A SEPARAÇÃO DA IGREJA ARMÊNIA
Ao contrário do que aconteceu com as parcelas das Igrejas de Antioquia e Alexandria que se separaram e originaram a Igreja Siríaca Ortodoxa e a Igreja Copta Ortodoxa, onde a não aceitação de Calcedônia e consequente separação foi imediata, entre os Armênios ainda demoraria algum tempo. A aceitação (ou não) das definições de Calcedônia ainda gerava divergência, algo que precisava ser solucionado. Meio século depois, em 506, um Concílio Regional foi convocado para tratar da receptividade às definições do Concílio de Calcedônia. Nele, além do Katholikós Armênio Babken I, também se fez presente o Katholikós da Georgia e da Albânia, além de 20 bispos, 14 leigos e muitos "nakharars" (governantes da Armênia), conforme citado no chamado "Livro das Epístolas". Parece que a aceitação de Calcedônia não ficou plenamente definida neste concílio.
Em 609 foi convocado um novo Concílio regional da Igreja Armênia, o 3º Concílio de Dvin, durante o reinado do Katholikós Abraão I de Aghbatank e do Príncipe Smbat Bagratuni, com a participação de clérigos e leigos. Este Concílio foi convocado, dentre outros motivos, para esclarecer a relação entre as Igrejas Armênia e Georgiana. Nele é que foram recusadas as terminologias usadas para as definições cristológicas do Concílio de Calcedônia, no entanto, a Igreja da Georgia não concordou, pois havia aprovado a Cristologia de Calcedônia. Isso fez com que houvesse então uma ruptura entre a Igreja Armênia e a Igreja da Georgia. Após o Concílio, o Katholikós Armênio Abraão I escreveu uma carta encíclica endereçada ao povo, culpando a Igreja Georgiana pelo cisma. O Concílio em si não criou cânones, apenas privou os georgianos de terem comunhão na Igreja Armênia. Apesar disso, a Igreja da Albânia permaneceu sob jurisdição da Igreja Armênia enquanto seguia em comunhão com a Igreja da Georgia.
Estava pois consolidada a chamada ''Ortodoxia Oriental": Às Igrejas Siríaca Ortodoxa e Copta Ortodoxa juntava-se a Igreja Armênia Ortodoxa, mais popularmente reconhecida como Igreja Apostólica
Armênia:
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Os atuais Patriarcas da Ortodoxia Oriental
Ignatius Aphrem II, da Igreja Ortodoxa Siríaca
Tawadros II, da Igreja Copta Ortodoxa
Karekin II, da Igreja Apostólica Armênia |
A nação Armênia se desenvolveu sempre de maneira intimamente relacionada à sua Igreja, que por sua vez contribuiu para o desenvolvimento da cultura armênia, seja no âmbito secular (arte, literatura, etc.) e, principalmente, no âmbito religioso, chegando mesmo a desenvolver um rito próprio - o Rito Armênio - além de imprimir sua marca na arquitetura, paramentos e arte sacra bem característicos. Tal riqueza religiosa, histórica e cultural prosseguiu em desenvolvimento pelos séculos seguintes.
A SANTA SÉ (OU GRANDE CASA) DA CILÍCIA
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Khachkhar, tradicional cruz de pedra armênia |
Havia uma região, fora da Grande Armênia, localizada em território que perfazia a costa do Mediterrâneo até a Anatólia (regiões do que hoje é a Turquia) chamada Cilícia. Essa região passou a abrigar uma grande população armênia, cujas raízes remontam desde o século VI, quando famílias armênias para lá migraram, quando era território bizantino. No século VII, a Cilícia caiu sob domínio árabe, sendo incorporada ao Califado Rashidun. Em 965 foi reconquistada pelo imperador bizantino Nicephorus II Phocas, que expulsou os muçulmanos que ali viviam e encorajou os cristãos da Síria e da Armênia a se instalarem na região, aumentando ainda mais a população armênia ali presente.
A anexação formal da Grande Armênia ao Império Bizantino em 1045 e sua conquista pelos turcos seljúcidas 19 anos depois causou duas novas ondas migratórias de armênios para a Cilícia. Diante destes acontecimentos, estando os armênios sob ocupação estrangeira, a imigração armênia para a Cilícia tornou-se um importante movimento sócio-político. Ali, sob o Império Bizantino, os armênios alçaram postos importantes, como oficiais militares, governadores e responsáveis pelo controle de importantes cidades da fronteira oriental do Império. O estabelecimento das populações armênias, inclusive com o estabelecimento de grandes clãs armênios, muitos deles compostos por famílias que tradicionalmente ocuparam o trono armênio, fez com que a Cilícia passasse a ser chamada a "Pequena Armênia" ou "Nova Armênia". Neste contexto, a situação dos armênios mostrava-se mais favorável na Cilícia do que na Grande Armênia, fazendo com que a Santa Sé da Igreja Armênia também deixasse Etchmiadzin e acompanhasse a população, mudando para Sivas, na Cilícia, em 1058. O Katholikosato Armênio (palavra que descreveria a sede do Katholikós) ainda mudaria para Tavblloor (1062) e Dzamendav (1066) quando a "Nova Armênia", por fim, tornou-se um Principado em 1080.
Em 1116, a Santa Sé da Cilícia mudou-se para Dzovk, permanecendo aí até 1149, quando mudou-se para Hromgla. Como a Grande Armênia permanecia sob ocupação, o Principado Armênio da Cilícia (a "Nova Armênia") havia se tornado verdadeiro símbolo de resistência e reduto do nacionalismo armênio. Isso se intensificou de tal forma que então, em 1198, com a coroação de Leão, o Magnífico, da dinastia Rubenida (descendente de Ruben), a Armênia Cilícia tornava-se um Reino, cuja capital seria Sis (atual Kozan, na Turquia). Quase 100 anos depois, em 1293, também a sede da Igreja Armênia Apostólica mudava-se, dessa vez definitivamente, para a Capital do Reino Armênio da Cilícia, a cidade de Sis.
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A Sede do "Katholikosato" da Santa Sé da Cilícia |
Após a queda do Reino Armênio da Cilícia, no ano 1375, a Igreja Apostólica Armênia assumiu também o papel de liderança nacional, tendo seu Kathólikos, a partir de então, reconhecido como "Etnarca" (Chefe da Nação). Essa responsabilidade nacional ampliou consideravelmente o escopo da missão da Igreja Armênia.
UNIÃO DA IGREJA APOSTÓLICA ARMÊNIA COM A SANTA SÉ ROMANA
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Concílio de Florença |
A Sé da Igreja Armênia, centro histórico e espiritual do Cristianismo Armênio, era a Catedral de Etchmiadzin. No entanto, como vimos, devido a fatores diversos, a Sede do Kaatholikosato, assim como seu Kathólikos, haviam se mudado desde o século XII para a Armênia Cilícia, estabelecendo ali a Santa Sé da Cilícia. Pois bem, durante o período do Reino Armênio da Cilícia, houve uma grande aproximação dos armênios com os ocidentais, sobretudo por meio dos cruzados. Nesse período, os armênios chegaram a adotar alguns costumes ocidentais, como por exemplo as cavalarias, certas vestimentas e mesmo prenomes, além da estrutura social que aproximou-se do feudalismo.
Obviamente, essa interação também favoreceu o diálogo entre os cristãos armênios e ocidentais. Para se ter uma ideia, várias missões franciscanas provenientes de Roma (incluindo a do Beato João de Montecorvino, em 1279) foram enviadas à Cilícia Armênia para ajudar nessa aproximação. O próprio Rei Hetum II da Armênia tornar-se-ia monge franciscano depois de abdicar do trono. Outra figura proeminente do povo armênio e que era parte do movimento que defendia a unificação com a Igreja Latina era o historiador armênio do século XIV, Nerses Balients, que também tornou-se franciscano.
Em 1431 foi convocado pelo Papa Martinho V um Concílio Ecumênico, a princípio realizado em Basileia, depois transferido para Ferrara em 1439 já sob o Papa Eugênio IV e definitivamente para Florença, ainda em 1439. Este Concílio tinha como objetivo principal a reconciliação com a Igreja Grega (Ortodoxa) e também com as demais Igrejas em cisma: a Ortodoxia Oriental (Coptas, Siríacos "Jacobitas" e Armênios) e também com os Nestorianos (Assírios-Caldeus). Sendo assim, o Papa Eugênio IV convidou também aos Armênios, que de bom grado aceitaram ao convite e enviaram uma delegação ao Concílio. Com a aproximação entre os Armênios da Cilícia e os Latinos, conforme há pouco descrito, havia grande desejo de união por parte de muitos, embora uma outra considerável parcela do clero e povo armênio era contrário à união com a Igreja Latina.
Ainda assim, a união foi realizada no Concílio! Finalmente a Igreja Armênia reafirmava sua plena comunhão com a Santa Sé Romana e o Sumo Pontífice, sucessor de Pedro! Tal união foi celebrada na Bula "Exultate Deo", de 22 de novembro de 1439, promulgada pelo Papa Eugênio IV na oitava sessão do Concílio de Florença. Findava-se assim quase mil anos de separação e a Igreja Armênia voltava a integrar plenamente a Igreja Católica.
A IGREJA ARMÊNIA NOVAMENTE SE SEPARA: ESTABELECEM-SE DOIS "KATHOLIKOSATOS" (PATRIARCADOS) ARMÊNIOS
Embora não saibamos ao certo como fora a receptividade do povo armênio à confirmação da união com a Igreja latina, sabe-se que uma parte considerável se opôs, principalmente entre o clero que se encontrava na Grande Armênia. Imaginamos, portanto, que tenha havido divergência dentro da Igreja Apostólica Armênia sobre a aceitação da união com Roma. Ainda assim, em 1441, o Katholikós da Santa Sé da Cilícia reafirmou a união com a Santa Sé Romana. Ao que parece, isso foi o motivo para que houvera um cisma na Igreja Apostólica Armênia: um novo Katholikós foi eleito na Sé de Etchmiadzin, na pessoa de Kirakos I Virapetsi, embora continuasse existindo a Santa Sé da Cilícia em Sis e ainda reinasse o seu Kathólikos Gregório IX Mousabegian (esteve à frente da Sé da Cilícia até 1446).
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Kirakos I Virapetsi |
A partir de então, a Igreja Apostólica Armênia passou a ter como Sede Primacial novamente a Sé de Ecthmiadzin, ao passo que a Sé da Cilícia teria passado a ser marginalizada por ser Católica (em comunhão com Roma), embora ainda considerada como parte da Igreja Apostólica Armênia. Também não se sabe ao certo se Gregório IX Mousabegian teria sido convidado a mudar-se para Ecthmiadzin e recusado, e por isso ocorreu a eleição de um novo Katholikós naquela sede enquanto ele ainda estava vivo, ou se fora de fato a questão da comunhão com Roma, não aceita pela maior parte do clero da Igreja Apostólica Armênia, que tenha sido a motivação da eleição de um novo Katholikós em Etchmiadzin.
O fato é que, com o passar dos anos, o fim do Reino Armênio da Cilícia, a Sede da Igreja Apostólica Armênia novamente em Etchmiadzin e o "esfriamento" das relações entre a Igreja Armênia (Santa Sé da Cilícia) com a Igreja latina, fez com que a união com Roma esfriasse e praticamente "se esquecesse", ao passo que renovou-se entre as duas Sés Armênias. Não encontramos uma "data" para definir a partir de quando, mas o fato é que a Igreja Apostólica Armênia continuou a ser uma só, não mais em Comunhão com Roma, e dentro dela continuou a existir dois "Katholikosatos": A Igreja Mãe e Santa Sé de Etchmiadzin, que fora restabelecida como a sede da Igreja Apostólica Armênia, e a Santa Sé da Cilícia, ou simplesmente Grande Casa da Cilícia, que reconheceu a primazia à Sé de Etchmiadzin.
Desde então, na Igreja Apostólica Armênia o Katholikós residente na Igreja Mãe Sé de Etchmiadzin é reconhecido como o Patriarca Supremo de todos os armênios, ao passo que o Katholikós residente na Grande Casa da Cilícia detém um Patriarcado de honra sobre os demais bispos, clero e fieis apostólicos armênios, embora sua jurisdição - na prática - seja apenas sobre regiões específicas. Ainda assim, mesmo o "Katholikosato" da Grande Casa da Cilícia reconhecendo a primazia de Etchmiadzin, nessas regiões sob sua jurisdição, ele atua de maneira autônoma e independente da Sé mãe. Tal estrutura se mantém na Igreja Apostólica Armênia até nossos dias.
1740: NASCE O KATHOLIKOSATO DA CILÍCIA, DOS ARMÊNIOS CATÓLICOS
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Mosteiro e Sé Patriarcal Armênia Católica de Bzommar |
Embora a Igreja Apostólica Armênia, como vimos, não tenha perseverado na comunhão com Roma firmada no Concílio de Basileia-Ferrara-Florência, se afastando dela novamente, é provável que tal ideal tenha se mantido como uma chama que se alimenta, dentre alguns clérigos da Igreja Apostólica Armênia, o que resultaria nos acontecimentos seguintes.
Na China medieval, por exemplo, havia uma comunidade armênia em Pequim que se tornara católica por meio do Beato João de Montecorvino, além de uma comunidade armênia franciscana (de Rito Armênio) também em Quanzhou. Na Polônia, em 1630, o Bispo de Leópolis da Igreja Apostólica Armênia Nicholas (em Polonês, Mikolaj) Torosowicz juntamente com os armênios que viviam na Polônia, uniram-se à Igreja Romana e formaram a Eparquia (hoje Arquieparquia) Armênia Católica de Lviv. Estes foram alguns dos episódios que prefiguravam o que viria a seguir.
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Abrahan Ardvizian, que se tornaria o 1º Kathollikós Armênio Católico |
Em 12 de abril de 1679 nasceu, em Aintab (na Anatólia, atual Turquia), Abraham Ardvizian. Ainda jovem, foi aluno do Bispo Melkon Tazbazian, grande pregador que, posteriormente, tornar-se-ia católico e, durante sua formação como clérigo da Igreja Apostólica Armênia, auxiliou o Katholikós da Grande Casa da Cilícia, sendo ordenado sacerdote em 1706. Apenas quatro anos depois, em 1710, Abraham Ardvizian foi sagrado Bispo Apostólico Armênio de Alepo pelo Katholikós da Grande Casa da Cilícia, Hovhannes V. Pouco tempo depois, o Bispo Abraham Ardvizian manifestou seu desejo de comunhão com a Santa Igreja Romana, confessando-se católico. Por conta disso, passou a ser perseguido, exilado e por diversas vezes preso em diferentes prisões otomanas.
Em 1714, reuniu-se - juntamente com seu antigo mestre, o Bispo Tazbazian - aos armênios que haviam se convertido ao catolicismo, assim como aos que desejavam a comunhão com Roma. Reuniram-se em Constantinopla e após muito deliberar, decidiram que deveriam formar uma Igreja Armênia independente, que buscaria a unidade com a Igreja Católica Romana, escolhendo o Bispo Melkon Tazbazian como líder. A assembléia, no entanto, foi denunciada e todos foram presos, sendo os dois Bispos, Tazbazian e Ardvizian, condenados às galés, ali morrendo Melkon Tazbazian um ano depois.
Após ser brevemente libertado, o Bispo Ardvizian foi novamente preso, desta vez na Ilha Rouad, de 1719 a 1721. Ao conseguir sua liberdade, refugiou-se voluntariamente em Kreim, perto de Ghosta (Keserwan, Líbano). Ali, os irmãos Mouradian, armênios católicos de Aleppo, compraram uma propriedade para nela fundar um mosteiro armênio católico, a ser conduzido pelo Bispo Ardvizian. Em Kreim o Bispo permaneceu por 17 anos, período de seu exílio voluntário, onde estabeleceu a ordem dos monges armênios de Santo Antônio e construiu a Igreja do Mosteiro, além de gerenciar os assuntos relativos à sua Eparquia de Alepo através de seu vigário Hagop Hovsepian.
Em 1738, os armênios católicos de Alepo adquiriram uma igreja e conseguiram uma licença para que o Bispo Abraham Ardvizian pudesse regressar a Alepo, o que fez um ano depois (1739). Finalmente estabelecida a Sede do Bispo Armênio Católico, com Catedral, igrejas e Mosteiro próprio, os fieis Armênios Católicos passaram a alimentar a ideia de ter seu próprio "Katholikosato" Armênio (a partir de agora, para facilitar a compreensão, chamaremos Patriarcado), independente da Igreja Apostólica Armênia e em plena comunhão com a Santa Sé Romana. Sendo assim, já assentado em sua cátedra em Alepo, com a ajuda de Bispos Greco-católicos (bizantinos), o Bispo Abraham Ardvizian sagrou bispo a seu vigário Hagop Hovsepian e a dois outros padres armênios católicos. Este pequeno sínodo, composto de quatro bispos, por sua vez, elegeu em 26 de novembro de 1740 a Abraham Ardvizian como o Primeiro Katholikós da Cilícia dos Armênios Católicos.
O Santo Padre, Papa Bento XIV, o confirmou como o Primeiro Kathólikos da Cilícia dos Armênios Católicos, Sua Beatitude Abraham Bédros I Ardvizian (acrescentou-se a seu nome o título de "Bédros", isto é, "Pedro" - a que chamaremos a partir de agora "Petros" para facilitar), tradição mantida até nossos dias quando eleito um novo Patriarca Armênio Católico. Ali também o Papa Bento XIV concedeu-lhe o "Palium", sinal de comunhão com o romano pontífice.
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO PATRIARCADO
O Patriarcado Armênio Católico, iniciado por Sua Beatitude Abraham Petros I Ardvizian, embora ratificado canonicamente segundo o regime clerical da Santa Igreja Romana, para o domínio do Império Otomano continuava sendo ilegal e, por isso, objeto de atividades governamentais permanentes. Apesar das intervenções das embaixadas europeias, com o objetivo de obter uma soberania, não conseguiu paz, sobrevivendo o Patriarcado Armênio Católico em meio a perseguições e ingerências por parte dos Otomanos.
Foi o começo de uma verdadeira epopeia. Cansado de tantas perseguições, inclusive dos anos passados entre entradas e saídas de cárceres otomanos, Sua Beatitude Abrahan Petros I Ardvizian lutou bravamente para cumprir sua missão à frente do Patriarcado Armênio Católico. Antes de sua morte, nomeou seu sucessor, a seu antigo vigário, o Bispo Hagop Hovsepian. Então, acompanhado por 6 bispos, alguns sacerdotes e 22 monges armênios de Santo Antônio, entregou a Deus seu espírito em 1 de outubro de 1749.
1749 a 1866: A SEDE DO PATRIARCADO DA CILÍCIA DOS ARMÊNIOS CATÓLICOS EM BZOMMAR (LÍBANO)
O novo Katholikós da Cilícia dos Armênios Católicos, Sua Beatitude Hagop Petros II Hovsepian, dando continuidade ao desejo do falecido Katholikós Ardzivian, continuou a construção do mosteiro de Bzommar, nas montanhas libanesas. Ao concluí-lo, em 1749, transferiu a sede do Patriarcado Armênio Católico de Kreim para lá (o que permaneceria até o ano de 1866). Ele foi o Katholikós Armênio Católico até 1753, sendo sucedido por Sua Beatitude Michael Petros III Kasparian.
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Mosteiro Patriarcal de Bzommar |
Responsável pela ampliação do Mosteiro de Bzommar, assim como pela construção de sua Igreja, tornando esse complexo monástico a maior construção das montanhas, Sua Beatitude Michael Petros III Kasparian constatou a necessidade de missionários que levassem a mensagem da Igreja Armênia Católica aos países vizinhos. No entanto, decidiu que eles não deveriam ser membros da Ordem de Santo Antônio, que por serem monges não deveriam ter seu carisma monástico alterado, além de o mosteiro ser a fonte de onde deveriam sair aqueles que seriam eleitos Katholikós. Sendo assim, formou missionários entre o clero armênio secular. Dirigiu a Igreja até 1780.
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Basilio Petros IV Avkadian |
O quarto Katholikós Armênio Católico da Cilícia foi um monge do grupo inicial de monges armênios católicos da Ordem de Santo Antônio, tendo servido, portanto, aos 3 Katholikós anteriores por 40 anos antes de tornar-se bispo. Eleito Katholikós, tomou o nome de Basílio Petros IV Avkadian. Dizia-se dele que, mesmo Bispo e depois Katholikós, "nunca tirou o hábito monacal". Foi o Katholikós até 1788.
Ainda governaram a Igreja Armênia Católica a partir da sede do Patriarcado em Bzommar mais 4 Katholikós: Gregório Petros V Kupelian, de 1788 a 1812; após uma vacância de 3 anos, Gregório Petros VI Djeranian, de 1815 a 1841; Hagop (ou Jacob) Petros VII Holassian, de 1841 a 1843; Por fim, Gregório Petros VIII Derasdvazadourian, de 1844 a 1866.
1866/87 a 1928: A SEDE DO PATRIARCADO É TRANSFERIDA PARA CONSTANTINOPLA
O chefe da Igreja Armênia Católica sempre fora chamado "Katholikós" desde a formação da Igreja Armênia Católica em 1740 e sua confirmação pela Sé Romana em 1742.
Em 1830, após a derrota turca pelos aliados franceses, austríacos e russos, no tratado de Saint Stefan, os austríacos introduziram uma condição que obrigava os turcos a aceitar a criação da "sede do Patrik" (que mais tarde seria traduzido para "Patriarca") para os católicos armênios. O "Patrik" seria o chefe de toda a comunidade armênia católica residente no Império Otomano. Sua chefia era geral, não apenas religiosa ou eclesiástica, por isso poderia ser um bispo, padre ou mesmo leigo. Como era de se esperar, tornou-se costume que sempre fosse o Bispo Armênio Católico de alguma eparquia dentro do Império. O "Patrik" era escolhido dentre os mais proeminentes armênios católicos e então o sultão costumava confirmar sua eleição. Como se vê, nada tinha relação com o Katholikós ou o Sínodo Armênio Católico.
Após a morte do 8º Katholikós, Gregório Petros VIII Derasdvazadourian, o Sínodo da Igreja Armênia Católica elegeu o então Arcebispo Antoun Hassoun como o novo Katholikós da Igreja Armênia Católica. Acontece que ele, neste momento, já era o Bispo da Arquieparquia Armênia Católica de Constantinopla e - principalmente - o Patrik dos armênios católicos de todo o Império Otomano. Diante dessa situação, o Papa Pio IX observou que a autoridade do Patrik de Constantinopla, na prática, era mais extensa que a autoridade do Katholikós que se encontrava no Líbano, pois abrangia todo o território do Império Otomano. Sendo assim, ele fez publicar o decreto intitulado "Reversurus", que unia o Katholikosato sediado em Bzommar (Líbano) com a sede do Patrik de Constantinopla. Sendo assim, a partir de 1867, os dois títulos - Katholikós e Patriarca (antigo "Patrik") - foram unidos na pessoa do chefe da Igreja Armênia Católica e a sede do Katholicosato-Patriarcado, transferida para Constantinopla.
Em Constantinopla (atual Istambul, Turquia), a Sé da Igreja Armênia Católica foi conduzida por cinco Patriarcas-Katholikós:
- Andoun Petros IX Hassoun (1866 a 1881), também criado pelo Santo Padre o Papa Pio IX o primeiro Cardeal Armênio Católico, em 1880;
- Stephano Petros X Azarian, do ano 1881 a 1899: durante seu governo, Sua Santidade o Papa Leão XIII fundou o Pontifício Colégio Armênio, em Roma;
- Boghos Petros XI Emmanuelian, do ano 1899 a 1904;
- Boghos Petros XII Sabbaghian, de 1904 a 1910, e por fim,
- Boghos Petros XIII Terzian, de 1910 a 1931.
1928: APÓS O GENOCÍDIO ARMÊNIO, O RETORNO DA SEDE DO PATRIARCADO AO LÍBANO
Durante o reinado do Patriarca Katholikós Boghos Petros XIII Terzian, ocorreu o triste episódio conhecido na história como o Genocídio Armênio. Também conhecido por Holocausto Armênio, Massacre Armênio ou Medz Yeghern, isto é, "O Grande Crime", foi o extermínio sistemático pelo governo Otomano de seus súditos armênios, minoritários dento de sua pátria histórica, que se encontra dentro do território que hoje corresponde à atual República da Turquia.
O número total de mortos vítimas do genocídio foi estimado entre 1.300.000 (para os mais otimistas) e 3 milhões de pessoas. O dia 24 de abril de 1915 é convencionalmente considerado o início do massacre, quando as autoridades otomanas caçaram, prenderam e executaram 250 armênios, líderes intelectuais, comunitários e religiosos, em Constantinopla. O genocídio ocorreu entre, durante e após a Primeira Guerra Mundial, sendo que sua "primeira fase" ocorreu por meio da matança de uma grande parte da população masculina saudável, enquanto outra parte era obrigada a trabalhos forçados e servir no exército.
A "segunda fase" constituiu-se de uma deportação das mulheres e crianças, idosos e enfermos, em "marchas da morte", onde eram escoltados até o deserto da Síria, privados de comida e água. Milhares caíam mortos durante o caminho. Os que sobreviviam eram submetidos a roubos, estupros e não raramente, a massacres e atrocidades (fuzilamentos, crucificações, afogamentos, decapitações, etc...).
Outras minorias cristãs também foram perseguidas neste evento, como os Assírios étnicos (assírios-caldeus, siríacos) e os gregos do Ponto. Este triste evento, que durou até meados de 1925, foi o responsável pela dispersão dos Armênios pelo mundo, assim como dos demais cristãos étnicos perseguidos, fazendo com que encontremos uma grande população de armênios, tanto católicos quanto apostólicos (pré-calcedonianos), na diáspora. A sede do Patriarcado da Cilícia dos Armênios Católicos, por sua vez, também transferiu-se em 1928, de Constantinopla para Beirute, no Líbano, onde permanece até nossos dias.
BEATO INÁCIO MALOYAN, MÁRTIR DO GENOCÍDIO ARMÊNIO
Shoukrallah Maloyan nasceu em Mardin (Império Otomano, atual Turquia) em 08 de abril de 1869. Aos 14 anos, foi enviado por seu pároco - que nele notou sinais de vocação sacerdotal - ao Mosteiro Patriarcal de Bzommar. Em 06 de agosto, festa da Transfiguração do Senhor, foi ordenado sacerdote e adotou o nome religioso de Inácio, em homenagem a Santo Inácio de Antioquia. Durante os anos de 1897 a 1910, o Padre Inácio Maloyan serviu como pároco aos armênios católicos em Alexandria e Cairo (Egito), onde sua fama de sacerdote exemplar se espalhou. Em 1906 fora nomeado pelo Patriarca Katholikós Boghos Petros XII Sabbaghian como seu assistente, no entanto, uma doença que lhe acometeu acabou forçando-o a retornar ao Egito, onde permaneceu até 1910.
Em 22 de outubro de 1911, o Sínodo dos Bispos Armênios Católicos, que se encontrava reunido em Roma, o consagrou Arcebispo de Mardin, sua terra natal. O Arcebispo Maloyan regressou à sua cidade planejando renovar a Diocese que se encontrava praticamente destruída, encorajando especialmente a devoção ao Sagrado Coração.
No verão de 1915 iniciou-se o Genocídio Armênio também em Mardin. Sob a direção do chefe de polícia, Mahmdouh Bey, quase todo o clero e fieis de sua Arquidiocese, juntamente com o Arcebispo Maloyan, foi forçado a marchar para o deserto. Ao chegarem a uma vila Curda, Aderchek, o exército turco-otomano obrigou que 100 deles fossem levados para cavernas próximas dali. Um por um, os membros do "grupo dos 100", padres e fieis armênios católicos da Arquieparquia de Mardin, foram sendo fuzilados. Enquanto assistia ao massacre de seus padres e fieis, o chefe da polícia ofereceu poupar a vida ao Arcebispo Maloyan, se ele se convertesse ao Islã. O Arcebispo prometeu lealdade ao sultão em todas as questões puramente civis. Mas acrescentou:
"Eu disse e repito: vou viver e morrer pelo bem de minha Fé e Religião. Orgulho-me da Cruz do meu Deus e Senhor!"
Isso enfureceu sobremaneira o chefe da polícia, Mahmdouh Bey, que ordenou aos soldados que partissem com o Arcebispo Maloyan para um vale, que ficava a cerca de 4 horas de caminhada dali onde estavam. Talvez pensasse que o Arcebispo mudaria de ideia.
Lá chegando, os 200 armênios restantes, padres e fieis do rebanho de Maloyan, foram executados. O chefe de polícia então, vendo que o Arcebispo tinha a mesma Fé e decisão demonstrada anteriormente, quis ele mesmo executar ao Arcebispo Inácio Maloyan, que sucumbiu às balas por amor à Cristo. Era o dia 10 de junho de 1915.
A população curda retirou as roupas dos corpos das vítimas, que permaneceram intocados até que, 5 horas depois do ocorrido, foram banhados em gasolina e queimados.
O Arcebispo Armênio Católico Inácio Maloyan foi beatificado em 07 de outubro de 2001, na Basílica de São Pedro, por Sua Santidade o Papa João Paulo II.
OS CATÓLICOS ARMÊNIOS PELO MUNDO
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Catedral de São Gregório, Toronto (Canadá) |
Após a transferência, em 1928, da Sede do Patriarcado Armênio Católico para a Catedral de Santo Elias em Beirute, no Líbano (o Mosteiro de Bzommar também é considerada uma "Sede" do Patriarcado, onde se realizam os Sínodos, etc.), estiveram à frente da Igreja Armênia Católica mais sete Patriarcas Katholikós:
- Avedis Petros XIV Arpiarian, de 1931 a 1937;
- Gregório Petros XV Agagianian, de 1937 a 1962.
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Sua Beatitude Cardeal Gregório Petros XV Agagianian
Katholikós Patriarca da Cilícia dos Armênios Católicos |
Também ele foi criado Cardeal pelo Santo Padre o Papa Pio XII, tendo diversas funções importantes na cúria romana. Amigo do Papa, que por sua vez amava os Ritos Orientais, a pedido dele celebrou a Missa Pontifical em Rito Armênio, na Capela Cistina. Conta-se que foi um dos chamados "papábiles", isto é, sérios candidatos à eleição como Papa, no Conclave de 1963. Em 2020 foi oficialmente aberta a causa de sua beatificação;
- Inácio Petros XVI Batanian, de 1962 a 1976;
- Hermaig Petros XVII Ghedighian, de 1976 a 1982;
- João Petros XVIII Kasparian, de 1982 a 1999;
- Nerses Petros XIX Tarmouni, de 1999 a 2015;
No último ano de seu reinado, foi recordado dolorosamente os 100 anos do Genocídio Armênio. Sua Beatitude Nersés Petros XIX Tarmouni celebrou nessa ocasião uma Santa Missa Pontifical em Rito Armênio na Basílica de São Pedro, em presença de Sua Santidade o Papa Francisco. Também estiveram presentes os Katholikós da Igreja Apostólica Armênia, Karekin II, Patriarca Supremo da Igreja Apostólica Armênia, e Aram I, Patriarca da Grande Casa da Cilícia;
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Nerses Petros XIX Tarmouni, Aran I, Papa Francisco e Karekin II |
- Gregório Petros XX Gabroyan, atual Patriarca Katholikós da Cilícia dos Armênios Católicos;
Existem muitos Armênios Católicos na diáspora, sobretudo após as recentes perseguições há pouco descritas e que fizeram com que famílias e mesmo comunidades inteiras de armênios imigrassem para outros países em busca de refúgio, emprego e melhores condições de vida. A maior parte dos armênios católicos encontra-se na Armênia, Georgia, Albânia, entre países da Ásia e do Leste Europeu (em torno de 600 mil). Os demais estão espalhados pelo mundo, tanto em países orientais (Líbano, Síria, Iraque, Egito, Palestina, etc.) como Europa e América. Exemplos de países onde há grandes comunidades é nos Estados Unidos (em torno de 40 mil) e Canadá (30 mil, aproximadamente). Vieram juntamente com as ondas de imigrantes provenientes de países árabes nos anos 70 e, mais recentemente, também da América Latina, devido às crises econômicas. Outro país onde também há uma grande quantidade de armênios católicos é na França (cerca de 30 mil) e na Rússia, além de alguns milhares espalhados pela América Latina, principalmente Argentina, Uruguai e Brasil, além de México, Venezuela e Chile.
RAPHAËL BEDROS XXI MINASSIAN
Atual Patriarca Katholikós da Cilícia dos Armênios Católicos
Dom Raphaël Minassian nasceu em 24 de novembro de 1946, em Beirute. Foi eleito Patriarca da Cilícia dos Armênios, em Roma, no Sínodo dos Bispos da Igreja Patriarcal da Cilícia dos Armênios, convocado pelo Papa Francisco.
O Sínodo dos Bispos da Igreja Armênia Católica, convocado pelo Papa Francisco, em Roma, ocorrido entre ontem e hoje (22 e 23 de setembro) elegeu Catholikos Patriarca da Cilícia dos Armênios a Dom Raphaël François Minassian, até então Arcebispo Titular de Cesaréia da Capadócia dos Armênios e Ordinário dos fiéis armênios católicos do Leste Europeu.
O eleito assumiu o nome de Sua Beatitude Raphaël Bedros XXI Minassian.
Sua beatitude nasceu em 24 de novembro de 1946, em Beirute. Estudou no Seminário Patriarcal de Bzommar (1958 - 1967) e estudou filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (1967 - 1973). Fez um curso de especialização em psicopedagogia na Pontifícia Universidade Salesiana.
Em 24 de junho de 1973, foi ordenado sacerdote como membro do Instituto do Clero Patriarcal de Bzommar. De 1973 a 1982, foi pároco da Catedral Armênia em Beirute, de 1982 a 1984, secretário do Patriarca Hovannes Bedros XVIII Kasparian, e de 1984 a 1989, responsável pela fundação do centro paroquial da Santa Cruz em Zaika, Beirute.
De 1975 a 1989, foi juiz no Tribunal Eclesiástico da Igreja Armênia em Beirute. Ensinou Liturgia Armênia na Pontifícia Universidade de Kaslik de 1985 a 1989 e ainda em 1989 foi transferido para os Estados Unidos, onde por um ano trabalhou como pároco em Nova York. Posteriormente, até 2003, ele foi pároco dos católicos armênios na Califórnia, Arizona e Nevada.
A partir de 2004, dirigiu a Telepaz Armênia, da qual é fundador. Em 2005, foi nomeado Exarca Patriarcal de Jerusalém e Amã para os armênios católicos. Em 24 de junho de 2011, foi nomeado Ordinário para os fiéis católicos armênios da Europa Oriental, com a atribuição pelo Santo Padre da Sé titular episcopal de Cesaréia da Capadócia para os Armênios e do título de Arcebispo Ad Personam.
E hoje, 23 de setembro de 2021, foi eleito o novo Cathólikos Patriarca dos Armênios Católicos.
ORGANIZAÇÃO DA IGREJA ARMÊNIA CATÓLICA
O falecido Katholikós Patriarca dos Armênios Católicos, Sua Beatitude Gregório Petros XX Gabroyan, preside o Patriarcado da Cilícia, cuja sede é a Catedral de Santo Elias, na capital do Líbano, Beirute. Também há a sede histórica do Mosteiro Patriarcal de Bzommar, localizada nas montanhas libanesas.
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Catedral Patriarcal de Santo Elias, Beirute - Libano |
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Bzommar - Mosteiro Patriarcal e Sede da Igreja Armênia Católica |
Sua Beatitude Raphaël XXI Minassian lidera espiritualmente toda a Comunidade Armênia Católica ao redor do mundo. A comunidade também inclui, além do Patriarcado da Cilícia:
- A Arquieparquia Patriarcal de Beirute - Líbano
- A Arquieparquia de Alepo - Síria
- A Arquieparquia de Bagdá - Iraque
- A Arquieparquia de Instambul (Constantinopla) - Turquia
- A Arquieparquia de Lviv - Ucrânia
- A Eparquia de Ispahan - Irã
- A Eparquia de Alexandria/Cairo - Egito
- A Eparquia de Al Qamishli - Síria
- A Eparquia de Nossa Senhora de Narek - Canadás e Estados Unidos
- A Eparquia da Santa Cruz de Paris - França
- A Eparquia de São Gregório de Narek - Argentina
- O Exarcado Apostólico para a América Latina
- O Ordinariato para a Grécia
- O Ordinariato para a Romênia
- O Ordinariato para a Europa Oriental (exceto Romênia)
- O Exarcado Patriarcal de Damasco - Síria
- O Exarcado Patriarcal para a Jordânia e Terra Santa
Além disso, a Igreja Armênia Católica conta com algumas paróquias e comunidades espalhadas pelo mundo onde, por não haver grande concentração de armênios católicos em alguns lugares específicos, formando pequenas comunidades dispersas, estas encontram-se sob jurisdição direta do Patriarcado ou então sob responsabilidade das Dioceses latinas onde estão inseridas.
A LITURGIA ARMÊNIA CATÓLICA
A Igreja Armênia Católica utiliza o Rito Armênio, comum também à Igreja Apostólica Armênia. Este Rito, embora seja um rito único e próprio da Igreja Armênia, tem suas raízes na antiga tradição da Liturgia de São Tiago (Rito de Jerusalém-Antioquia), com influências do Rito Bizantino e também Latino.
Na formação do Rito Armênio, grande influência recebeu das práticas litúrgicas de Cesareia da Capadócia, que por sua vez era proveniente do Rito Antioqueno. Cesareia teve grande influência na formação da Igreja Armênia - inclusive litúrgica - desde seu início: como vimos, o próprio São Gregório Iluminador, primeiro Katholikós e considerado o pai da Liturgia Armênia, viveu em Cesareia e lá foi Sagrado Bispo.
Algumas características marcantes da Liturgia Armênia são os belos paramentos, a música litúrgica (ou Liturgia cantada) e a seriedade e solenidade da celebração litúrgica, envolta em clima de grande misticismo que se traduzem em alguns símbolos: não há iconostase, mas sim uma cortina que se abre e fecha em determinados momentos da Liturgia. "Calçados litúrgicos" são usados por aqueles que subirão no presbitério, etc...
Outra característica do Rito Armênio que se observa não apenas na Igreja Armênia Católica, mas também na Igreja Apostólica Armênia, é que a Eucaristia celebra-se com pão ázimo (hóstia, sem fermento) e os bispos utilizam mitra ao estilo latino. Essas certamente são influências latinas, sobretudo do período de presença dos cruzados no Reino Armênio da Cilícia. Por outro lado, os sacerdotes usam uma especie de coroa que se assemelha à mitra dos bispos orientais, o que pode confundir um observador ocidental desavisado.
A IGREJA ARMÊNIA CATÓLICA NO BRASIL
Imagina-se que os armênios passaram a se fazer presentes no Brasil já a partir das ondas migratórias dos primeiros árabes (sírios, libaneses, etc.) que aqui chegaram, já em meados de 1870. No entanto, a certeza da chegada dos armênios em nosso país, sobretudo no estado de São Paulo, se deu a partir das perseguições turco-otomanas que resultaram no Genocídio Armênio, como vimos, entre 1915 e 1930. A primeira Igreja própria, hoje Catedral Armênia Católica de São Gregório Iluminador, iniciou-se de uma missão chamada "Capelania da Missão Armênia Católica", iniciada com a chegada do Padre Vicente Davidian em 1935. A princípio, usavam a Igreja de São Cristóvão, no Bairro da Luz.
Foi somente em 1971 que foi construída a Catedral de São Gregório Iluminador, localizada na Avenida Tiradentes, 718, no bairro do Luz, muito próximo ao Bairro Armênia e às estações do metrô Tiradentes (fica ao lado) e Armênia (antiga estação "Ponte Pequena"). Estes bairros passaram a receber grande número de Armênios, que buscavam regiões mais baratas para se estabelecerem, resultando em tamanho crescimento da comunidade armênia nessa região da capital paulistana, ao ponto de ter uma estação de metrô e o bairro onde ela se encontra, renomeados como "Armênia".
Na Catedral de São Gregório Iluminador, as Santas Missas em Rito Armênio são celebradas todos os domingos, às 11h00. Vale muito a pena conhecer!
Esperamos que com este simples artigo, possamos - de alguma forma - contribuir para que mais e mais católicos conheçam e amem as riquezas do Oriente Católico, o lado oriental da Santa Igreja Católica.
Viva a Igreja Armênia! Viva a Igreja Católica!