por exemplo, diversas das igrejas chamadas Ortodoxas). Muitas professam a mesma fé-doutrina católica, no entanto têm como principal obstáculo apenas a aceitação do Papa de Roma como pastor e chefe universal de toda a Igreja de Cristo: algumas até aceitam uma primazia do sucessor de Pedro, o Papa de Roma, no entanto este primado seria apenas um "primado de honra", sendo o Papa uma espécie de líder espiritual cujos conselhos deveriam ser levados em consideração mais que o dos demais. No entanto, não aceitam o primado do Papa como de jurisdição, com autoridade de fato para legislar sobre todo o corpo e governar a Igreja inteira. É - principalmente - essa questão, ainda que não a única, que faz com que outras igrejas se coloquem fora da Igreja Católica, na condição de cismáticas.
Mas, como o que nos interessa é tratar apenas da Igreja Católica, começaremos por nos aprofundar naquele que é considerado o seu "pulmão oriental": as igrejas católicas orientais. Para que consigamos compreender a história dessas igrejas, há que retroceder aos tempos da igreja primitiva, período este em que o surgimento das igrejas que compunham a Igreja de Cristo (Católica) está intimamente relacionado à origem dos Ritos Apostólicos (como já vimos nos artigos aqui da página).
De uma forma bem resumida, podemos dizer que a Igreja foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo sobre São Pedro e os Apóstolos, em Jerusalém. Essa fundação, iniciada pelas palavras de Nosso Senhor a São Pedro após sua confissão de fé ("Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja...") consolidou-se após a vinda do Espírito Santo sobre eles, reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo em Jerusalém. Dali a comunidade cristã (Igreja de Jerusalém) ficou organizada sob o pastoreio do Apóstolo São Tiago, enquanto que os demais Apóstolos partiram para levar a Boa Nova a outras partes do mundo: São Pedro, por exemplo, antes de ir para para Roma, foi para Antioquia, tornando-se assim seu primeiro Bispo. Neste momento já havia, portanto, a Igreja de Jerusalém e a Igreja de Antioquia.
São Pedro e São Paulo Glórias da Igreja de Roma |
A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo foi se espalhando, já no primeiro e segundo séculos, por todas as regiões próximas ao seu local de origem: Oriente médio e próximo, Mediterrâneo, Ásia e norte da África. Essas comunidades cristãs, verdadeiras igrejas, professavam a mesma fé, eram organizadas hierarquicamente e reconheciam-se mutuamente. Já nos primeiros séculos questões doutrinárias eram debatidas em sínodos e Concílios, cujas decisões e resoluções deveriam ser aprovadas/reconhecidas por igrejas reconhecidamente Apostólicas, os centros de fé cuja fundação se havia dado pela pregação de algum Apóstolo (que consequentemente fora seu primeiro bispo), as chamadas Sés Apostólicas: Roma, Jerusalém, Antioquia e Alexandria. Posteriormente à transferência da capital do Império Romano para o Oriente, na antiga Bizâncio, pelo imperador Constantino em 330, deu origem à cidade de Constantinopla. Esta foi ganhando importância ao ponto de a Igreja ali presente reivindicar também para si a importância das demais sedes apostólicas, o que acabou acontecendo. Nascia assim aquilo que passou a ser chamado "A Pentarquia": Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.
A chamada Pentarquia era a organização da Igreja nos primeiros séculos, onde as 5 principais sedes eram chamadas Patriarcados. Roma detinha a primazia por ter sido a sede do Apóstolo Pedro, o chefe dos Apóstolos, a cidade onde pregou e morreu São Paulo, além de ser a "capital do mundo" e sede do Império. Com o surgimento de dúvidas e/ou impasses concernentes à Fé, muitas vezes a solução era recorrer à Igreja de Roma como juíza e parâmetro da verdadeira Fé Apostólica. Após o surgimento de alguns desvios na reta doutrina (heresias) em algumas comunidades cristãs, Sínodos e Concílios, ou seja - A Igreja - estabeleciam a verdade, que algumas vezes acabava não sendo aceita por todos: algumas igrejas então foram separando-se d´A Igreja. Essas separações eram, de certa forma, não tão importantes, no sentido de que as igrejas que se apartavam acabaram por desaparecer com o tempo. A primeira separação de verdadeira relevância deu-se após o Concílio de Éfeso em 431.
Concílio de Calcedônia |
Em 431, após as definições deste Concílio, algumas igrejas que apoiavam a heresia denominada "Nestorianismo" separaram-se do corpo da Igreja encabeçado pela igreja Romana. Essas igrejas subsistiram naquela que fora chamada posteriormente "Igreja Assíria do Oriente", igreja que existe até hoje (embora negue professar a antiga heresia Nestoriana). Posteriormente, no Concílio de Calcedônia (em 451) foi condenada a heresia do Monofisismo. Outras tantas igrejas que não aceitaram as definições Calcedonianas acabaram separando-se da Igreja encabeçada pela igreja de Roma. Nasciam aí as Igrejas Jacobita, Armênia e Copta. As Igrejas que mantiveram-se fieis aos Concílios (dentre elas a Igreja de Roma) formavam a Igreja Católica: unidas entre si e à Igreja Romana cujo chefe é o sucessor de São Pedro e mantendo a Fé ortodoxa, reconheciam-se como a única e verdadeira Igreja de Cristo, ou seja, a Igreja Católica.
Com o transcorrer dos séculos, outras divisões ocorreram no Corpo da Igreja. Em 1054, ocorreu o Grande Cisma do Oriente, momento em que muitas das Igrejas Apostólicas que integravam a Igreja Católica separaram-se da Igreja de Roma e do Sumo Pontífice. Separaram-se, portanto, da Igreja Católica. Essas Igrejas, em cisma com a Igreja Católica mas em comunhão entre si, formando uma "comunhão paralela de igrejas", passaram a denominar essa comunhão como a "Igreja Ortodoxa".
Séculos mais tarde houve a chamada "reforma protestante" cujo início "oficial" se deu com a excomunhão do padre agostiniano Martinho Lutero. Dela resultou o apartamento de milhares de cristãos ocidentais e surgimento de milhares de seitas que interminavelmente se multiplicam até os nossos dias. No entanto, diferente das separações que mencionamos nos parágrafos anteriores, em que verdadeiras igrejas se afastavam do Corpo da Igreja Católica tornando-se cismáticas, as ditas "igrejas" resultantes da "reforma protestante" não se enquadram nesta categoria, pelo simples fato de não serem igrejas no sentido próprio da palavra, apenas aglomerações de cristãos independentes (hereges autônomos), o que faz com que não mais dediquemos a falar sobre eles por não contribuir em nada ao tema deste artigo.
O que deve nos ficar claro, como católicos, é que a Igreja de Cristo (Católica) é uma comunhão de igrejas que se reconhecem mutuamente e que aceitam a autoridade da Igreja de Roma e, mais especificamente, de seu bispo, o Santo Padre o Papa. Ao longo dos 2000 anos de existência da Igreja, muitas parcelas dela acabaram se separando e colocando-se em cisma. No entanto, outras tantas mantiveram-se fiéis, ou retornaram ao redil católico, regressando novamente à Barca de Pedro. Dentre elas podemos citar a Igreja Maronita como exemplo de igreja oriental que sempre esteve em comunhão com a Sé Apostólica de Roma, nunca tendo saído do corpo da Igreja Católica. Outras após séculos acabaram retornando a essa comunhão, como é o caso da Igreja Copta Católica, unida formalmente à Sé de Pedro em 1741. Há ainda aquelas que faziam parte de outra igreja "sui juri" mas que receberam autonomia recentemente, como é o caso da Igreja Católica Eritreia, que foi tornada igreja "sui juri" no atual pontificado, pelas mãos do Papa Francisco.
Em suma, agora que compreendemos (de uma forma beeemmm genérica) o desenvolvimento da Igreja Católica, podemos finalmente começar a apresentar, uma a uma, a histórica das Igrejas Católicas Orientais. É o que faremos nos próximos artigos.
Sua Santidade o Papa Bento XVI, com alguns Patriarcas e Arcebispos-maiores Católicos |
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