O RITO ARMÊNIO é um dos tradicionais Ritos da Igreja. Seu desenvolvimento se deu a partir da região do antigo reino da Armênia, que afirma ter sido também sua Igreja fundada por Apóstolos: São Bartolomeu e São Judas Tadeu teriam sido os primeiros a introduzir a Fé em Cristo no território armênio, tendo também organizado a primeira comunidade de cristãos daquele território, nascendo assim a Igreja da Armênia.
O antigo reino da Armênia (hoje país) está localizado no continente asiático, numa região montanhosa na Eurásia entre o mar Negro e o Mar Cáspio, no sul do Cáucaso. Faz fronteira com a Turquia a oeste, Geórgia a norte, Azerbaijão a leste e com o Irã ao sul.
A Liturgia armênia se destaca por sua beleza e solenidade. Originalmente, nos primeiros séculos da Igreja na Armênia, foi introduzido um rito do tipo siríaco, algo talvez da Liturgia de São Tiago que, como vimos, é de certa forma a Liturgia mãe de quase todos os ritos. Deste rito ainda se percebem alguns vestígios no atual Rito Armênio. Em seguida, sobreveio o influxo de algumas práticas litúrgicas provenientes de Cesareia da Capadócia, que era de Rito Antioqueno; dessa influência, derivaram mais tarde os ritos armênio e bizantino, o que explica porque a liturgia armênia é provavelmente a mais parecida com a liturgia bizantina.
Antes de apresentarmos o rito em si, há que mencionar algumas de suas particularidades ou características que a ele estão intimamente relacionadas.
Uma coisa que se nota nas igrejas de Rito Armênio, logo de início, é que não há a iconóstase comum no Rito Bizantino (e também no Copta) mas que, por outro lado, têm algo muito característico: a presença de uma cortina, que fica entre o presbitério (sempre em nível elevado) e restante da igreja. Essa cortina, que como veremos mais adiante, é fechada em alguns momentos durante a Liturgia, tem a finalidade tanto de trazer uma atmosfera de mistério à celebração litúrgica (afinal, ali se estão celebrando os "Santos Mistérios") como também para fazer com que os fieis se concentrem em sua oração e não se distraiam com certos ritos e ações do celebrante em alguns momentos da celebração. Essa prática, embora ainda encontrada também em algumas de Rito Caldeu e até de Siríaco Antioqueno (Siro-Malancar), hoje é uma das características próprias das igrejas de Rito Armênio. No entanto, consta que era comum a praticamente todos os ritos nos tempos primitivos da Igreja (até hoje ainda conservam-se estruturas deste tipo em igrejas do Rito Romano).
A Missa é celebrada - assim como em todos os ritos tradicionais - "versus Deum", isto é, de frente para Deus e "de costas" para o povo. Outra característica interessante do Rito Armênio é que, ao paramentar-se, tanto o celebrante quanto os diáconos, acólitos e quem mais for subir ao presbitério para aproximar-se do altar, tiram os sapatos e colocam uma espécie de "sapatilha" ou "meia", um calçado especial, em tecido nobre (veludo ou outro tipo) com desenhos e bordados, que serve para indicar a importância do local ao qual pretendem se aproximar: assim como Moisés teve de tirar as sandálias de seus pés para aproximar-se da Sarça Ardente (pois ali estava Deus), também os armênios tiram seus sapatos vulgares e calçam "sapatos litúrgicos" para se aproximarem do Altar de Deus, onde o Cristo se fará presente na Santíssima Eucaristia.
Momento em que as cortinas se fecham Catedral Armênia Católica de São Gregório Iluminador - São Paulo - Brasil |
E por falar em paramentos, vale ressaltar que, assim como no Rito Bizantino, no Rito Armênio os paramentos são belíssimos e suntuosos: na verdade, em praticamente todos os Ritos Tradicionais - inclusive o Romano - o são. Somente no Rito Romano Moderno (pós Vaticano II) é que houve uma simplificação tamanha dos paramentos que - me perdoem - beira ao desleixo. Todo católico deveria entender que os paramentos, isto é, a vestimenta usada para a celebração litúrgica não tem a finalidade de "embelezar" o padre que a utiliza, mas antes, que está intimamente ligada à magnitude e à imponência dos Divinos Mistérios que se celebram (para Deus o melhor!). Enfim...
Outra particularidade do Rito Armênio é que, nele, os bispos usam mitra e báculo latinos (a mitra um pouco mais comprida), assim como os bispos ocidentais (provavelmente influência dos missionários ocidentais) enquanto os sacerdotes usam uma espécie de báculo oriental e uma espécie de coroa, ambos semelhantes aos utilizados pelos bispos bizantinos (embora a coroa do Rito Armênio seja menor e mais discreta, por exemplo).
Ao contrário dos outros Ritos, em que mais de uma igreja os utiliza, atualmente apenas uma igreja "sui juris", - portanto Católica - tem o Rito Armênio como Liturgia oficial:
- A IGREJA ARMÊNIA CATÓLICA.
Conforme fora dito no início deste artigo, o Rito Armênio se desenvolveu, primeiramente a partir de um rito do tipo siríaco-Antioqueno com algumas práticas litúrgicas provenientes de Cesareia da Capadócia, influências essas que acabaram produzindo também o Rito Bizantino. No entanto, o Rito Armênio têm como principal nome aquele que teria sido o responsável por estabelecer suas principais diretrizes: São Gregório o iluminador, que fora o Santo chamado Apóstolo da Armênia por ter sido o responsável pela conversão do Rei da Armênia (Tirídates III) e copm ele de todo o reino que se tornou o primeiro Reino cristão (no ano 301). Teria sido São Gregório Iluminador aquele que definiu as bases do Rito Armênio, tal qual é preservado até nossos dias. Também houve influências em sua liturgia, além do Rito Bizantino, também do Rito Romano, como veremos.
Conforme fora dito no início deste artigo, o Rito Armênio se desenvolveu, primeiramente a partir de um rito do tipo siríaco-Antioqueno com algumas práticas litúrgicas provenientes de Cesareia da Capadócia, influências essas que acabaram produzindo também o Rito Bizantino. No entanto, o Rito Armênio têm como principal nome aquele que teria sido o responsável por estabelecer suas principais diretrizes: São Gregório o iluminador, que fora o Santo chamado Apóstolo da Armênia por ter sido o responsável pela conversão do Rei da Armênia (Tirídates III) e copm ele de todo o reino que se tornou o primeiro Reino cristão (no ano 301). Teria sido São Gregório Iluminador aquele que definiu as bases do Rito Armênio, tal qual é preservado até nossos dias. Também houve influências em sua liturgia, além do Rito Bizantino, também do Rito Romano, como veremos.
A Divina Liturgia Armênia
A Divina Liturgia (Santa Missa) no Rito Armênio tem a língua Armênia como língua litúrgica, com exceção das leituras e da homilia pronunciada ao povo. Divide-se em 4 partes:
I - Rito de Entrada;
II - Synaxis ou Liturgia da Palavra;
III - Missa dos Fiéis ou Liturgia Eucarística;
IV - Rito de Conclusão;
O então Patriarca Armênio Católico Nersés Bedros XIX Tarmouni celebra a Divina Liturgia em Rito Armênio na Basílica de São Pedro, no Vaticano. O Patriarca repousou no Senhor em 25 de junho de 2015. |
No rito de entrada, são preparados os dons que serão santificados, preparação de certa forma mais simples que, por exemplo, no Rito Bizantino ou em outras Liturgias Orientais. A Divina Liturgia (Santa Missa) inicia-se praticamente igual à Liturgia do Rito Romano (Tradicional), com as "orações ao pé do altar" (para purificar-se antes de se aproximar do altar de Deus para a celebração dos santos mistérios). Na preparação, é utilizado o pão ázimo (sem fermento), tal qual no Rito Romano. Canta-se então o hino "Oh Profundo Mistério" enquanto o sacerdote se aproxima do altar:
"Oh Profundo Mistério,inalcançável, sem começo! Tu adornastes as potências do alto qual tálamo de luz inacessível e aos coros dos anjos da glória resplandecente. Oh Rei do céu, conserva firme a tua Igreja e guarda em tua paz aos que adoram teu santo nome".
No Rito Penitencial se dão absolvições mútuas o Sacerdote e o Diácono, e após a Salmodia (Salmo 99 - "Aclamai o Senhor, por toda a terra. Servi o Senhor com alegria. Vinde, exultantes em sua presença. Sabei que o Senhor é Deus: Ele nos fez, e a Ele pertencemos...") têm lugar as Intercessões.
A Synaxis ou Liturgia da Palavra inicia-se com a Entrada e o Triságio (com incisos próprios, por exemplo, na Páscoa: "Santo Deus, Santo e Forte, Santo e Imortal, que ressuscitou dentre os mortos, tem piedade de nós). Em Seguida vêm lugar as Litanias e, após estas, as Leituras das Epístolas, dos Salmos e o Santo Evangelho; Terminada a Homilia, recita-se o Símbolo Niceno-Constantinopolitano seguido de um anátema anti-ariano e uma glorificação trinitária. Recitado este, tem lugar a Despedida/Proibição: "Nenhum dos catecúmenos, nenhum com pouca fé e nenhum dos penitentes e dos impuros se aproxime a este Divino Mistério".
Em seguida inicia-se a Missa dos Fiéis ou Liturgia Eucarística, começando com o "Ósculo da Paz", que no Rito Armênio tem um significado ainda mais explícito. O Diácono diz: Saudai-vos mutuamente pelo ósculo da paz, e que aqueles que não são aptos a participar destes santos mistérios se retirem e vão rezar fora". Todo o povo se saúda dizendo: "Jesus Cristo está entre nós". O coro então canta um hino breve, mas que sintetiza admiravelmente o sentido infinitamente rico da ação que se passa neste momento.
Logo então vem a Anáfora. No Rito Armênio são usadas algumas, sendo elas: três da Tradição Bizantina: as de Santo Atanásio, São João Crisóstomo e São Basílio; outras de esquema Antioqueno: as de São Tiago e Santo Inácio; outras com particularidades próprias: as de São Gregório Nazianzeno e São Cirilo de Alexandria. A Anáfora consta de:
- Diálogo Invitatorial: o diácono diz "As portas, vigiai com toda prudência e atenção! Elevai ao alto a mente com temor de Deus"; ao que a assembléia responde: "A temos elevada para ti, Senhor onipotente". De novo o Diácono diz: "E dai graças ao Senhor com todo o coração"; A assembléia responde: "É coisa digna e justa";
Elevação do cálice |
- O Prefácio e o Santo: o Celebrante diz "E de criar melodias, com os Serafins e com os Querubins, cantando ao uníssono o Triságio e, bradam firmemente, exclamar junto a eles com grande voz, dizendo: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos..."
- Relato da Instituição: O sacerdote prossegue dizendo "Enquanto tomou o pão em suas santas, divinas, imaculadas e criadoras mãos, o abençoou [coloca a hóstia na palma de sua mão esquerda, e com a direita traça a bênção sobre ele], deu graças e o deu a seus eleitos, a seus santos, aos discípulos sentados com Ele à mesa, dizendo: Este é meu Corpo que é distribuído por vós e por muitos para a expiação e a remissão dos pecados"; Em seguida, tomando o cálice, diz: "Tomai e bebei todos: Este é meu Sangue da nova Aliança, que é derramado por vós e por muitos para a expiação e a remissão dos pecados".
- Na sequência vem a Anamnese, a Epiclese (invocação do Espírito Santo sobre os dons) e o Pai-Nosso. Por fim, a elevação da Divina Eucaristia onde o sacerdote canta: "O Santo aos santos" ao que a assembléia aclama "um somente é Santo, um somente é Senhor, Jesus Cristo, na glória de Deus Pai. Amém". Vale ressaltar que a elevação se dá praticamente da mesma forma que no Rito Romano.
Terminadas essas partes, vem a Comunhão do celebrante. Em seguida, antes da Comunhão dos fiéis, diz o diácono: "Com temor e fé, aproxime-se e comungai com santidade. Dizei: pequei contra Deus. Creio no Pai Santo, Deus verdadeiro; creio no Filho Santo, Deus verdadeiro; Creio no Espírito Santo, Deus verdadeiro; Confesso e creio que este é o verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que tira o pecado do mundo". Forma-se então a fila para a comunhão dos fiéis.
A Comunhão dos fiéis |
Em diversos momentos da Divina Liturgia (procissão de entrada, a do Evangelho e a dos Dons, assim como durante a récita do Triságio e o Credo) soam os "Exaptérigos", que é uma espécie de vara comprida com um disco metálico na extremidade, com campainhas presas ao redor, que representam os querubins.
Outro ponto importante e bem característico do Rito Armênio, conforme mencionado no início do artigo, é a presença das cortinas que se fecham em dois momentos da Divina Liturgia: No ofertório e também durante a Comunhão do Sacerdote.
Dom Vartan Boghossian, Bispo Emérito do Exarcado Armênio Católico para a América Latina, dá a bênção final com a Cruz Armênia em punho |
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Esperamos que com este pequeno artigo tenhamos conseguido apresentar um pouco mais da Riqueza da Igreja Católica em seu tesouro oriental, neste caso, com o Rito Armênio.
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