quarta-feira, 26 de junho de 2019

Parte 5: A ORIGEM dos RITOS na Igreja Primitiva

Divina Liturgia no Rito Copta, celebrada na Catedral Católica Etíope de Emdibir, na Etíópia

Para que possamos compreender como surgiram os Ritos da Igreja, devemos antes de mais nada fazer uma viagem de volta ao seu início - retornando 1.986 anos atrás - e assim repassar, mesmo que de forma resumida e superficial, algumas verdades fundamentais sobre a Igreja de Cristo.

Comecemos por sua fundação. Voltamos 1.986 anos pois, retrocedendo este período, chegamos em meados do ano 33, ano da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois bem, o nascimento da Igreja se deu, como sabemos, primeiramente pela sua fundação por Nosso Senhor sobre o Apóstolo Pedro (Mateus cap. 16 vers. 18) e os Apóstolos, chamados por isso "Colunas da Igreja". Além desse episódio, deu-se efetivamente o seu nascimento com a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos com Maria Santíssima no Cenáculo, em Jerusalém (Pentecostes).

Os Apóstolos então passaram a transmitir a boa nova, a princípio, ali mesmo na cidade Santa, onde se encontravam. Reunindo-se ali, integravam aquela que foi a primeira comunidade cristã, a primeira igreja, a Igreja de Jerusalém. Neste período, imagina-se que ainda não havia nenhum rito específico. À cerimônia vivenciada na Santa Ceia, observada por eles e realizada pelo próprio Cristo,  somaram atos e cerimônias das sinagogas (vale lembrar que eram os Apóstolos - assim como Nosso Senhor - judeus), transformando a isso tudo em liturgia cristã.

A partir de então, partiram os Apóstolos para outras cidades e povoados, cumprindo dessa forma o mandato de Nosso Senhor (Marcos cap. 16 vers. 15). Com eles, foi levada também a cerimônia litúrgica, que passou a desenvolver-se em cada lugar para onde estava sendo levada a Boa Nova.

Imagina-se que neste período da Igreja primitiva, os celebrantes tinham plena liberdade no exercício do culto público, embora se preservasse - obviamente - as partes centrais, aprendidas do próprio Senhor e comuns a todos os Apóstolos. Com o crescimento progressivo das comunidades cristãs, teve início uma certa uniformidade nas celebrações litúrgicas. Percebemos com isso que os Ritos da Igreja nasceram não de uma uniformidade para a diversidade, mas ao contrário, da diversidade para uma certa unidade.

A formação dos primeiros Ritos litúrgicos se deu a partir da formação das primeiras "igrejas", isto é, comunidades cristãs fundadas pelos Apóstolos. Vale lembrar que o termo "igreja" aqui empregado refere-se a cada comunidade cristã de um determinado lugar (igreja de Corinto, Igreja de Jerusalém, etc.). No entanto, cada uma delas constituía uma parte, uma parcela dA IGREJA, única e mesma Igreja, ou seja, todas essas igrejas reconheciam-se como partes de um todo, parcelas de uma mesma Igreja. Deviam, portanto, estar em comunhão umas com as outras, reconhecendo-se mutuamente.

Nessa formação temos, já a princípio, um Rito: O RITO DE JERUSALÉM.

O Rito de Jerusalém, também chamado RITO SIRÍACO, é também conhecido como Rito de São Tiago (o Apóstolo Tiago fora o primeiro Bispo de Jerusalém). É de certa forma o primeiro Rito da Igreja, por ter sido Jerusalém o local de nascimento da Igreja. Seu nome (Siríaco) deve-se ao dialeto siríaco, que é um dialeto do Aramaico, a língua falada pelo próprio Cristo Nosso Senhor. Este Rito também passou a ser comum em todo o "Oriente" próximo, inclusive na Igreja de Antioquia, fundada pelo apóstolo Paulo e cujo primeiro Bispo foi o Apóstolo Pedro. Por este motivo, o Rito Siríaco também é chamado RITO ANTIOQUINO, sendo o Rito das Igrejas de Jerusalém, de Antioquia e do Oriente.

Outro rito apostólico dos primórdios da Igreja foi o rito da Igreja de Roma, o RITO ROMANO.

O RITO ROMANO foi o rito que se desenvolveu na Igreja de Roma, a Igreja fundada pelos Apóstolos Pedro e Paulo. O Apóstolo Pedro fez dessa Igreja sua sede permanente, sendo seu primeiro Bispo, tendo-a governado até seu martírio. Por ser a Igreja localizada no coração do mundo de então, a Igreja fundada por Pedro e Paulo e sede apostólica do chefe dos Apóstolos, desde o princípio tornou-se a Igreja "referência", a mãe de todas as Igrejas, o centro do mundo cristão em autoridade e primazia. O Rito que aí se originou, portanto, tem sua origem no Apóstolo Pedro, desenvolvendo-se nos séculos seguintes através dos sucessores de Pedro (os papas) até ser sistematizado (em partes) sob o pontificado do Papa São Gregório Magno, papa do ano 590 ao ano 604, sendo por isso também chamado de Rito Gregoriano. O Rito Romano é o Rito da Igreja de Roma, além de ter servido de base para os diversos ritos latinos. É o rito que foi levado pela Igreja para os diversos cantos do mundo e, por isso, o mais conhecido.

Além destes, também desenvolveu-se na Igreja primitiva o chamado Rito Asiático, cuja abrangência atingia a região da Ásia Menor (boa parte do que hoje é a Turquia) onde encontravam-se algumas igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo, além de ser região visitada por outros Apóstolos.

Na região de Cesaréia da Capadócia, Nazianzo e Néo-Cesaréia desenvolveu-se o chamado Rito do Ponto. Tanto o rito asiático quanto o rito do ponto estão em letras minúsculas pois, além de terem desaparecido com o passar do tempo e haver uma carência de informações a respeito deles, na verdade acabaram originando outros ritos, estes sim permanentes e cuja importância estendeu-se até nossos dias.

Ainda nos primórdios, originou-se também o chamado Rito Alexandrino ou RITO COPTA, rito este que se desenvolveu na região de Alexandria (Egito), cuja Igreja fora fundada pelo Evangelista São Marcos. O Rito de Alexandria, ou Rito Copta - cujo nome provém da população originária do Egito, assim como do idioma deste povo - é o Rito da Igreja de Alexandria, do Egito e de outras comunidades cristãs do norte da África, como as igrejas da Etiópia e Eritreia.

Na antiga Bizâncio, posteriormente sede da Igreja de Constantinopla, desenvolveu-se o chamado RITO BIZANTINO. Este Rito tem sua base no Rito de São Tiago (Rito de Jerusalém/Rito Antioquino), foi adaptado por São Basílio (Bispo de Cesaréia) e teve sua versão mais difundida na liturgia de São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla entre os anos de 397 e 403. O RITO BIZANTINO tornou-se o rito da maior parte das igrejas orientais, inclusive tendo se espalhado para as comunidades que receberam missões a partir de Bizâncio, como as igrejas dos gregos, eslavos, ucranianos, da Europa oriental, etc.

O chamado RITO CALDEU, também chamado de SIRÍACO ORIENTAL, desenvolveu-se na região antiga Babilônia e regiões do Império Persa. Segundo o especialista Juan Cañellas, é uma das liturgias mais arcaicas da Cristandade, com um "forte sabor hebraico". É o Rito da Igreja Católica Caldeia e da Igreja Católica Siro-Malabar (da Índia), ambas compartilham a Tradição de terem suas origens no Apóstolo São Tomé.

Por fim, temos ainda o RITO ARMÊNIO, que foi de certa forma "modulado" por São Gregório Iluminador, "aquele que introduziu a Fé na Armênia e a converteu em primeiro reino cristão, no ano 301. Este Rito tem influências do Rito Bizantino, do Rito Antioquino e mesmo do Rito Romano. Desde então é o Rito dos Armênios. E por último, outro rito próprio, o RITO MARONITA, derivado do Rito Antioquino (Jerusalém/Antioquia) e que se tornou próprio da Igreja Católica Maronita (Líbano).

Desta forma, nos primeiros séculos, os RITOS da Igreja solidificaram-se resultando nos 6 Grandes Ritos, que por sua vez, subdividem-se:

RITO ANTIOQUENO
- Rito Maronita (também chamado Siríaco "modificado") 

RITO ROMANO
- Alguns outros ritos latinos

RITO COPTA

RITO BIZANTINO

RITO CALDEU

RITO ARMÊNIO

Com isso aprendemos, de uma forma geral, a origem dos Ritos da Santa Igreja. Nos próximos artigos, trataremos de cada um deles em específico, assim como das (24) Igrejas que os utilizam e que - juntas - compõem A IGREJA CATÓLICA.

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