Divina Liturgia no Rito Copta, celebrada na Catedral Católica Etíope de Emdibir, na Etíópia |
Para que possamos compreender como surgiram os Ritos da Igreja, devemos antes de mais nada fazer uma viagem de volta ao seu início - retornando 1.986 anos atrás - e assim repassar, mesmo que de forma resumida e superficial, algumas verdades fundamentais sobre a Igreja de Cristo.
Comecemos por sua fundação. Voltamos 1.986 anos pois, retrocedendo este período, chegamos em meados do ano 33, ano da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois bem, o nascimento da Igreja se deu, como sabemos, primeiramente pela sua fundação por Nosso Senhor sobre o Apóstolo Pedro (Mateus cap. 16 vers. 18) e os Apóstolos, chamados por isso "Colunas da Igreja". Além desse episódio, deu-se efetivamente o seu nascimento com a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo, em Jerusalém (Pentecostes).
Os Apóstolos então passaram a transmitir a boa nova, a princípio, ali mesmo na cidade Santa, onde se encontravam. Reunindo-se ali, integravam aquela que foi a primeira comunidade cristã, a primeira igreja, a Igreja de Jerusalém. Neste período, imagina-se que ainda não havia nenhum rito específico. À cerimônia vivenciada na Santa Ceia, observada por eles e realizada pelo próprio Cristo, somaram atos e cerimônias das sinagogas (vale lembrar que eram os Apóstolos - assim como Nosso Senhor - judeus), transformando a isso tudo em liturgia cristã.
A partir de então, partiram os Apóstolos para outras cidades e povoados, cumprindo dessa forma o mandato de Nosso Senhor (Marcos cap. 16 vers. 15). Com eles, foi levada também a cerimônia litúrgica, que passou a desenvolver-se em cada lugar para onde estava sendo levada a Boa Nova.
Imagina-se que neste período da Igreja primitiva, os celebrantes tinham plena liberdade no exercício do culto público, embora se preservasse - obviamente - as partes centrais, aprendidas do próprio Senhor e comuns a todos os Apóstolos. Com o crescimento progressivo das comunidades cristãs, teve início uma certa uniformidade nas celebrações litúrgicas. Percebemos com isso que os Ritos da Igreja nasceram não de uma uniformidade para a diversidade, mas ao contrário, da diversidade para uma certa unidade.
A formação dos primeiros Ritos litúrgicos se deu a partir da formação das primeiras "igrejas", isto é, comunidades cristãs fundadas pelos Apóstolos. Vale lembrar que o termo "igreja" aqui empregado refere-se a cada comunidade cristã de um determinado lugar (igreja de Corinto, Igreja de Jerusalém, etc.). No entanto, cada uma delas constituía uma parte, uma parcela dA IGREJA, única e mesma Igreja, ou seja, todas essas igrejas reconheciam-se como partes de um todo, parcelas de uma mesma Igreja. Deviam, portanto, estar em comunhão umas com as outras, reconhecendo-se mutuamente.
Nessa formação temos, já a princípio, um Rito: O RITO DE JERUSALÉM.
O Rito de Jerusalém, também chamado RITO SIRÍACO, é também conhecido como Rito de São Tiago (o Apóstolo Tiago fora o primeiro Bispo de Jerusalém). É de certa forma o primeiro Rito da Igreja, por ter sido Jerusalém o local de nascimento da Igreja. Seu nome (Siríaco) deve-se ao dialeto siríaco, que é um dialeto do Aramaico, a língua falada pelo próprio Cristo Nosso Senhor. Este Rito também passou a ser comum em todo o "Oriente" próximo, inclusive na Igreja de Antioquia, fundada pelo apóstolo Paulo e cujo primeiro Bispo foi o Apóstolo Pedro. Por este motivo, o Rito Siríaco também é chamado RITO ANTIOQUINO, sendo o Rito das Igrejas de Jerusalém, de Antioquia e do Oriente.
Outro rito apostólico dos primórdios da Igreja foi o rito da Igreja de Roma, o RITO ROMANO.
O RITO ROMANO foi o rito que se desenvolveu na Igreja de Roma, a Igreja fundada pelos Apóstolos Pedro e Paulo. O Apóstolo Pedro fez dessa Igreja sua sede permanente, sendo seu primeiro Bispo, tendo-a governado até seu martírio. Por ser a Igreja localizada no coração do mundo de então, a Igreja fundada por Pedro e Paulo e sede apostólica do chefe dos Apóstolos, desde o princípio tornou-se a Igreja "referência", a mãe de todas as Igrejas, o centro do mundo cristão em autoridade e primazia. O Rito que aí se originou, portanto, tem sua origem no Apóstolo Pedro, desenvolvendo-se nos séculos seguintes através dos sucessores de Pedro (os papas) até ser sistematizado (em partes) sob o pontificado do Papa São Gregório Magno, papa do ano 590 ao ano 604, sendo por isso também chamado de Rito Gregoriano. O Rito Romano é o Rito da Igreja de Roma, além de ter servido de base para os diversos ritos latinos. É o rito que foi levado pela Igreja para os diversos cantos do mundo e, por isso, o mais conhecido.
Além destes, também desenvolveu-se na Igreja primitiva o chamado Rito Asiático, cuja abrangência atingia a região da Ásia Menor (boa parte do que hoje é a Turquia) onde encontravam-se algumas igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo, além de ser região visitada por outros Apóstolos.
Na região de Cesaréia da Capadócia, Nazianzo e Néo-Cesaréia desenvolveu-se o chamado Rito do Ponto. Tanto o rito asiático quanto o rito do ponto estão em letras minúsculas pois, além de terem desaparecido com o passar do tempo e haver uma carência de informações a respeito deles, na verdade acabaram originando outros ritos, estes sim permanentes e cuja importância estendeu-se até nossos dias.
Ainda nos primórdios, originou-se também o chamado Rito Alexandrino ou RITO COPTA, rito este que se desenvolveu na região de Alexandria (Egito), cuja Igreja fora fundada pelo Evangelista São Marcos. O Rito de Alexandria, ou Rito Copta - cujo nome provém da população originária do Egito, assim como do idioma deste povo - é o Rito da Igreja de Alexandria, do Egito e de outras comunidades cristãs do norte da África, como as igrejas da Etiópia e Eritreia.
Na antiga Bizâncio, posteriormente sede da Igreja de Constantinopla, desenvolveu-se o chamado RITO BIZANTINO. Este Rito tem sua base no Rito de São Tiago (Rito de Jerusalém/Rito Antioquino), foi adaptado por São Basílio (Bispo de Cesaréia) e teve sua versão mais difundida na liturgia de São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla entre os anos de 397 e 403. O RITO BIZANTINO tornou-se o rito da maior parte das igrejas orientais, inclusive tendo se espalhado para as comunidades que receberam missões a partir de Bizâncio, como as igrejas dos gregos, eslavos, ucranianos, da Europa oriental, etc.
O chamado RITO CALDEU, também chamado de SIRÍACO ORIENTAL, desenvolveu-se na região antiga Babilônia e regiões do Império Persa. Segundo o especialista Juan Cañellas, é uma das liturgias mais arcaicas da Cristandade, com um "forte sabor hebraico". É o Rito da Igreja Católica Caldeia e da Igreja Católica Siro-Malabar (da Índia), ambas compartilham a Tradição de terem suas origens no Apóstolo São Tomé.
Por fim, temos ainda o RITO ARMÊNIO, que foi de certa forma "modulado" por São Gregório Iluminador, "aquele que introduziu a Fé na Armênia e a converteu em primeiro reino cristão, no ano 301. Este Rito tem influências do Rito Bizantino, do Rito Antioquino e mesmo do Rito Romano. Desde então é o Rito dos Armênios. E por último, outro rito próprio, o RITO MARONITA, derivado do Rito Antioquino (Jerusalém/Antioquia) e que se tornou próprio da Igreja Católica Maronita (Líbano).
Desta forma, nos primeiros séculos, os RITOS da Igreja solidificaram-se resultando nos 6 Grandes Ritos, que por sua vez, subdividem-se:
RITO ANTIOQUENO
- Rito Maronita (também chamado Siríaco "modificado")
RITO ROMANO
- Alguns outros ritos latinos
RITO COPTA
RITO BIZANTINO
RITO CALDEU
RITO ARMÊNIO
Com isso aprendemos, de uma forma geral, a origem dos Ritos da Santa Igreja. Nos próximos artigos, trataremos de cada um deles em específico, assim como das (24) Igrejas que os utilizam e que - juntas - compõem A IGREJA CATÓLICA.
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